domingo, 31 de dezembro de 2006
último dia
sábado, 30 de dezembro de 2006
uma mãe ou uma tia
uma irmã mais velha ou mais nova
queria um colo de mulher
onde me contasse uma história
bem velhinha
uma história como a dela
como a minha
queria uma antiga cozinha
de portas largas e num canto
a lareira, cheia de vozes e
cheiros, com lágrimas ou risos
nos silêncios de irmãs
privilégio
José de Santa-Bárbara
óleo s/ cartão
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
bendita des-memória
da última passagem de ano ficou o riso, aquele riso.
e deste natal... o teu olhar pelas palavras, a minha emoção, o nosso abraço. a tua pergunta. é sim, de felicidade. foi, sim, de me/nos tocarmos.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
interrompida pairava escorregadia pelas águas.
gaivotas julguei eu que na noite tinha gritado
ou sonhado, deixem-me ir convosco,
mas elas estavam ali atracadas no silêncio do cais.
as outras, apenas aves, das que vão e
vêm quando é tempo de ir e vir.
e vinham para logo irem, muitas, quais fiapos jorrando
cada vez mais e mais, voando com o olhar
já na foz, tal como aquela correnteza imperceptível
da água. já não era um bando, era um pano
de aves escuras em contraluz, deslizando
entre dois panos cerúleos,
juntando-se lá longe como uma só
asa dançando evocante.
e em revolto véu romperam o horizonte.
no cais em silêncio, eu e as gaivotas.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
Natal à beira-rio
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira
Lugar(es) Efémero(s)
Primeiro no blogspot, depois no weblog.
Em Setembro foi a despedida e, passado dois dias, abri este outro lugar.
Porque escrever é-me necessário. Seja em que lugar for, aqui, ali, num qualquer pedaço de papel.
Hoje é dia de Natal... um dia para 'nascer'.
Três anos ...
Efémero?
O que há de mais importante - perene - senão o que toca e permanece no coração?
Mais de três meses de ausência, aqui, desvelo - alguns já o saberão - o meu outro lugar.
Por razões diferentes - e como o tempo as faz acontecer - quis ir para um lugar onde se escutasse
(N)O Silêncio do Deserto.
Obrigada aos que ainda continuaram a passar por aqui.
[post escrito em lugarefemero.weblog.com.pt]
domingo, 24 de dezembro de 2006
presentes...
e há dádivas que nos deixam sem palavras. porque vão directas… tocam num qualquer âmago nosso.
os meus velhos pais natais dizem-me arranja tu a prenda, nós já não podemos caminhar. a deles que se compra, esperará talvez, não sei se terei tempo, também já esperou quase um mês. o gesto deles já é nosso, como sempre, para sempre. esse é uma oferenda. o outro é ‘só’ uma ‘coisa’ – cara, mas não deixa de o ser. prefiro as coisas que não são coisas. símbolos das outras. e ainda falta uma que vou dar. que também me vou dar... iremos receber.
como em criança, não o sendo, já – ainda - sinto um pouco a ânsia da véspera. do adormecer inquieto. dos pés frios. mais logo é natal...
sábado, 23 de dezembro de 2006
boas -s: cumprimentos, felicitações por ocasião do Natal e Páscoa; presente que se dá no fim do ano;
infâncias...
Monto a árvore, os enfeites – todos de outros anos, alguns de muitos, muitos anos – dispostos numa desordem segundo a inspiração e o olhar que se vai construindo – nunca sai muito diferente do habitual, fica – é - sempre diferente em cada ano -. testo as luzes, à noite quando escurecer, acendê-las-ei. no fim, a estrela – tenho à escolha duas estrelas, uma de compra, outra que eu mesma fiz há anos atrás. olho, não há que duvidar, é esta que coloco no pináculo. dou três passos atrás, observo a árvore, e sorrio.
e venho aqui contar, e agora ala… ainda há bastantes coisas para fazer até amanhã.
que espantoso, tinha acabado de escrever, toca o telemóvel. é uma amiga de infância. há mais de 20 anos que não nos falávamos, que não nos víamos. a última vez já tinha sido um encontro de adolescência. fiquei feliz. combinámos encontrar-nos. um destes dias
máscaras de natal
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
domingo, 17 de dezembro de 2006
vidas de tantos convencimentos, de certezas, de ilusões, de enganos. e como se acredita neles! mesmo convencidos do seu contrário, acredita-se. amarras, sempre amarras que tolhem. mesmo as que se cortam. as que se pensa que já se extirparam. mesmo as que se soltam.
o difícil não é o novo.
