sábado, 31 de dezembro de 2005

Neste último dia do ano... Ou uma breve estória de um blog...

Foi há dois anos. Dois anos e 6 dias. Há meses que era frequentadora silenciosa da blogosfera depois de uma conversa iniciática com um amigo. O impulso para criar um meu era refreado pelas hesitações comuns. Que nome lhe daria? Teria alguma coisa para dizer aos outros? - Abro um parênteses para dizer que afinal, talvez o mais importante, foi o que tinha a dizer/a descobrir sobre mim própria -. Que iria ou poderia escrever de autêntico?

Alguns nomes já vogavam no pensamento. Nada de muito concreto. Também tinha receio de nomes mais ousados. Porque sempre suspeitei que o que escreveria aqui nunca seria uma mera fachada de mim mesma. Seria uma outra face. Na tarde anterior, lembro de estar à volta dos preparativos de Natal. Prendas. Fatias douradas. Era dia 24 de Dezembro. De repente, eram oito horas da noite, encontrava-me só, só com os meus passos ecoando no chão do átrio do Hospital de Santa Maria. Meus pais estavam lá dentro. A minha mãe internada de urgência em risco de vida. Essas horas assim se passaram. Em vez da consoada, a aflição. Em vez da troca de presentes, uma comunhão na preocupação. Nessa noite, que já não fazia sentido como noite de natal, deixei meu pai em casa e vim para a minha. Porque a solidão era necessária. Porque era a nossa inevitablidade.

E num impulso, aquele que ainda não tinha acontecido com aquela premência, criei um blog. Porque os nomes 'éfemero' ou 'efémera' já estavam ocupados - perante a vizinhança do espectro da morte, não havia melhor designação -, surge de súbito, este nome. Meu, agora. Talvez contradizendo o efémero, porque necessitava de um 'lugar' que considerasse meu, onde me pudesse sentir menos desconfortável que em todos os outros lugares mais reais que nessa noite (ou em toda a vida) me eram agrestes.

Por isso, à 1h 49m da madrugada de dia 25 de Dezembro escrevi 'Lá fora é noite de Natal'.

Porque tinha de o escrever. Porque tinha de o dizer. Não a ninguém em especial. Nem esperava ser 'descoberta' neste meu lugar, tão cedo. A 'rede' era mais pequena, bastante mais, mas não deixava de ser 'rede'. E admirei-me quando poucos dias mais tarde recebi o primeiro feedback, do Rui d' 'A Sombra', regresso que quase dois anos depois, saúdo. Como me admirei, há uns dias atrás com o prémio que o Golfinho atribuiu a este blog.

A partir daí, foi sobretudo a escrita. Mais do que companhia, uma construção, uma revelação, uma expressão de mim mesma. Quase uma segunda pele que descobria. Quando há coisas que não se dizem oralmente, a escrita acalma/colmata esta ânsia de expressão. Como na arte. Sem sentido. Porque é preciso, em nós próprios. Os outros...? os outros lêem e sentem, ou não. Talvez isso em mim seja mais importante, porque quando estou com os outros, não sou daquelas pessoas que fala muito. Por gostar de os ouvir. Por não querer ‘aborrece-los’ com as minhas coisas. Ou... talvez... porque tenho medo de me revelar. A maturidade vai ajudando... e já vou achando que tenho direito... e que me posso 'assumir'.

Mas esta rede também é uma 'rede' de afectos, porque é uma rede de pessoas. São pessoas que estão por detrás das palavras. E estes afectos ou encontros mais ou menos efémeros, de pessoas que nunca conheci, as que conheci, ou as que já conhecia fora do virtual, foram importantes, como muitas daquelas pessoas que fomos conhecendo ao longo da vida. Sei, que pessoas de que não conheço o rosto, ficar-me-ão para sempre na memória. Foi bom reencontrar amigos que já não via há anos, e vê-los numa outra faceta, e respeitar-lhes essa outra face com o resguardo da escrita mais 'confessional'. Foi esta 'rede' que me proporcionou conhecer o 'companheiro' da minha vida, numa ultrapassagem de todas as virtualidades, muitas vezes parcelares, para um encontro deveras real, inteiro.

Ultimamente tenho escrito pouco, aqui. Porque a vida, a vida do dia-a-dia, nos consome o tempo de disponibilidade para a escrita, para a criação. Porque os projectos que tenho em mãos, são-me importantes, seja os pessoais, sejam os profissionais. Porque há também um certo cansaço da blogosfera. Não tenho muito tempo para ler; às vezes, confesso, pachorra, também. E por vezes ainda resta um certo 'receio' de exposição - que este post contraria, eu sei, e ainda bem -, uma inibição qualquer, um pouco disparatada. Afinal, quem dá realmente importância ao que escrevemos nestes lugares?! Por vezes em momentos de vida adensamos o nosso sentir pelo que escrevemos ou pelo que lemos, mas no fundo são apenas estórias de vida, como as que lemos num livro, ou ouvimos na mesa ao lado do café.

