sexta-feira, 31 de dezembro de 2004
Celebrar
último post do ano... passado um ano... continuo a estar aqui... não no mesmo lugar... (sempre) com outros éfemeros que se vão construindo...
Não porque acabe, não porque se descontinue, mas porque a aparência passa, dilue-se, é a sua essência que vai ficando, encadeando-se num ser maior...
com um sorriso...
domingo, 26 de dezembro de 2004
Pensamento de Natal... (ou depois de casa roubada... trancas à porta!)
sábado, 25 de dezembro de 2004
Há exactamente um ano...
talvez porque
Lá fora ERA noite de Natal
Um ano passado...
"Lá fora é noite de Natal"... Mas aqui, dentro de mim, hoje é noite de Natal...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2004
É Natal...
sombras?
terça-feira, 21 de dezembro de 2004
Solstício de Inverno
Mais sol, mais energia para fazer, para partilhar, para viver.
Tomara que estes dez dias que faltam até ao fim do ano sejam compridos... para que uma das minhas metas ... intermédias... seja cumprida... e bem... por isso há que ir escrever e pensar... ou pensar e escrever... não aqui, para outro lugar, talvez tão efémero quanto este, talvez um pouco menos virtual...
Apesar da ausência, sei que volto pelo gosto de escrever... só preciso ter um pouco mais de tempo, de um pouco mais de disponibilidade... para seguir ao sabor dos ventos... o caminho das palavras soltas...
quarta-feira, 15 de dezembro de 2004
Regresso
No fim, o que conta mesmo é a satisfação interior, regista-se os agradecimentos dos 'grandes', o silêncio dos mediocres... e a memória dos pequenos gestos de vida... e que os outros usufruam...
segunda-feira, 29 de novembro de 2004
Canção de uma tarde de outono...
nas águas, na noite, fechei os olhos… surgiste… e abraçaste-me… no silêncio.
foste o meu sonho sonhado… és.
és a canção que um dia cantei…
Leva-me mais uma vez, e mais outra, e outra ainda… pela noite, pelos dias…
até ao teu coração… límpido...
quero ser a tua princesa…
Obrigadinha, pá!...
São os poderosozinhos com os seus poderzinhos pessoais, achando-se tão grandes... tão importantes... tão cheios de...
segunda-feira, 22 de novembro de 2004
Da vontade urgente...
Como em todas as urgências geram-se planos de ponderada imprevisibilidade...
Traçando linhas... riscos numa vida urgente... (e na urgência sabe bem pousar a cabeça no teu ombro e descansar, (re)temperando forças... ideias... e mais e novas urgências...)
sexta-feira, 19 de novembro de 2004
segunda-feira, 15 de novembro de 2004
embaranhados...
Terapêutica: não desesperar. tentar relaxar. respirar fundo. viver os próximos momentos como únicos, torná-los especiais na sua simplicidade. Afinal são só linhas, pontos... manchas de tinta...
quarta-feira, 10 de novembro de 2004
Um pardal no chão de um café
terça-feira, 9 de novembro de 2004
pequena carta ao meu amor
Lembras-te do que te disse ontem? É apenas um pouquito do muito que sinto. Que te quero dar. sorrindo. sempre. perto de ti.
quarta-feira, 3 de novembro de 2004
Qualidade de vida urbana...
Numa nova manhã de chuva... resta esperar melhores andamentos... e notícias internacionais mais animadoras.
quinta-feira, 28 de outubro de 2004
É fácil
É fácil criticar negativamente, destrutivamente.
É fácil julgar a partir de meia dúzia de dados, de palavras, de 'imagens'.
É fácil o preconceito. Mesmo antes de pensar, sentir, já se sabe 'tudo'.
É fácil a dúvida. A dúvida que magoa. por ilegítima. por infundada.
É fácil considerar o outro como aparência.
É fácil ver os outros como nos vemos a nós próprios.
Difícil... é, por vezes, tão difícil estar com os outros de uma forma pura, dando-nos, abertamente. Recebendo-os como eles são. Tentando sentir o seu sentir mais profundo. Olhando-os como pares, como seres plenos de uma vida inteira, interior e exterior, sempre rica, sempre complexa, sempre sofrida, cada um à sua maneira. E, contudo, poderia ser tão fácil, tão simples... somos só... seres humanos...
segunda-feira, 25 de outubro de 2004
fragilidades de vida
quarta-feira, 20 de outubro de 2004
Espera
domingo, 17 de outubro de 2004
Gosto de Ti.
