domingo, 30 de outubro de 2005

A não-hora

A hora sem tempo. O tempo que volta para trás e se repete. Era uma hora de uma madrugada que se inicia... duas horas... de súbito, 1 hora, outra vez.

Ou, em tempos de primavera, uma hora que deixa de soar. Ausente. Inexistente.

Tempos.

Tempo que passa a correr. Como tivesse sido ontem, ou há poucos dias, que se marcava o final de tempos de escolha, quando se agarra a vida com as mãos e se enfrenta, olhos nos olhos, sem mágoas e receios. A vida, ou nós próprios?! Em que se descobre que o maior medo da vida é o medo de se ter medo... de não se ser capaz.... de não se ser livre...

E aí está... não que um papel faça isso tudo... até porque não se fez por causa do papel... O tempo quando é tempo, fá-lo. Porque mesmo que não exista a hora, ou exista em duplicado, deixamos de ser, de querer, de estar como antes. Porque fazemos coisas. Que nos tornam diferentes.

Passaram mais de três meses. Apesar de estar quase tudo na mesma, algo muda. Quase imperceptível. Ontem não foi igual a hoje. Hoje...

E nesta hora, inexistente, escrevo sobre os tempos. Saboreando por instantes, o gosto de escrever.

Por vezes, mesmo ultimamente, um pouco esgotada de tanto escrever (não aqui... por outros lugares)... por vezes, sinto que a escrita é a minha fala.

Esta hora inexistente (em que, no fundo, não quero saber desta não-hora para nada), o pretexto é somente, escrever. Falar. Falar sem cansaço. Sem pressões. Num ritmo sem relógios. Sem imposições. Sem tempo(s).

Atrasem-se os ponteiros.

O tempo não pertence ao relógio.

sábado, 22 de outubro de 2005

sábado, 8 de outubro de 2005

tudo o que existe

o sopro soando no colo
a mão estendida nas costas
o corpo demorando-se no corpo
leve adormentar
num cansaço que não fatiga

tudo o que existe

o soerguer do rosto
para o húmido contacto
num demorar
quase parado

tudo o que existe

o surdo roncar do motor
perpassando a janela
desperta sem acordar


tudo o que existe


o silente fim de tarde
movendo-se sem lugar


tudo o que existe


o respirar

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Amor não é dor

Amor não é silêncio quebrado pelas lágrimas revoltas na face. Amor não é grito deseperado. Não são palavras escritas. seja qual for o momento. Nem são as palavras lidas, sob a luz oculta do dia. Não é a mudez do sentir. Nem um tartamudear sem sentido. Amor não é pesar. Não é passado. Nem destino. Não é querer viver ou descobrir mistérios, pois o único segredo reside na sua vivência, dia após dia. Não é verbo que tenha pretérito, é palavra cheia de presentes.
É...


um sorriso aberto
como asas de uma gaivota