O que importa...? O que importa é irmos fazendo coisas, criativas, se possível, construindo o nosso projecto de vida, connosco próprios e com aqueles que amamos, tendo os olhos postos no futuro, no horizonte, sentindo e desfrutando cada momento neste lugar efémero que é a vida.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Embora

um pouco atrasada...



Umas Boas Festas e um Feliz Ano Novo

domingo, 18 de dezembro de 2005

Terra pátria serás nossa
mailo sol que nos cobre
terra pátria serás nossa
mãe pobre de gente pobre

Terra pátria serás nossa
mailos vinhedos e os milhos
Terra pátria serás nossa
mãe que não esquece os filhos
.................................................
E se a loucura da sorte
assim nos quiser perder
abre-nos teus braços de morte
e deixa-nos adormecer.

Carlos de Oliveira

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

O céu (não) é o limite...

Podia ter sido o teu desígnio... a ele estavas disposto, qual cavaleiro andante. O destino não somos nós que o fazemos. Também somos, mas apenas podemos mexer algumas peças deste xadrez. Se há coincidências, este último dia, foi-o malogradamente, tão diferentemente, para outros companheiros. Foram tantos anos; mas tantos ou mais, te (nos) aguardam. Começar de novo. Quantos mais podem dizer o mesmo? Sem limites, a não ser tu mesmo. Sem contingências, a não ser as que construas.

Estarei aqui. A teu lado

Contigo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Soneto despropositado....

"Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio"

Para quê as palavras? Diz lá, não são ridículas? Não são só palavras? Para que ando a gastar a minha vida com palavras destas... ridículas e absurdas? Não!! Não e Não! A minha vida não é isto! É viver isto! Escrever que se trocam beijos e gemidos não é trocar beijos e gemidos!

Vou tentar escrever o artigo!!... ainda hoje!

Tretas

Só falta vir para aqui desabafar e isto ter uma macacoa e não publicar. Talvez fosse melhor. Também não quero dizer nada de especial. São aqueles dias que se quer fazer tanto e coisas produtivas e acaba por não se fazer nada. Não é por não se ter recebido aquele beijo de manhã... é mal-estar... é o confronto do racional com o emocional. É não se ser aquilo que se gostava de ser, por vezes. É inquietude. É carência. É... sei lá... tretas!

Vou mas é tentar continuar o artigo, que é o que devo fazer... (quantas vezes tenho de repetir isto para me auto-convencer?)

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Instruções... ou... "lá bem no fundo está a morte"...

PREÂMBULO ÀS INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO

Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente o relógio, muitos parabéns, que te

dure muitos e bons, é uma óptima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passeará contigo. Oferecem-te -- ignoram-no, é terrível ignorá-lo -- um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo, que tens de prender ao teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na rádio, o serviço telefónico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia ao chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior às outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio.


INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO


Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada."
Julio Cortázar
(por sugestão de uma leitora do post anterior)




domingo, 30 de outubro de 2005

A não-hora

A hora sem tempo. O tempo que volta para trás e se repete. Era uma hora de uma madrugada que se inicia... duas horas... de súbito, 1 hora, outra vez.

Ou, em tempos de primavera, uma hora que deixa de soar. Ausente. Inexistente.

Tempos.

Tempo que passa a correr. Como tivesse sido ontem, ou há poucos dias, que se marcava o final de tempos de escolha, quando se agarra a vida com as mãos e se enfrenta, olhos nos olhos, sem mágoas e receios. A vida, ou nós próprios?! Em que se descobre que o maior medo da vida é o medo de se ter medo... de não se ser capaz.... de não se ser livre...

E aí está... não que um papel faça isso tudo... até porque não se fez por causa do papel... O tempo quando é tempo, fá-lo. Porque mesmo que não exista a hora, ou exista em duplicado, deixamos de ser, de querer, de estar como antes. Porque fazemos coisas. Que nos tornam diferentes.

Passaram mais de três meses. Apesar de estar quase tudo na mesma, algo muda. Quase imperceptível. Ontem não foi igual a hoje. Hoje...

E nesta hora, inexistente, escrevo sobre os tempos. Saboreando por instantes, o gosto de escrever.

Por vezes, mesmo ultimamente, um pouco esgotada de tanto escrever (não aqui... por outros lugares)... por vezes, sinto que a escrita é a minha fala.

Esta hora inexistente (em que, no fundo, não quero saber desta não-hora para nada), o pretexto é somente, escrever. Falar. Falar sem cansaço. Sem pressões. Num ritmo sem relógios. Sem imposições. Sem tempo(s).

Atrasem-se os ponteiros.