Mas pode-se amar sem gostar.
Pode-se gostar sem amar.
Pode-se Gostar mais do que apenas gostar.
e divagando... há também...
o "gosto de ti" e o teu "gosto"... o gosto a Ti.
quarta-feira, 13 de outubro de 2004
nas mãos
sábado, 9 de outubro de 2004
Les amoreaux
Willy Ronis
sexta-feira, 8 de outubro de 2004
Agradecimento ao Weblog.pt
E mesmo na incerteza de ser "o post do momento", compreensível face a tantas ocorrências e polémicas actuais - extra ou intra-blogosfera - deste início de Outubro, os responsáveis da Weblog - Luís Ene e Paulo Querido - resolveram destacá-lo...
Quem sabe se, porque por vezes, quando estamos face à sordidez, a incongruências, a tentativas de manipulação e de abuso, nada melhor do que nos refugiarmos em algo que nos proporcione alguma liberdade... criativa... Terá sido?
segunda-feira, 4 de outubro de 2004
contraponto
sábado, 2 de outubro de 2004
terça-feira, 28 de setembro de 2004
Teu nome
Quando te penso, em ausência, por vezes não me lembro do teu nome. Lembro apenas. Lembro de Ti. Todo. do calor. do sorriso. do som da voz. do gesto terno. sem nome. porque não há nome tão grande assim. porque não há nome para este sentir. Como não há nome para a cor do oceano. Podemos chamá-lo de azul... mas esse nome diz tão pouco do mar, do infinito mar...
quinta-feira, 23 de setembro de 2004
quarta-feira, 22 de setembro de 2004
Espectros do fim de um dia… passado.
terça-feira, 21 de setembro de 2004
Ada Negri
Multidão
Uma folha tomba do plátano, um frémito sacode o cimo do cipreste, És tu que me chamas.
Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.
Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me atraem,
És tu que me queres.
De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.
Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta-o a vertigem obscura
És tu que me atravessas, tu.
Aquele Que Passa
O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de amor,
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando, em ti já não bela, em ti já não jovem, o aroma precioso do deus:
Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.
in Poesia do Século XX, tradução de Jorge de Sena, Fora do Texto, Coimbra, pgs. 161,162
retirado de http://www.terravista.pt/Guincho/2482/adanegri.html
quinta-feira, 16 de setembro de 2004
águas partidas
Em represas presas águas
julga-se que dali não fogem
nem partem
Falsa idade
gotas meninas de infância
até ao mar, até ao gira-sol
imperceptíveis
por serem águas tão-só
serem mães de arcos de mil íris
ventres de flor de sal
salgas desejos marinhos
terça-feira, 14 de setembro de 2004
sagração
sobre os céus que se tornaram rosas ou lilases, flores que não houveram,
apenas a planta seca à beira do caminho das pedras, de seu nome alcachofra
cardo selvagem sem espinhos ao contrário das perfumadas
sob as lajes do forte, entre as muralhas ouviram-se ecos de outrora
de batalhas e cerimónias e de festejos – faltaria talvez a caleche ou o corcel que nos levassem em glória
porquê se ainda tão pouco fizemos? ainda falta tanto … uma vida, quem sabe…
foi há mais de uma semana no cima do ermo, tendo por testemunha tudo o que já foi
ou será mais eterno do que nós
e querendo-o ser, prometemo-nos.
mais que elos prata feitos de ouro
olhares constantes.
quinta-feira, 26 de agosto de 2004
paisagem alentejana pós-moderna
Amanhã será assim.
Finalmente, férias!
domingo, 22 de agosto de 2004
nós
quinta-feira, 19 de agosto de 2004
peças de vida
Todo-o-mundo
Eu hei nome Todo-o-Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro,
e sempre nisto me fundo
Ninguém
Eu hei nome Ninguém
e busco a consciência
Berzebu
Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.
Dinato
Que escreverei, companheiro?
Berzebu
Que Ninguém busca consciência
e Todo-o-Mundo dinheiro"
Gil Vicente - Auto da Lusitânia
Há cerca de 60 anos, um homem e um mulher conheceram-se. Representaram esta peça, em teatro amador. Desde que me dou como gente lembro-me desta história, deste trecho, repetida porque ainda, e sempre actual, repetida porque tem a ver com momentos únicos, de amantes.