é o outro.
sábado, 16 de dezembro de 2006
graças...
Agradecer pelo que não temos…
Sem contar, vou desfiando… menos uma, duas… oitenta e oito bagas de amoras… como contas de um rosário que desconheço. novenas em nome de um outro nome.
Agradecer pelo que temos…
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
contrariando a geometria euclidiana
é o prodígio da geometria hiperbólica, já que não existe 'hipo-bólica'.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
do espírito natalício #4
Contudo, sei que o Natal está em mim. O meu Natal de criança. Fazíamos com a mãe, a árvore de Natal, com um pinheiro que íamos buscar à rua da frente, depois a areia e as bolas e as fitas... uma vez, fiz uma estrela para o topo da árvore. No fim, uns fios prateados para cobrir a areia, um papel de natal para esconder o balde. E o presépio, que foi crescendo, crescendo com múltiplas figurinhas. Eram todas importantes até o cordeirinho e a casa da montanha. O musgo que íamos apanhar, num domingo de manhã, ao olival. Agora, o presépio está em casa de minha irmã para os meus sobrinhos.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
domingo, 10 de dezembro de 2006
Dou as mãos à palmatória, e rimos os dois...
A Casa da Lenha
Daquele a que Eugénio de Andrade chamou 'anjo de pedra'. Um olhar de memória(s).
Memória pessoal, interiorizada; mas também memória colectiva de um país - porque a situação do país, desde a implantação da república até pós 25 de Abril, vai trespassando a sua/nossa vida. Daí que esta peça poderá ter uma componente pedagógica importante para as gerações que não vivenciaram nem conhecem as décadas 'cativas' do século XX. (se puderem levem os vossos filhos convosco a vê-la ).
E, claro, sempre a música, elemento fundamental nesta dramaturgia, desvendando a diversidade das obras do compositor, numa escolha criteriosa e límpida que fazem do texto, som e imagem um todo coeso e surpreendente.
Um apurado texto de António Torrado.
Uma óptima encenação de João Mota.
Uma sólida interpretação de Carlos Paulo.
Um excelente trabalho de toda a equipa.
Uma peça de qualidade, a ver sem dúvida.
Ainda uma das canções cantadas...
Oh pastor que choras
o teu rebanho onde está?
Deita as mágoas fora,
carneiros é o que mais há
uns de finos modos
outros vis por desprazer...
Mas carneiros todos
com carne de obedecer.
Quem te pôs na orelha
essas cerejas, pastor?
São de cor vermelha,
vai pintá-las de outra cor.
Vai pintar os frutos,
as amoras, os rosais...
Vai pintar de luto,
as papoilas dos trigais.
José Gomes Ferreira/F. Lopes Graça
sábado, 9 de dezembro de 2006
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
do espírito natalício #2
Se nunca fez muito sentido, cada vez faz menos. Parte delas vão ser mesmo obrigações sociais. Outras… as familiares, são simultaneamente mais complicadas e mais simples. Se dissesse que não dava nada a ninguém, explicando porquê, não me levavam a mal, eu sei; mas no fundo ficavam sentidos… e já tenho uma certa ‘reputação’ de ‘marginal’… e além disso, não gosto de receber sem dar, mas gosto de dar algo escolhido, algo que seja mesmo para o outro. Ou que eu tenha feito. Vai ser complicado este ano. Não estou mesmo para aqui virada – para o Natal? -. Consumismo infernal! Uma mascarada… deixa-me lá ir comprar uma…
do espírito natalício #1
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
domingo, 3 de dezembro de 2006
oito dias depois...
sexta-feira, 1 de dezembro de 2006
quinta-feira, 30 de novembro de 2006
Ângulos
Modelo. Pintora.