O tempo não pertence ao relógio.

sábado, 22 de outubro de 2005

sábado, 8 de outubro de 2005

tudo o que existe

o sopro soando no colo
a mão estendida nas costas
o corpo demorando-se no corpo
leve adormentar
num cansaço que não fatiga

tudo o que existe

o soerguer do rosto
para o húmido contacto
num demorar
quase parado

tudo o que existe

o surdo roncar do motor
perpassando a janela
desperta sem acordar


tudo o que existe


o silente fim de tarde
movendo-se sem lugar


tudo o que existe


o respirar

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Amor não é dor

Amor não é silêncio quebrado pelas lágrimas revoltas na face. Amor não é grito deseperado. Não são palavras escritas. seja qual for o momento. Nem são as palavras lidas, sob a luz oculta do dia. Não é a mudez do sentir. Nem um tartamudear sem sentido. Amor não é pesar. Não é passado. Nem destino. Não é querer viver ou descobrir mistérios, pois o único segredo reside na sua vivência, dia após dia. Não é verbo que tenha pretérito, é palavra cheia de presentes.
É...


um sorriso aberto
como asas de uma gaivota

sábado, 20 de agosto de 2005

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Malditos...

Num sexto andar, no meio de uma cidade, a uma dúzia de quilómetros da capital, o ar que se respira... que se sufoca... é o do fogo. Não se vê. Não se sabe onde está. Sabe-se que, neste momento, algures... em demasiados, por todo o país... há gente em aflição, há gente que tenta socorrer essa gente.Malditos... os que o põem... os que os consentem...!!!

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

unanimidade

do Lat. unanimitate
adj. 2 gén., qualidade de unânime;
concordância geral;
integral conformidade de votos ou de opiniões


Em muitos aspectos, acha-se que a unanimidade significa o reconhecimento de todos. "É unânime considerar que..." Por vezes, é quase sinónimo de valor reconhecido; sem esta 'qualidade', parece que há algo que desmerece.
Talvez até há poucos dias atrás, não pensasse (n)isso.
Pois não é uma "crença irracional", quase infantil, queremos que todos gostem de nós?!
E se pensarmos um pouco mais: queremos mesmo que aqueles que achamos medíocres, nos achem com valor?
Será pedir demais que alguns ultrapassem as suas 'pequenezas' e vejam mais além, vejam a diferença, ou mesmo, a qualidade, sem se colocarem eles próprios em causa?
A célebre frase: "não faria parte de um clube que não me aceitasse como membro" não é apenas uma redução da dissonância, é também, ou sobretudo, uma prova de auto-estima.
Precisamos da 'aprovação' de outros, sim; mas de alguns, daqueles que nós consideramos. Dos restantes... dos outros, esperamos apenas a hombridade de não serem demasiado injustos...

terça-feira, 26 de julho de 2005

paradoxo

Não me apetece blogar. Nem hoje, nem ontem, nem anteontem...
Não tenho encontrado sentido para aqui estar.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Porque...

hoje pode ser o nosso primeiro dia...
... Quero renascer contigo.

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Ingénuo

O livro foi arrumado na estante. Separado. Junto com os outros. A frase transbordou o seu lugar e ficou pairando desde que foi lida. Como fica quando se reconhece qualquer coisa que se sente como verdade. Naquele "Vinte e zinco" (de Mia Couto) diferente = igual a outros Vinte e cinco. Nada nos resta senão mergulharmos nas águas do lago com ou sem ingenuidade. "Ingénuo não é o que acredita mas o que pensa que os outros também acreditam". Cubro-lhes, sempre que posso,a cabeça, o corpo, com o manto da credulidade. E seja feita a ... vontade (não sei bem de quem), Amen!

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Cor-po-sição


Um certo dia direi
fui
joelhos e curva de pescoço,
mão e barriga de pernas,
ombro e coxas
unhas e ancas
tornozelos e dedos
cabelo e omoplatas
pulso e virilhas
olho e cotovelos
mais umas quantas formas
ou lugares.
sou
tudo isto
mais qualquer coisa
indizível
informe
in-contida
espelho meu
d'outrém
reflexo-s
num qualquer tempo.

Um certo dia direi
fui
carne e espírito
mais qualquer coisa
num qualquer tempo
ou lugar
E nunca te ofereci a festa-surpresa que tu idealizavas, gaiata. (...) pensava organizar-ta quando tu fizesses quarenta anos. Com quarenta amigos, evidentemente.(...)Sonhei a vida inteira com uma festa-surpresa que nunca me fizeram (...) Vivia a sonhar com esse dia em que um de vocês me atrairia a um restaurante à beira-mar onde estariam todos os meus amigos e amores, rodeados de rosas brancas e balões coloridos, com um piano e a guitarra do Pascoal, para me receberem em apoteose ao som de A Sombra das Nuvens no Mar"
Fazes-me falta, Inês Pedrosa

Estou viva... para mim, ainda não acabou. E Tu cantas encostado ao calor da minha boca vermelha... E digo-te... fazes-me falta, amor.

quinta-feira, 30 de junho de 2005

Do Passado... ou uma carta a LULU






"Era evidentemente mentira tudo aquilo que eu contara na minha carta de amor, ou melhor: era tão verdade que ainda não tinha acontecido"









António Pedro (da Costa), Apenas uma Narrativa, Editorial Estampa, Lisboa, 1978, 2ª ed. p. 73.