Ontem encontrei exactamente este excerto, impresso, no meio de milhares de papéis antigos, que investigava, no trabalho. Ontem, tive mais uma vez a comprovação de que realmente neste Mundo é necessário ter algum dinheiro para sobreviver, ou para viver com alguma dignidade. Não admira que todos o procurem, mas justifica que toda a vida, nele se funde?
terça-feira, 17 de agosto de 2004
segunda-feira, 16 de agosto de 2004
Noite vermelha
agarro teus beijos
transmuto-me ternura
II
surpreendes-me na ternura
- e eu com medo
do amor – palavra doida – sinto-o
calo-o na voz viva
suspendo-o em gestos largos
dados
grito de mansinho
és tu
sol ou homem
eu, sombra de lua
III
Noite quente
azul
troncos ou braços
seiva
no cerne
em botão flor
vermelha
sexta-feira, 13 de agosto de 2004
aparências e outras miudezas...
Mas o que é certo é que gosto de escrever, gosto muito, e se aqui o descobri de um modo mais intenso, continuarei a fazê-lo, quem sabe, aqui, ou sem visibilidade num qualquer caderninho... num log sem web... Gosto deste formato, de textos e imagens, gosto deste semi-anonimato, gosto dos vossos comentários, da partilha que isso implica. É estranho, mas este lugar é mesmo um pouquito de mim, porque tem a ver comigo, reconheço-me nele.
Às vezes, com o cansaço acumulado de quem não tirou ainda férias, e que verdadeiramente não vai tirar no sentido amplo da palavra, estende-se a este lugar. Como sempre nunca saberei se vou publicar amanhã e muito menos o que escreverei... mas estou aqui, agora, quebrando um bloqueiozinho... e ... depois? aqui é o reino das efémeras incertezas. lá fora, cá fora, projectos para acabar, outros que se iniciaram, outros ainda espero nunca os acabar, de inesgotáveis que gostaria que fossem. A vida que enfim se delinea em sucessivos passos... letra a letra... visível ou invisível...
quarta-feira, 4 de agosto de 2004
Sexto quê?
segunda-feira, 2 de agosto de 2004
Caminhos
sábado, 31 de julho de 2004
manhã de sábado
Vindo do lado de fora da janela, o chilrear dos pássaros, o azul matinal, quente. Cá dentro, o aconchego. Não é só no Inverno que sabe bem.
Somente os gatos ainda não se harmonizaram de todo. (pois é, as “férias” do Gaspar têm-se prolongado).
sexta-feira, 30 de julho de 2004
quarta-feira, 28 de julho de 2004
no regret
E olhar sempre através de um sorriso...
terça-feira, 27 de julho de 2004
O fogo e a praia
Imagem de: James Kaler, Astronomy Department, University of Illinois
segunda-feira, 26 de julho de 2004
segunda-feira, 19 de julho de 2004
Dia azul
E retomaram a leitura. Dessa vez.
sábado, 17 de julho de 2004
sexta-feira, 16 de julho de 2004
odores & humores
terça-feira, 13 de julho de 2004
E no corpo nasceu alma. Ou talvez o inverso. Sabe-se lá. E ganhou corpo e alma. Alcançámos alma e corpo. E se há sorrisos, é porque nascem da alegria. E na sua falta, o olhar não é pelo outro. Apenas pelo outro. Para o outro. É com o outro. Presença de nós. Inteira. Olhar através do outro. Para olhar o mundo. E sermos maiores do que nós.
segunda-feira, 12 de julho de 2004
Que belo fim de semana!
quarta-feira, 7 de julho de 2004
A minha gata e o Gaspar
domingo, 4 de julho de 2004
hoje é o teu dia especial, Amiga…
Sendo-se, apenas. Nós e o nosso amigo.
sexta-feira, 2 de julho de 2004
incessante renovação
quinta-feira, 1 de julho de 2004
um dia especial?
Mesmo assim, sendo um dia tão especial como outros (sendo sincera ou talvez apenas emocional, é-o um bocadinho mais), daqui a um ano – gostava de fazer algo ainda mais especial.
segunda-feira, 28 de junho de 2004
águas primeiras
sábado, 26 de junho de 2004
meio ano
“Lugar, espaço ocupado por um corpo.”
Este é um espaço sem dúvida. Espaço tão ou mais real para mim, do que muitos outros. mas não um espaço vazio. Um espaço ocupado por corpos, corpos com e sem matéria visível.