Nasceu em 1865. Cem anos antes... mais de cem anos depois, quase desconhecida. Posou como modelo, para diversos célebres pintores. Cada olhar, um ângulo. Nesses olhares, ela, no olhar dos outros. Nesses olhares, um (outro) nosso olhar.
por Degas
por Toulouse-Lautrec
por Renoir
Através do olhar dos outros, imagens tão diferentes. Ela.Pelo olhar de outros, cresceu o seu... e a necessidade de criar.
Não somente ser criatura, mas criadora. Ser outra, ser mais que o reflexo, objecto de olhares.
Por ele, uma pequena partilha:
A LUA NO CINEMA
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!
Paulo Leminski
Heterónimos?
ou o bailado de estátuas...
P.S. Eu que não gostava de You Tube e afins nos blogs, estou a começar a render-me...
terça-feira, 28 de novembro de 2006
Saio sem aquele objecto absurdo que dizem que nos guarda. – protege de quê? da força, da doçura da natureza? – quando saio da estação, uma desconhecida oferece-me a partilha do seu abrigo. Aceito por delicadeza. Felizmente só ia até a meio do meu caminho. A outra metade…
Chego ao ‘meu’ café com os cabelos guardados por gotas de água.
Durante o dia, foi a vez do sol desafiar-me … (e eu numa reunião)
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
noite alva
que se anuncia. de chuva e tempestade.
em casa nesta noite, mergulhou nas águas
quentes, banhou-se, perfumou-se. depois,
vestiu uma camisa leve, acendeu uma vela
e jantou. na tranquilidade do esquecimento
de si. na suavidade de um namoro, consigo. à luz
de uma pequena chama. chegou a hora
de se deitar. sob os ruídos da água
que escorre pela janela, adormece. quente dorme.
nada a acordaria daquele sono fundo. nada
a não ser aquele fragor surdo e longínquo que
se aproximava. como em sonho. um sonho.
não estava acordada. não estava a dormir.
vagamente ouvia, sem identificar. sente.
sente algo que dela se acercava. sente
os braços de um som, daquele som,
sem rosto, sem forma, enorme, imenso, amplo.
sente-os, envolvendo-a, num afago vasto,
largo. o abraço. enleado. cativos. encantados.
já não era ela, já não era o sopro. apenas. o enleio.
nos lençóis mornos as pernas nuas. quentes.
e do corpo, adormecido, entorpecido pela demora,
amanhece a chama. irrompe o tacto e o calor.
e o som abraço, desfigurado, nasce amante.
e no corpo nasce a pele.
e na pele, as mãos.
e o beijo, mais que beijos, carícias.
e o ardor. como se estivessem sob os raios de um imenso sol.
e o clamor. como se inventassem sob as vagas de um silêncio.
iluminados adormecem, clarões, trovões e corpos,
estancados. abraçados.
naquela morte.
o dia desperta alvo.
domingo, 26 de novembro de 2006
em todas as ruas...
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny de Vasconcelos, 1923-2006
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
terça-feira, 21 de novembro de 2006
do fingimento do amor
(começando a escrever sobre a estética do fingimento. fingimento do amor. recebo um mail sobre o Amor, e aí, o meu fingimento, a meu distanciar, racional, quebra-se momentaneamente. o escrever isto é também um fingir. um querer continuar a fingir que não é o que afinal talvez seja, ou não.)
A incorporação de alteridades, o ser dois, ao mesmo e a outro tempo, substancializa-se de forma ímpar nestes ‘entes’, poeta e amante, daí este inevitável paralelismo (ou equiparação); e não sendo acaso que se torna absolutamente visível na poesia de amor.