Véspera



O final de algo é sempre o início de outra coisa qualquer. Não há fins. Não há começos. Sómente a nossa mente precisa de marcos. Um antes de... um depois de... Mesmos sentados, quietos, há algo que mexe, um movimento (im)perceptível. Uma continuidade qualquer.
Assim na aparência, a imobilidade, deixando o rio fluir - rio previsível, tantas vezes - não traduz uma quietude. Apenas nada poder fazer para que o rio mude o curso. Não é isso uma certa sabedoria?!... Não mudar aquilo que não está ao nosso alcance, aceitá-lo. Mas não deixarmos de nos banharmos no rio. Usufruir das suas águas?! "Resta" - e é tanto! - sabermos mergulhar (ou não), dançar nas gotas de água que escolhemos. E amá-las.

quarta-feira, 29 de junho de 2005

para um regresso

Pelos sonhos vamos...
...dançando em asas do vento.
em movimentos ascendentes que nos fazem voar...
pousando suavemente em terra
como se a Mão nos aparasse

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Domingo?

Aproximam-se certas datas. E por mais que racionalizemos que tudo é uma convenção, que é apenas mais um dia dos muitos que vamos vivendo, sentimos um sabor a sal. E vem o desejo de água. Que o leve/lave depressa. Porque nesse sabor, que embora seja a sal, não conseguimos identificar, há um desnorte de 'nem lá vou nem faço nada'. E sentamo-nos a um canto, à espera que passe. Pensando o desperdício das horas. Não valorizando com propriedade o que sabemos de bom. E depois dizemos... Não gosto de domingos - o outro não gostava de Mondays -. É verdade. já houve tempos em que muitas vezes não gostava de domingos. Nos últimos anos, comecei a gostar. mas depois, lá vem um, para confirmar estados antigos. Estados inquietos. Um pouco depressivos. Esquecidos do sol que aquece lá fora. Não nos sentimos bem connosco próprios. A insatisfação borbulha na nossa pele. Quando estamos sós, é momento de darmos com a cabeça nas paredes, de podermos dar asas à nossa infelicidade existencial. Quando amamos, não queremos que o outro sofra com as nossas infelicidades; especialmente quando sentimos o quanto ele nos quer. Há sempre um espaço-buraco em que permanece insatisfeito, inquieto. É isso que nos move... embora por vezes nos paralise.
Empurro-me. Para a frente. Há afinal tanta coisa que vale a pena... Coisas que nos acarinham... (como a tua voz que interpolou esta escrita).

terça-feira, 21 de junho de 2005

Plenitude

Deitados. Lado a lado. Olhos nos olhos. Perto. Tão perto que a respiração parece ser apenas uma. Um corpo, só. Na noite, a lua, círculo quase perfeito, vela no azul nocturno. Tão próximos que a luz, quase inexistente, basta para que os olhares se falem. Se amem. Fundem-se como água, como chama, envoltos pelo rumo de um farol.Em sentimento de plenitude.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

"Estou de passagem: amo o efémero"

Quando o sentir se fez poesia
houve um homem que se chamou
Eugénio de Andrade

(Não sei se foi - é - um dos maiores poetas portugueses, sei que a sua poesia, na sua totalidade, é daquelas ou mesmo aquela que mais me tocou, que mais me toca, que me é mais sensível. Obrigada Poeta, por ter criado palavras com nome de poema)

Também hoje morreu um outro homem. De convições. De luta 'teimosa' e persistente por ideais em que acreditava. Um homem que, na minha infância, mais ou menos inconscientemente associei/identifiquei com um outro homem, a quem eu amava (amo), que também sentia, sabia ter lutado por aquilo em que acreditava. Um foi um 'actor' na vida, este outro, um 'observador' pela sua natureza. No fim das suas vidas, apenas homens. Ruindo o mundo em que viviam, vão-se despedindo, um a um, gentes de uma geração que quer queiramos ou não, deixaram o seu legado... a utopia por um mundo melhor.
E que a continuemos... sempre transformada.
"Porque somos muito
E o tempo de sermos é tão breve"
(a, de, sua irmã, Maria Eugénia Cunhal in As mãos e o gesto)

sexta-feira, 10 de junho de 2005

Palavras de Camões

Amor é um brando afeito
que Deus no mundo pôs e a Natureza
para aumentar as cousas que criou.
De Amor está sujeito
tudo quanto possui a redondeza;
Nada sem este afeito se gerou.
Por ele conservou
a causa principal o mundo amado,
donde o pai famulento foi deitado.
As cousas ele as ata e as conforma;
com o Mundo, e reforma
a matéria. Quem há que não o veja?
Quanto meu mal deseja, sempre forma.