Efémero. Porque se a nossa navegação por estes outros mundos já é tão breve, esta daqui com a sua imediatez, com o seu ‘consumo’ por vezes célere demais, torna-a ainda menos perene.
E além disso, em termos temporais, nunca predefini um limite. Podia ter acabado nesse mesmo dia. E desde então foi o escrever dia a dia, sem fazer a mínima ideia do que se escreverá nesse mesmo dia, e muito menos no dia a seguir – se é que se escreverá mais…
E nestes seis meses, a descoberta de muitas coisas… importantes… o gostar de escrever, de um modo mais rigoroso e claro, e também criativo, as pessoas com que me cruzei, os laços, por vezes quase invisíveis, mas sentidos, que se estabelecem. ‘Umbiguisticamente’, uma memória que perdura de forma mais perene de mim, em mim… lembrar o dia que se escreveu aquilo por esta ou aquela razão… há uma memória de nós próprios que permanece, em que o passar dos dias efémeros fica registado, qual diário, para mais tarde recordarmos estes nós destes hojes sucessivos. É isto importante? não sei. Sei que é bom lembrar os momentos bons… e estes aqui, frente ao ecrã tem-no sido. Comigo. Convosco. Obrigada.
sexta-feira, 25 de junho de 2004
nós e o euro
desabafo 2
desabafo
Porque é que as pessoas precisam de estar sempre a falar (ou a fazer blábláblá)?
quarta-feira, 23 de junho de 2004
teus dedos
terça-feira, 22 de junho de 2004
Uma aula...
estes dias
segunda-feira, 21 de junho de 2004
domingo, 20 de junho de 2004
búzio
sexta-feira, 18 de junho de 2004
vaga de afectos
quinta-feira, 17 de junho de 2004
acordar
terça-feira, 15 de junho de 2004
matinal
domingo, 13 de junho de 2004
dias de voto
Bastantes anos depois, então fui eu. E dessa, a memória já não é tão visível. julgo que fui com a minha irmã – um ano mais velha, mas também ela pela primeira vez. mas recordo o traçar a cruz no quadrado. E desde então uma série delas. Só não cumpri o meu ‘dever cívico’ umas duas vezes, por ausência física do local de recenseamento.
Hoje mais uma vez. Hora de calor, depois de almoço, não almoçado. mesmo assim, muita afluência (na minha mesa de voto até às 14h. já tinham votado 19% dos inscritos, nada mau), e continuaram a chegar.
(quando já vinha para casa, tive um dos meus pensamentos absurdos: e se algumas das bandeiras que vimos por aí, fossem mesmo por Portugal, e não pelo futebol? – numa vontade de sermos realmente melhores)
Porque voto? porque sem acreditar, ainda continuo a crer. porque há coisas que não podemos renegar. porque fazemos tão pouco pelo nosso país, que isto seria/é o mínimo. sim, também por todos aqueles que não tiveram nem ainda têm voz (nem que seja este breve sussurrar, indício de vozes mais sonoras e livres). porque não votar é desistir, é desinteresse, é permitir que decidam por nós (sim, sei que já decidem, mas pelo menos sabem que estamos cá), é abdicar da possibilidade de sermos ainda mais interventivos.
sábado, 12 de junho de 2004
criador e criaturas §4
sexta-feira, 11 de junho de 2004
passeio no parque
Confidencial
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitado.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.
Miguel Torga, Poesia completa, Publ. D. Quixote
quinta-feira, 10 de junho de 2004
sentidos de vida…
talvez o sentido da vida esteja apenas ligado à própria vivência da vida. da própria, de cada um, de todos nós, humanidade.
não sei se todos sentem esse sentido de modo consciente, ‘trabalhado’. ser pessoa é difícil. requer demasiado esforço, empenhamento, confronto consigo mesmo. é algo vivenciado num decorrer diário, constante da própria vida. em conflitos parcialmente resolvidos, mas sempre em aberto, sempre questionados, de nós mesmos face a certos valores, a certas atitudes que nos tornam, ou não pessoas. – e é tão fácil alhearmo-nos de nós mesmos!
talvez haja, em vários pontos cruciais da vida, ou num apenas, um 'momento de verdade'. talvez por isso alguns desesperem no confronto com a sua própria morte - ou com a morte dos outros, espelho antecipado da sua -. talvez por isso outros sorriam, não por acabar essa existência finita e efémera, mas pela consciência de que a tornaram em si mesmos, porque em si mesma ela é (foi), uma vivência infinita e eterna.
segunda-feira, 7 de junho de 2004
domingo, 6 de junho de 2004
um passo apenas…
sábado, 5 de junho de 2004
sexta-feira, 4 de junho de 2004
absurdo…
galgavas o parapeito da janela do telhado
sítio de cigarros e cumplicidades fraternas,
estavas nu, sabia-te corpo e esbelto e ágil
animal felino natural trapezista em barro inclinado.