É no mundo fingido da poesia (ou do amor, que aqui se confundem ou fundem) que este jogo ficcional/criacional mostra a sua indiscutível verdade. O personagem-poeta desdobra-se não somente nos seus heterónimos, mas a pessoa/amante é ela mesma, várias ‘composições’ de si própria. instinto cénico? lúcida descentração de si? ou um esquecimento de si num outro?
A ‘máscara’ do amor é a que está mais próxima (como segunda – ou primeira - pele) do sujeito amante, mas simultaneamente é aquela que ele sente como mais estranha. E se é também pela sua natureza catártica, arrebatadora, é sobretudo pela potencialidade, pela possibilidade realizadora que ela suporta. É não apenas ser outro, mas ser o próprio que é em simultâneo um mesmo, tão ‘maior’ que se torna outro (não deixando de ser)
Perante tanto sentir, poeta/amante também necessita de uma certa ‘despersonalização’, intelectualização ou racionalização; é incomportável, física e emocionalmente, essa permanente e intensa experienciação/criação. Daí a transmutação no ‘próprio’, em consciente, ‘monótono’ e plácido estado (ou projectado estado). Mas esta é também a oportunidade que lhe permite ‘ver-se’ ‘maior’ e logo desejá-lo, assumindo de facto, como seu, o seu próprio ‘fingimento’.
(*) de poesias de Fernando Pessoa.
domingo, 19 de novembro de 2006
o doido e a morte
Raul Brandão, Teatro
Canções
Da música do Graça, as canções. Heróicas. Cantadas. Sem querer e por inevitabilidade comparo-as, ou melhor, chamo instintivamente à colação, as de Luís Cília. (que é feito deste músico?). Compositores de poetas. E no assunto de gosto, nem sempre a ‘razão’ condiz com a ‘emoção’. Nem sempre a sofisticação é preferível à simplicidade (de desafectação). Talvez sonoramente mais próximo das palavras; os sons da música servem os da palavra, não o inverso ao pretender a erudição.
As canções cantadas na infância, ouvidas, entoadas em pequenos ‘coros’ familiares. Que concorriam com as marcadamente populares infantis: que linda falua, o meu menino é de oiro, no alto da montanha. E a propósito desta última quase nem quis acreditar quando há uns meses me relembraram que a cantei a solo num palco da Gulbenkian quando era criança. Ido ao baú das memórias, depois de me dizerem, desenterrei uma tão vaga ideia, tão ténue lembrança… no lado esquerdo do palco, a cantar… agora penso, como é que eu não sumi pelo palco abaixo?! será que desafinei um pouco menos do que agora? pois só canto quando a música é mais alta que a minha própria voz. Gostava tanto que houve um registo mais nítido…
Adiante. São aquelas as verdadeiras músicas dos meus inícios. Das canções mais ou menos interditas. Das canções de um futuro: Acordai! Mãe pobre. Ronda. Adeus trigo. Jornada.
sábado, 18 de novembro de 2006
terça-feira, 14 de novembro de 2006
o que se descobre na Wikipédia...
(*) Ninfa deriva do grego nimphe, que significa "noiva", "velado", "botão de rosa", dentre muitos outros significados. As ninfas são espíritos, geralmente alados, habitantes dos lagos e riachos, bosques, florestas, prados e montanhas.
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
uma tarde diferente
Ivan Klima. "Amor e desencanto" (na tradução brasileira Amor e Lixo), Bertrand Ed.
Autor checo, nascido em 1931, de origens judaicas, esteve num campo de concentração com 14! anos de idade. O livro, uma boa surpresa. O que me levou a pegar nele foi o título... tipo deixa cá identificar-me um bocadinho com as minhas desgraças, não quero neste momento livros pesados. Azar... ou sorte a minha. as minhas desgraças entretanto já tinham voado e o livro, apesar de não ser excepcional, foi uma boa revelação. A personagem central, um homem, um escritor que escolhe ser um homem do lixo, vulgo almeida. Aqui e ali, referências a Kafka; e sempre a sua posição neste mundo e nas relação humanas, em particular, a sua própria relação com os afectos, com o amor, com a solidão, com o(s) encontro(s).