Líricas, excerto da VII Écloga

quinta-feira, 9 de junho de 2005

Charcos e pântanos

(também eu) sei ler nas (entre-)linhas
como não o poderia?! estão lá as palavras
as negadas, as recusadas, as rejeitadas.
mais de um mês depois, do que foi dito - sim, tive paciência para as ler - paciência e mais alguma coisa, ou menos, menos de mim. Que me firo, ao atacar para me defender de algo que outros (me) julgam ser, ou ter sido, eu. (Mas afinal, não falam mais do que de si próprios!)
que me interessa?
que me interessa, se neste contigente cansaço de ter de existir, quero apenas uns momentos felizes?! Para lixo, para merdas, já tive o suficiente... e tê-lo-ei no que sou obrigada quotidianamente, esse suportá-lo-ei... fechando olhos ou ouvidos... que também sei que nada mudarei... sim, já não acredito em mudar o mundo, nem alguém... nem o quero sequer. Nem a mim própria.
É 'pecado' querer ser ave...
fugir, porque não??...
quando se vê pântanos por todo o lado?
Quero apenas salvar o que pode ser salvo
Voar
em mim
numa mão aberta de límpidas águas.
Porque o que há são verdades, com s. (nem essas há, verdadeiramente). Há somente uma procura daquela(s), busca árdua e dura, porque ela não está ali à nossa espera, somos nós que temos de a construir incessante e malogradamente.
E (talvez) uma verdade é que temos de ser nós próprios a fazê-lo, connosco mesmo, nunca um outro. (não refiro, com um outro)

segunda-feira, 6 de junho de 2005

"Eppur si Muove!"


Se o nosso olhar se fixa num ponto, parece que tudo pára. Que tudo está parado, imutável. O dia de hoje pouco difere do de ontem. É necessário um maior ou menor distanciamento para nos apercebermos que afinal, e contudo, move-se

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Rumo ao Sul

Mais umas horitas e aí vamos nós, mais os dois bichanos, tentando evitar o imenso trânsito que se adivinha.Depois... lá... deixar o carrito arrumado (que sossego!). E passear, mergulhar, apanhar sol, ler, andar de bicicleta, encontrar amigos (está de pé, não está?!), e, pois claro, namorar o tempo todo. São só uns diazitos, é certo, mas a sensação de tempo como subjectiva que é, tornar-se-á enorme, espero.

terça-feira, 24 de maio de 2005

sob o sol... imenso


Acordo com o sol... 'dia quente e suave'... como os de um ano que se transformarão em muitos... ou numa qualquer eternidade. E se os dias não fossem já amarelos, laranjas ou vermelhos, cores do desejo, era por eles que eu desejava. As cores da paixão tranquila. Nestes dias reencontraremos o azul. E o verde. Das águas que mesmo frias, serão para nós, mornas. E levar-me-ás pela mão, através do oceano que nos espera. E lá receberei teu beijo. Teu abraço. E envolver-te-ei com meu corpo. Porque ele é tão-só manifestação do sentir. E sussurrar-te-ei... no pico do sol, ou no ocaso.

domingo, 15 de maio de 2005

Aleatoriedade...?

Arte aleatória ou random art?
Há quase um ano e meio, no início deste Lugar, escolhi tons de azul-verde, ou verde-azul para o template, mais escuros ou mais claros, permaneceram. E de tal modo que não o (me) veria de outra 'cor', parece que a 'random art', a partir de um nome e aplicando a sua fórmula:
([palette_pp(3,1); pif(9,2,4); pclosestmax(13,16); protfold(5,13); pif(41,10,7); pfoci(27,6,40); pfoci(23,8,32); pplus(11,8); fold(11,23,16); and(15,12); protfold(13,29); rotate(28,27,17); fless(18,16); pif(24,14,14); pmult(28,23); negative(20); fclosest(18,20); fplus(19,25); fplus(20,25); max(22,22); fclosest(34,21); dist(23,23); fclosest(45,25); fold(27,46,54); and(51,41); fmix(45,33,26); fplus(45,36); fold(30,28,34); fold(40,30,38); pclosestmax(49,38); fold(31,32,35); pmix(39,37,36); pmix(44,55,35); dist(58,46); fplus(61,38); dist(39,43); fmix(38,38,38); rotate(58,43,38); fmix(45,61,45); fold(40,43,61); rotate(42,42,61); or(47,47); pif(47,46,48); pmult(58,60); torus(48,45,61); fclosest(61,61); pif(47,58,48); negative(61); torus(59,61,61); fold(55,50,54); discretize(55,56); or(52,52); fless(54,53); dist(56,60); fclosest(61,61); pif(57,56,56); pclosestmax(60,61); negative(61); torus(60,61,61); pfoci(60,60,60); pt(); t(), também assim o gerou.