Antes do absurdo terminar,
sim, todo este tempo sonhámos um absurdo possível,
absurdo refreado como a paixão negada,
antes de retomarem os ruídos do aspirador
de já intoleráveis vizinhos,
ainda pedi, imperceptível, senta-te no parapeito
sei que o disse e mais pensei
senta-te olha-me sê e o fim
tornou-se mais mudo do que o seu princípio.
Ias cortar um tronco de macieira com bagos de ameixas
escarlates, por nascer, crescido por dentro da casa
no quarto ao lado do quarto que era da saudade
acabada apenas porque já o tinha sido.
Tocámo-nos ao descobrir as minúsculas folhas
perguntando É? Será?
Descemos e voámos nas escadas antes de saltares
para cuidar de um tronco que não saía de uma casa
que o acolhia completo vegetal de verde nascente.
Tinhas mirado os pincéis, godés, tubos usados retorcidos
expostos no caos disperso, agarraste numa das quatro paletas
teimámos e levaste-a contigo tentando arrancar a tinta
que era já a sua superfície.
Lá em baixo, ouvíamos uma amiga e sem querer
querendo-o há tanto, recuei e sem te abraçar
abraçaste-me com a gentil força que desconheço
eternidade de segundos, caminhados depois, sentidos
separados percorrendo as escadas da mansarda
de paleta pintura nas mãos, de seda chinesa cobrindo-te
a pele sedosa pressentida olhada sem ver. Deixaste-a tombar.
E ousei perguntar tenho umas calças brancas de linho
quase o disse envergonhada pela vergonha que não nos existia.
E distanciando-te no corredor do quarto, subindo ao banco
de madeira embutido na parede velha, agarraste-te às telhas
e eu agarrei-me ao corpo de mim que batia acelerado.
Olhava-te sem te ver pedindo-te muda
para neste absurdo seres tu a ver-nos.
quinta-feira, 3 de junho de 2004
para que serve o Amor?
ou estratégia de preservação da espécie, na linha de “O gene egoísta” (de Richards Dawkins)? Não bastaria para isso o desejo físico ou o cio?
ou mecanismo ‘sofisticado’, interiorizado culturalmente, ‘sublimado’, de sobrevivência (individual e colectiva) numa sociedade cada vez mais individualizada?
ou necessidade interior de partilha, de mitigação de um sentimento de solidão intrínseco ao ser humano?
ou desejo de Imortalidade e de perpetuação, através da (pro)criação no belo, como disse Diotima a Sócrates, no Banquete de Platão? – a criação, o gerar no corpo e/ou no espírito, algo que nos engrandeça, que faça extravasar a nossa exiguidade?
ou a procura incessante da nossa (suposta) outra metade perdida (a que a mesma Diotima se refere aludindo à lenda citada por Aristófanes)? – desejo reflectido por sentimento de incompletude?
“Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples(…)”
E. de Andrade
Exposição de Nuno San-Payo
Figura representativa da 2ª metade do século XX, nasceu em Petrópolis (Brasil) em 1926. Licenciado em Arquitectura pela ESBAP e ESBAL.
Ganhou prémios em concursos de arquitectura, de pintura e de cartazes.
A obra do artista encontra-se representado em diversas colecções importantes: Fundação Calouste Gulbenkian, Museu do Chiado, Museu do Neo-Realismo, Museu Municipal do Sabugal, Ministério da Cultura, Caixa Geral de Depósitos, EPAL, Colecção de Arte Moderna do Funchal, Secretarias de Estado do Comércio e da Indústria, Câmara Municipal de Góis, Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, sendo apontado como uma referência na pintura contemporânea portuguesa.
A exposição estará patente até 17 de Julho, na Galeria de Exposições da Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira.
desejo ou envolvimento afectivo…
quarta-feira, 2 de junho de 2004
...leveza...