"o paraíso não pode ser fixado numa imagem, porque o paraíso é o estado do encontro. (...) O paraíso é, sobretudo, o estado em que a alma se sente limpa." (última página)
domingo, 12 de novembro de 2006
faz-de-conta
regresso à infância. à minha infância. brincando. brincando de faz-de-conta. faz-de-conta que brincamos. faz-de-conta que construímos uma casa. uma grande casa. com coisas bonitas lá dentro. à volta uma vedação. que não é fechada nem aberta. em torno de um tapete verde e cinzento. talvez mais cinzento do que verde. manchado. fazemos de conta que é preciso um lago. vamos construir um lago. um lago não de água. de terra. com paus que em vez de peixes, parecem tubos de aspiração. faz-de-conta que brinco. que estou ali a brincar. e de repente o jogo é outro. vamos brincar às escondidas. estou cá. já não estou. já estou mais uma vez. e não estás. eu estou atrás de uma árvore. tu? tu, não sei. se soubesse não era às escondidas. também podíamos brincar à apanhada. mas era preciso correr. e eu já não corro. só aos bocadinhos. o fôlego já não é o que era. maldito tabaco! não sei de ti. a sério! afinal o jardim era grande. como na sensação de criança. e em vez de um lago, fizemos vários. pequeninos. aqui. ali. fizemos? às tantas fui eu que os fiz. fiquei sozinha a brincar. faço de conta que estou a brincar. mexendo em legos. parece que brinco sozinha. todas as crianças, no fundo, brincam sozinhas. todas as crianças brincam a sério o faz-de-conta. começo a construir um castelo. brincando de princesa? desconstruo. –o. reconstruo. –o. concluo: não tenho peças. só um palco onde represento. onde jogo com duas bolas vermelhas. duas? não, uma para mim. a outra ficou quieta à tua espera. à espera que viesses brincar. já não são bolas, faz-de-conta que são maçãs. vermelhas. eu como a minha. a outra… a outra fica no cesto. e faz-de-conta que se faz tarde. o jogo a brincar acabou. vamos agora brincar a sério. como os jogos que começam a brincar e, a certa altura, sente-se que é afinal é a sério. com beicinho, com lágrimas e tudo. tudo silencioso. rodeio o nosso castelo. meio edificado, meio por acabar. no regresso a casa, a música do faz-de-conta que é música. ponho-a alta, tão alta que faz-de-conta que os baixos são distorcidos baixos superprofondos. alta para fazer de conta que não se ouve o que é a sério.
incorporeidade
sábado, 11 de novembro de 2006
-Eu não sei se a amaste, ou a amas... ou se simplesmente amaste-te através dela, amando o amor que ela sentia. Só o teu coração o saberá...
Calei-me. Podem as palavras, uma frase mudar, quebrar a distância que nem o próprio sentir aproxima?
__________________
Mais tarde, disse tranquila:
- Foi bom teres-lhe escrito, confessado o teu amor - mesmo ante a perplexidade dele -, o que querias do amor, do 'pequeno' amor que ficou por cumprir... em Amor.
Vem à memória a frase de Dante: amor que a nenhum amado amar, perdoa.
- Não te sentes mais liberta? com mais amor?
delicioso!!
"Em Portugal há só um homem - que é sempre o mesmo ou sob a forma de dândi, (...) ou de capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te ir: sem mola de carácter ou de inteligência, que resista contra as circunstâncias. É o homem que pinto (...) E é o português verdadeiro. É o português que tem feito este Portugal que vemos"
Agora... quem quiser que enfie a carapuça... e não me venham com 'o filho de boa gente...'