Não podia ser só 'Efémero' (em tons de cinza)
pois este é, sobretudo, um lugar... algures num horizonte de reflexos...

terça-feira, 10 de maio de 2005

Todos os dias olhava com espanto para as milhares e milhares de palavras que se escreviam... olhava, olhava... e em silêncio, ia à sua vida.

sexta-feira, 6 de maio de 2005

carta incompleta...

Não há versos de amor como a tua mão. como o teu olhar. como o teu cuidado. Se eu soubesse, escreveria um... Mas sem o sabermos, inscrevemos um poema inteiro, inscrevemo-lo em nós. dia a dia. E as noites ficaram menos escuras. Nem sempre olhámos para a lua, nem sempre era preciso, estava connosco. Nem sempre o dia foi de sol, mas nunca houve frio (sim, estou quentinha).
Escrevo talvez disparates, mas que se pode escrever para traduzir tanto... o de hoje... o de sempre?!
Quando chegares, daqui a pouco, (que saudades tuas!) dar-te-ei um sorriso, e um beijo. Dar-me-ei... como se fosse o primeiro dos nossos dias, como quero dar-me em todos os outros dias que, a partir de hoje, nascerão.

sexta-feira, 29 de abril de 2005

Quero-te

Quero as tuas mãos, amor
quero senti-las em cada pedaço
de pele,
de boca,
de riso.
Furiosas,
famintas
trémulas
incendiadas.
Quero o teu riso,
ofegante
de lábios latejantes
beijados
Quero os teus dedos
caminhando em meu corpo
vacilantes
incontido
receptivo.
Quero a tua boca
doce e dura,
escuta silente,
acariciante
do pulsar na pele.
Quero-te.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

caminho das águas





que silêncio maior do que o do mar?
um som escutado a dois
íntimo marulhar
em paz, em revolto desassossego,
bebendo-nos, mordendo-nos
em tons de desejo, de mãos
entrelaçadas
percorrendo o caminho das águas.

quinta-feira, 21 de abril de 2005

Ironias da primavera


Caiu?...
(parece que o destino ou o MT quis que o texto deste post não saisse... apagou-o. Assim fica a foto,a primeira palavra e as últimas palavras de um texto que sumiu)


... laranja amarga.

sábado, 16 de abril de 2005

grafias de vidas... em paleta (des)colorida

Nos passos de outros, vivos, mortos, vou encontrando alguns daqueles que vi de perto, histórias de vida, de grandezas, de misérias. Como se pudessemos conhecer a vida de alguém apenas por palavras escritas - as palavras são somente uma vaga aproximação. Na suposta objectividade esvaem-se os risos, as lágrimas, as pequenas conquistas frente ao rectângulo branco.
Resta a lembrança, a homenagem, tentativas ténues de exemplos de vida. Pela obra serão recordados.
O seu sentir morreu. Talvez renasça, se recrie, em alguém que a olhará.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

"Ai de quem precisa...!"

Ouço esta frase. Lembro-me de a ouvir a meu pai.
Antes respondo, quase instintivamente... generosamente?..."Não precisamos todos?!" Penso um pouco... 'mas há uns que precisam mais do que outros'... afinal, é como na 'cidade dos porcos'... há uns mais iguais do que outros.

domingo, 3 de abril de 2005

das pedras...









empíreo eterno


pedra perene


carne efémera







Óbidos, Março 2005

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Oeste

I

Com o olhar
Acompanho a onda até à praia
e o seu regresso ao mar




II

O som da rebentação
devolve-nos o silêncio do mar
















III

Onde acaba uma onda?
Não fica nas areias
Volta num eterno retorno
para uma outra onda
a um outro mar

quarta-feira, 30 de março de 2005

Primavera


Nunca chega demasiado tarde... é sempre tempo de florir... irrepetível. Esplendor num botão de uma pequena flor... duas... a par...

segunda-feira, 21 de março de 2005

Itália ou Portugal?

Por isso é que dizem que o povo mais parecido com o português não é o espanhol, mas sim o italiano:
http://www.infonegocio.com/xeron/bruno/italy.html
Só a pizza é que diferente... talvez uma caldeirada, seja mais adequado, não?!

sábado, 19 de março de 2005

A Ti, meu Pai

Dia após dia mostraste-me o sol, as estrelas,
a bondade e a maldade dos homens, de todos nós,
contaste-me a tua história, calaste os teus pesadelos quebrando o silêncio das noites
Nas manhãs, os teus breves gestos
denunciaram pelo carinho tímido, o amor
que não conseguias abrir.
Hoje os teus passos estão mais lentos
- já não consegues ir comigo até lá ao fundo, à ria,
não importa, eu vou, e reencontro-te a meio caminho,
voltamos juntos, apoiado no meu braço - lentamente
como gostamos de viver
como irás viver em mim
para sempre...

terça-feira, 8 de março de 2005

Mulher ... (Um post feminista?!)