A insustentável leveza do ser, M. Kundera
terça-feira, 1 de junho de 2004
delírios ou pétalas
chorrilho de reclamações para a Netcabo
segunda-feira, 31 de maio de 2004
voos circulares
lentamente olhando-te
para não te ver
não ver o que não consegues revelar
sigo o voo circular
(estamos quase no verão,
aonde é a sombra
da tua casa?
andorinha)
foges do sol, da estrela nocturna
ardida numa quietude desenfreada
esqueces o crescente da lua
hábito espelho de luz
(lá um dia também houve água)
voo atordoado múltiplo
de asas quebradas
és viajante prisioneira de um só lugar
ignoras que na nuvem branca, só ela voga
lá dentro, rolas húmida incerta
julgando-te voar
domingo, 30 de maio de 2004
o que se conhece dos outros?
- obrigada.
Tinham-se encontrado à porta do prédio. Nunca tinham trocado mais do que meia dúzia de frases. Conheciam-se há mais de 10 anos. Vizinhas. Três andares a separá-las. Uns quantos anos também. Cumprimentavam-se, sorriam-se, falavam sobre o tempo, sobre os animais de estimação ou qualquer outro assunto supérfluo.
- gosto mesmo. está tão diferente. dá gosto vê-la.
- obrigada. realmente emagreci bastante, sinto-me mais…
- nem é isso.
Nem se podiam tratar pelo nome. não o sabiam. Aparentemente só se conheciam pelos traços exteriores.
- não é isso. está mais magra, é verdade. muito mais. mas agora tem um outro ar.
um sorriso era a resposta suficiente.
- está tão diferente, mais leve, com um outro brilho… no olhar… no modo como se arranja… o gosto de… está outra. às vezes custava vê-la… pela tristeza, estava… ainda bem… fico feliz.
Por resposta, um sorriso, emoção quase incrédula, a interrogação muda: - era assim tão visível?
O elevador tinha parado. Saiu e segurando a porta do elevador, olhando-se nos olhos, ternamente:
- desejo-lhe toda a felicidade, como a desejo para a minha filha.
- obrigada. até logo
- até logo.
O elevador continuou a subir mais três andares. Um nó de comoção prendeu-àquela senhora, quase desconhecida. um laço de ternura subitamente visível. Por aquilo que tinha ouvido, sentido. Pelo que tinha sido, pelo que era agora… sim, brilho de vida, renascida. pelo olhar que jurara um dia nunca mais ter de abandonar… um olhar para os outros, para muitos outros… Nunca mais…
Quando se olha, algures recebe-se, despertam-se olhares novos… conhece-se. Onde é que tinha ouvido: olhar é amar?...
Tira a chave de casa da mala, coloca-a na fechadura, roda-a. Entra em casa. Vazia. Fecha a porta. apenas aquela de madeira, pesada.
sexta-feira, 28 de maio de 2004
encontros...
todos nós somos veículo de encontro entre pessoas, e neste mundo virtual, meios que possibilitam partilhas, leituras, aproximações, mesmo que efémeras, sobretudo éfémeras, mas que creio que de algum modo ficam, quanto mais não seja num subconsciente afectivo que nos vai estruturando, construindo...
já jovem... (e não é que de certo modo já não o seja)... sorria quando dois amigos meus se conheciam e havia alguma partilha, algum encontro entre eles, por eles próprios, pelos interesses, pelo estar que ambos mantinham na vida... é raro isso acontecer, mas acontece... e eu sorria, especialmente não fazendo nada, até porque o forçar é do pior que há - e quem tem irmãos sabe isso muito bem: a velha máxima dos pais em querer que os irmãos sejam amigos à força -. Talvez este meu sorriso seja algo de infantil, ou fruto de um qualquer utopismo... mas com tantos desencontros, mal-entendidos, pequenas guerrilhas que proliferam, não é bom ver, aqui ou em outro qualquer lugar, encontros, comunhões de qualquer tipo? especialmente entre pessoas sensíveis e interessantes...?
quinta-feira, 27 de maio de 2004
criador e criaturas §3
"sim, fiz isto em duas horas, mas trabalhei anos para poder fazê-lo em duas horas"
"a pintura promete tornar-se mais subtil, mais musical e menos escultura, promete enfim a cor?"
