quarta-feira, 7 de julho de 2004

A minha gata e o Gaspar

Desde que tinha um mês de idade, a minha gata nunca esteve em contacto com outros animais. Mesmo com pessoas é um pouco associal, não que agrida, mas não permite normalmente grandes contactos… é um pouco bicho do mato com os outros. Comigo é terna e meiga, mesmo mimada. Sim, dei-lhe mimo, muito, mas também se não o dermos a quem gostamos, vamos dar a quem? Dei-lhe mimo, mas também limites – anda por toda a casa e nunca partiu nada. Há 5 dias atrás, a minha gata teve uma grande surpresa… recebeu a visita, para passar umas 'férias', de um gato, o Gaspar. Preto, brincalhão, meiguinho, de vez em quando com uns repentes… Estava curiosa relativamente à reacção dela. O primeiro contacto, a cerca de dois metros, resultou em ‘bufadelas’ e eriçamentos.
O Gaspar, sabendo-se em território alheio, desviou o olhar, deitou-se, manteve obedientemente – que remédio! – a distância. Qualquer tentativa de aproximação era rechaçada com semelhantes e enérgicas bufadelas e rosnares. Pareciam dois felinos selvagens em interacção numa qualquer savana africana. E eu que não sabia que tinha esta ferinha em casa! Ao longo destes 5 dias, a distância entre eles tem-se vindo a encurtar… já os vi a cerca de 20 centímetros, por breves momentos, e quando a minha gata acha (julgo eu) que ele está mais confiável e mais calmo; mas esta situação dura pouco, logo ele ‘abusa’ e recebe um aviso bem sonoro da parte dela… e recua. Por vezes, como agora, ele olha-a ternamente (estarei a antropomorfizar demais?), quieto, paciente, como se aguardasse o momento em que ela finalmente o deixará brincar – não, não há problema desse tipo, o Gaspar foi, infelizmente para ele, castrado -. Segue-a perseverantemente, regulando a sua distância consoante o humor dela. Fica desolado quando ela o repele, tanto quanto ela ficou ao vê-lo apropriar-se dos seus sítios de estimação… como a minha cama. Ontem dei com ambos na cama… um aos pés, outro à cabeceira, a dormirem… grande vitória, para quem quase não dormiu nas primeiras horas, tal era a vigilância a que se forçava. Daqui a uns dias, o Gaspar vai-se embora. Eu vou ter saudades de o ter cá em casa… e a minha gata? sentirá saudosamente a sua falta? ou ficará feliz de finalmente poder reocupar todo o seu território?

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