Ser mulher.
Uma pergunta que apenas pode ser respondida com um sorriso... sorriso que não pode ser, de modo algum, de ironia, nem de aparente superioridade ... um sorriso que muitas mulheres podem fazer quando se pergunta se gostam de ser mulher. um sorriso de confiança por saberem o que significa, para si mesma, ser mulher. Sentir, pensar como mulher. Ser aquilo que nos distingue, e nos torna preciosas, com valor.
Um sorriso que por vezes nos damos a nós próprias, quando no silêncio, olhamos para nós mesmas. ou para uma outra mulher. No silêncio alegre, no silêncio dorido, no silêncio cúmplice...
Um silêncio que é paz, tranquilidade, que nos faz adormecer quando pensamos em nós próprias, que nos faz acordar a pensar nos outros.
Um sorriso... um silêncio... mesmo no meio da violência.
ou do amor.

sexta-feira, 4 de março de 2005

para uma Amiga...

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa"
Mário Quintana

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

na relva

Foto L.T., 1979

De um baú antigo, perdura no tempo
restos de um gesto juvenil
talvez uma dádiva incompleta
liberta das raízes
e o olhar? abstrai-te das grades
são apenas moldura
um modo de dizer
quantas perspectivas há para um só roseiral?
De trás? Pela frente?
Se te deitasses na relva, haveria somente o céu
... e as rosas...
vem deitar-te na relva, comigo,
húmida que esteja, que importa?!
o horizonte seja nosso olhar - mesmo se os fecharmos por instantes - vem
sente o peso da maior leveza
asas com perfume cor de pétala

domingo, 20 de fevereiro de 2005

Voto

Talvez mais do que em consciência, votei por consciência.
Agradou-me ver a afluência das pessoas às mesas de voto... há muito tempo que não as via tão concorridas - as notícias das previsões confirmam, a abstenção desceu...oxalá, seja por uma "boa" causa. Ou pelo menos quererá significar o desejo de uma maior participação de cidadania? De tomada de consciência que se os eleitores/cidadãos quisessem, muitas (ou algumas) coisas poderiam mudar?
Aguarda-se os resultados... e mudanças?

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

O Beijo


Fotografia de Anne Brigman

Não importa que não fosse ontem.
Soubesse eu aliviar a tua dor
- não o soube
ontem... -
permaneci em pensamento,
em duas flores
uma vermelha
uma outra branca
uma por nós.
outra para... tu sabes!

Talvez não saibas
o que pedi
no silêncio,
uma flor, Tu,
e um Beijo.
Nós.

Ao sorrir revejo o que sentia
ontem.
Haveria uma flor
um beijo
hoje, amanhã ou
um dia.

Pois não somos nós...
Desejo?!

domingo, 13 de fevereiro de 2005

World Press Photo 2004


foto retirada de BBC News

Categoria: General news singles; 2º lugar
David Robert Swanson,
The Philadelphia Inquirer
Soldado americano durante uma emboscada no Iraque, 6 de Abril 2004



Com este post pretendo também fazer uma pequena homenagem a alguém que... Nem sempre as escolhas de vida, de uma vida dura... mais dura do que quem está de fora, alguma vez se aperceberá realmente... correspondem à dureza de um olhar, de um sentir. A humanidade pode-se encontrar nos pequenos-grandes gestos, no confronto, olhos nos olhos, com as próprias fragilidades de apenas ser homem.
Surpreendes-me sempre. sabias?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Uma "nova" casinha...

Estou numa "nova" casinha... finalmente mudei para o MT 3.11. Ajudaram-me nesta mudança dos "caixotes", o grande incentivo do LE.e a proficiência da equipa do Weblog, pelo que lhes agradeço. O endereço é igual, mas de 'face' renovada... e ainda algo incompleta... Agora só preciso de mais um tempinho para me ocupar da 'decoração'...

Guantanamo(s)


Jean-Marc Bouju, Associated Press, Iraque, 2003



Júlio Pomar, Guantanamo I, 2004

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

G. de Gralha

G. tinha sempre muita coisa para dizer. Como tal, falava quase ininterruptamente, falava, falava. Por vezes falava tanto e tão depressa que não se percebia o que dizia. Outras, quando não se lembrava de mais nada para dizer, repetia, duas, três, quatro vezes. A dado momento, quando não houve mais nada para dizer, a sua boca, de tão habituada a articular sons semelhantes aos de uma língua, continuou a falar, a falar…

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

É GRAVE!!! É lamentável isto acontecer mais uma vez na blogosfera!!!