fui filha do vento
nascida de um ovo
de todas as cores
pela mão do sol e da água
- arco de sete íris -
subindo ao rochedo
com os olhos vendados
abraçei a frágua
e a bela luz de cera
no beijo feneceu
por atraída traição
muito errei pelo mundo
atraiçoando-me em mágoa
desgarrada constelação
pelo frio e antigo fado - anelo
atento o resgate ignorado
sexta-feira, 10 de novembro de 2006
privilégio
é sempre um privilégio ter amigos. sentirmos o afecto por alguém, partilharmos, em relação, momentos únicos que ficam na memória. na memória afectiva. um riso, uma frase, um carinho, um toque no braço, no ombro, na face, uma palavra dita em determinada entoação, um abraço, um olhar breve ou prolongado... o sorriso irónico ou triste ou uma espontânea gargalhada… o estar e o ser… é por, e com estas “pequenas coisas” que as pessoas se vão tornando grandes para nós. há pessoas com quem estabelecemos quase imediatamente uma relação especial, tal a empatia que sentimos. como se a conhecêssemos há mais tempo. como se a sua sensibilidade, a sua forma de olhar, de sentir ou de pensar o mundo fosse reconhecida como nossa. e mais especial se torna porque não acontece frequentemente. quando acontece, sinto-me privilegiada. poder receber o muito que têm para dar. poder dar a quem nos recebe de coração aberto. e se se experiencia alguma tristeza quando partimos transitoriamente (porque nestas relações não existe o temporariamente), também nos sentimos repletos, maiores do que somos.
e sempre me deu vontade – talvez ingenuamente - de compartilhar este sentimento singular com os outros de quem gosto, de participarem na minha alegria.
quinta-feira, 9 de novembro de 2006
domingo, 5 de novembro de 2006
um pássaro encontrou o caminho de nossa casa
nele, poisaram os meus olhos, no beiral
estática fitava. o mel e o negro das suas penas
uma a uma que polia. trémulo agitado num ápice
adiado, a um ruído é quase fugidio
de respirações suspensas habitadas nos olhares
brusco levanta voo escondido atrás das asas
despovoada cravo-me nas vidraças
sábado, 4 de novembro de 2006
à volta de um pano cru
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
e a propósito de atarantada... é como regressar à superfície e levar com uma onda, das grandes, na cara... até se deixa de ver o que quer que seja.
quinta-feira, 2 de novembro de 2006
quarenta e um risos
da morte choremos os mortos
choremo-nos
e aos mortos-vivos,
com eles na urna
descansemos
para sempre na paz
dos senhores,
sele-se o caixão antes do fedor
antes
dos torrões a flor
tapa-se a cova vira-se
costas vai-se à vida que a morte é
certa e dor
em cada degrau a descida
aos infernos
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
terça-feira, 31 de outubro de 2006
Encontrei esta frase, transcrita por mim, num caderno antigo. nessa altura, acrescentei (confúcio). não sei onde a li ou a ouvi. mesmo não me agradando o termo merecer não encontro nenhum que o substitua. fico com o seu melhor sentido.
Volto a encontrá-la neste blog com uma antologia de Mário Quintana.
Nenhum sentido encontro à célebre frase:
"Cada um tem o que merece"
é falsa, é injusta, desprovida de bondade. mas é a que mais se ouviu, infelizmente.
Não. Há muita coisa que ninguém merece! Alguém merece morrer à fome? Adoecer? Alguém merece não ser pessoa? Não, nem dizendo a brincar, se ouve incólume...
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
Episódios femininos
Ao longo do dia, espaçados comentários, elogios ao cabelo. Num local de trabalho exclusivamente feminino não é de estranhar. Menos uma. uma das que esperaria um reparo imediato. Mas não julgo que a razão mais forte seja a mais evidente (em bom português, dor de cotovelo), é o nosso progressivo afastamento (ando sem paciência para a incompetência*), mas sobretudo porque tinhamos já falado de cortes... de cabelo, tendo-me proposto a sua cabeleireira. Quando a vi depois de ter utilizado tais serviços, afirmei para mim própria que nem de graça iria lá. Era um pavor.
Mas o que mais me tocou aconteceu no café onde vou à hora de almoço. Duas moças simpáticas brasileiras que já conhecem os meus hábitos. Uma delas, ar de rapariga novinha, cerca de 20 anos - e já tão longe de casa a ganhar a vida - aproxima-se e diz, com uma voz extraordinariamente doce, cantada como só falam os brasileiros, espontânea, quase deliciada:
- O seu cabelo está tão bonito!