Em lugar de procurar exactamente o que tenho diante dos olhos, sirvo-me da cor do modo mais arbitrário para exprimir-me fortemente"
cit por Mário Dionísio in O Drama de Vicent Van Gogh. 1953. Coimbra: separata da revista Vértice, pp. 19, 22, 23, 27, 28, 30
quarta-feira, 26 de maio de 2004
0 mundo corre lá fora…
O mundo corre lá fora… até há uns dias, por mil e umas ocupações, agora com uma recuperação lenta, mas no bom caminho… nem me apercebi da abertura da feira do livro, quase deixava passar a minha tão apreciada e ritualizada visita nos primeiros dias – exemplo pequenino de uma desatenção mesmo a nível pessoal, egocêntrico; para não falar nas ‘desgraças’ e ‘anedotas tristes’ que assolam este mundo, há uma certa recusa de ver, um cansaço de olhar, de o pensar. há prioridades que se vão construindo, assumindo, mas que sejam conscientes, conscientes de que a qualquer momento se pode sempre olhar para outro lado, para um qualquer outro lado do mundo, do nosso, do de nós todos.
terça-feira, 25 de maio de 2004
espuma vaga
numa limpidez que sustenta
o que a bruma
dissolve,
parto viagem -
re_volta
volta_rei
rei_nado
de mim? -
quantas águas inebriaras
náu_searas
de mar_és
tudo o que sonho
nem chuva
ou bruma
só
vaga
espuma
domingo, 23 de maio de 2004
E com hoje são mais 24 horas. ou seja há mais 48 horas que não faço outra coisa que não seja dormir, dormitar, ter arrepios de frio, ter suores de todas as temperaturas. num estado de semi-irrealidade, de deambular, de alguma falta de equilíbrio ao andar. E tanta coisa para fazer…
Estarei a fazer concorrência ao 'doi-me'?! Não, a césar o que é de césar... a mim, só umas anginas daquelas!!!
E como tal, posts mais 'criativos' vão ter de esperar...
sexta-feira, 21 de maio de 2004
cheiro da terra molhada de maio
terra
tara
perfume na brisa passada
quarta-feira, 19 de maio de 2004
farsa de cronos
em veneza
cronos mascara-se de eterno
transveste-se de efémero
em jogos alternados
ilusionistas
rindo de todos
nós, desgraçados
nunca te terei, lugar encantado
alheio ao percurso diário
inferno desejo de paraíso
longe, veneza, minha amada…
terça-feira, 18 de maio de 2004
percalços...
Já não bastava o cansaço do trabalho... ainda isto, há que dias... preciso do som do silêncio do campo... do mar! só queria estar a quilómetros de automóveis, gente ruidosa... mas ligada ao mundo...
domingo, 16 de maio de 2004
"desculpa"
… é muito?
não quero ter de fazer juízos de valor sobre ninguém. mas quando é preciso responder, quando há perguntas, exigem-se respostas coerentes, mais ou menos ‘objectivas’ que podem implicar opiniões, sensibilidades… e explicar… nem é explicitar apenas, é explicar – detesto explicações, gosto de explicitações - . e em que é que diferem? é talvez um pôr em causa, é uma acção rejeitar de algo para adoptar outra.
por vezes o ter de dizer, o dizer, é já interferência, não é diálogo. ou talvez se resuma a uma incapacidade minha para dizer ‘não’ ou ‘não gostei de’ (porque será que sinto que isso põe em causa o outro? ou é medo de magoar os outros? especialmente daqueles que gosto). talvez preferisse não ter de dizer porque não haveria necessidade de palavras. (talvez tenha ficado cansada de um certo excesso de palavras, depois de uma carência primordial – depois da fome, uma sobrealimentação gordurosa). e quando há essa necessidade sinto uma falta de liberdade, um constrangimento; não porque não se deva falar, mas porque não ‘deveriam’ existir as coisas que dão origem ao ‘ter de’… são demasiados ‘must’… e só a sensação de ter de, aparentemente, assumir um papel que detestei em tempos em alguém, papel esse que me minimizou, destruiu… um papel que não é meu, que não sou eu… não quero. fá-lo-ei por mim, se for necessário. não pelos outros. não é essa a relação que quero ter. quero ser tocada, amada, não só pela ternura do espírito, mas em todos os centímetros quadrados da minha pele, quero amar todos os poros de alguém que respire livre. Há por vezes um cansaço em mim, sim… mas só quero ser, ainda quero ser… é muito?