Andaram a comentar em meu nome e com o endereço deste blog, num blog que eu nunca sequer visitei. Não sei se é caso único, não faço a mínima ideia de quem o fez, nem com que intenção. Demarco-me desde já deste lamentável incidente, constatando decepcionada o quanto é fácil gerarem-se equívocos e fraudes.
Cheguei a esta triste conclusão a partir das visitas que fizeram ao meu sitemeter, a partir desse blog. Não vou colocar sequer o link do blog, porque que não é meu costume linkar ou ir a sítios onde os donos do blog têm como designação da sua lista de links: Pocilgas Por Onde Chafurdamos Também, e muito menos comentar.
Não é esta a minha atitude na vida, e também não aqui.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005


Leonard Freed, Amantes numa cama, 1971


No calor da noite fria
em essências de algodão
apaga-se a luz.
Soam acordes de silêncio
e as faces mudas do escuro.
O espaço ausenta-se
em corpo único de amantes
pela funda madrugada
nua
num abandonado adormecer

e o escuro funde-se em lua
quente.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Começar de novo…

Há alturas na vida em que se fazem escolhas. Escolhas de percursos de vida, novos. Atiramo-nos para o 'abismo' porque intuímos que este será sempre mais positivo do que a terra em que nos movemos. Terra que pode ter o aspecto de sólida como a rocha, mas também o seu sentir é gelado, ou então pode encobrir terras movediças que nos vão engolindo a pouco e pouco.
Então lançamo-nos no abismo, num abismo que nos faz primeiramente, sentir que afinal tínhamos asas, muito mais asas do que julgávamos. Deixamos em terra todas as amarras de que nos sentimos prisioneiros, e a força que nos impulsiona é enorme porque vital. Porque sentimos o dilema: ou sufocamos até à morte, ou respiramos até…
Este aprender de uma nova respiração se a principio é instintivo, depois, aos poucos, tem de ser reaprendido… como alguém que começou a dar os primeiros passos e depois repara que está a andar, e é então que, nessa percepção, nessa consciencialização, se vê e, se pergunta, afinal como se anda.
Neste novo andar, depois da euforia, a procura de um caminho. Sentido como longo porque vivido intensamente – esperando nunca mais o sentir longo, pela vacuidade. A consciência de se caminhar pelos próprios pés, definindo os trajectos na medida das possibilidades, dos encontros e desencontros. Rumos que se descerram, para logo serem quebrados. O sentimento de sermos pequenas peças de puzzle de um micro-cosmos social que os outros vão ou não tentando encaixar nas suas vidas, nos seus interesses estabelecidos. No fundo, marionetas com alma, que não podem desistir, mas que não se podem abandonar completamente aos fios de um qualquer comando. E nem sempre é fácil ao perguntarem-se a si próprias, com a alma dorida: haverá o meu 'lugar'?
Há que continuar, sem quebrar, mas sem ceder… porque Vale a pena acreditar…

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Referência, cópia ou plágio? Ou...


apenas não estar para ter trabalho em "puxar" pela cabeça??
Ou esqueceu-se de pôr o link? Mas se assim fosse, porque não pôr o meu post completo?

De qualquer modo... foi por uma simples busca através do Google... fiquei admirada: não sabia que as minhas palavras eram dignas de tal reprodução


pela menina Sónia...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005





Por entre pedras


da calçada


desprende-se o riso


sem eco

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

Oito


Foram oito as flores que me deste.
mais do que um arco-íris.
Neste, são apenas sete
as cores, sobra uma outra
invisível, feita de magia.

Oito flores de mil cores
ou beijos
ou de um abraço silencioso
de valor maior que ouro

Dois círculos – formas (im)perfeitas
justapostas em vertical infinito.

Verde...

Olhou o mundo e surpreendentemente este estava verde.
Mirou-se no espelho e viu-se verde.
Só mais tarde percebeu que tinha caído numa lata de tinta.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

cem silêncios

Chamaram toda a gente; algumas gentes apareceram. A presidente desceu à rua, ou mais rigorosamente, ao largo. Umas palavras, depois o silêncio. Três minutos. Os automóveis imperturbáveis, ruídosos, continuavam a passar fronteiros ao largo. Depois, mais umas palavras, quase inaudíveis por causa dos motores. No final, a presidente subiu as escadas e as gentes dispersaram-se.... sem silêncios.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Politicamente incorrecta... eu sei!

Nada substitui nada...
Nada é menor do que outra coisa qualquer...
Talvez nem venha a propósito... o único propósito é que agora está a acontecer algures...
sim, por lá, também.
30/10/2002: cerca de 3,4 milhões de crianças morrem de fome por ano nos países pobres.
(e não há desactualização nenhuma, apesar dos dois anos passados) -
neste link, outras estatísticas (número de pessoas) que nos fazem pensar,
e quem sabe, um dia agir mais (falo por mim, também!).