O que eu poderia responder? apenas o que senti: - gostei tanto que mo dissesse!
* Se estivesse identificada, aqui, talvez não devesse ser tão explícita... mas não fingimento, nota-se bem no olhar que mostro à pessoa e vou-lhe dizendo de outras formas.
domingo, 29 de outubro de 2006
almoço tardio
aqueço a água no micro-ondas. barro bolachas quadradas com o doce de abóbora. abóbora e pinhões. doce feito numa tarde de outono. por mãos de ternura. costuma-se pôr nozes no doce. não havia nós(es) só pinhões. pequenos e esguios. na água, uma infusão, uma fusão de cidreira e mel. àquela os gregos designavam-na por erva do mel de abelha. seiva nectár. oferta desejo doce dos deuses, dos céus.
sábado, 28 de outubro de 2006
Vem...
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo canhões
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
...
Pra nao dizer que nao falei de flores
(Geraldo Vandre) cantada por Simone
Por nós.
talvez um dia saibamos...
ser amantes amadas.
sexta-feira, 27 de outubro de 2006
quinta-feira, 26 de outubro de 2006
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
os educadores... do povo
- Votei?
- No português mais...
- Ah! Não! Nem vou gastar dinheiro com as ideias que uns sujeitos resolvem ter...
- Mas pode-se mandar por mail. Só se paga telefonando ou por SMS. O prof. Marcelo disse, no outro dia, que já votou.
- Ah! O professor...
- Sim, o nosso grande professor...
- Pois, o educador. O educador do século XXI. Pois é, nos anos setenta tínhamos o nosso Arnaldo de Matos, no século XXI é o Marcelo, o grande educador... do povo.
(sinal dos tempos... acrescento agora)
terça-feira, 24 de outubro de 2006
Se
Se a nossa mulher não tivesse um amante... Se tivessemos encontrado aquele conhecido que naquele momento sabia de um trabalho que queríamos muito... Se a média de entrada para a faculdade nos tivesse colocado noutra academia, ou noutra cidade... Se tivessemos parado naquele instante em que aquela pessoa de que já esquecemos o rosto, nos olhou acidental ou intencionalmente na rua... Se morassemos noutra localidade com outros amigos, outras relações... Se tivessemos mais ou menos 15 anos... Se tivessemos dito aquela palavra, feito aquele gesto... Se tivessemos outros pais, ou irmãos... Se os nossos pais não se tivessem amado momentos antes da nossa concepção... Se...
a nossa vida poderia estar repleta de Se's.
Haveria uma infinidade de Se' s relativamente ao que poderia ter acontecido, sido, existido, ou ainda não acontecido, não sido, não existido... ou àquilo que nós julgaríamos que poderia ter acontecido ou não, sido ou ...
E se uso o tempo passado, uso erroneamente, porque no Passado não há um único Se.
A existir, o Se é do porvir (por-vir).
Enquanto o Futuro não se torna Presente...
Enquanto ainda podemos agir.
domingo, 22 de outubro de 2006
… antes da hora do sol do meio-dia…ou... na raiz de uma árvore
sábado, 21 de outubro de 2006
Espelho meu...
Como na história da Branca de Neve, há espelhos. Espelhos que reflectem o nosso melhor lado. Ou outros, em que o que incide é o que de pior existe em nós. E todos somos como a madrasta: diz-me espelho meu, há mulher(homem) mais bela(o) que eu? (poderíamos seguir uma outra linha… não quereria a madrasta, no fundo, ser apenas amada? Nem que para tal tivesse de eliminar a concorrência?)
É isso que procuramos no amor. Ou o amor também é isso um espelho... quanto mais amamos, mais nos amamos. Sermos considerados os mais valiosos, os únicos.
Poderia ter ido buscar o livro Justine de Lawrence Durrell, mas aquela história de encantar traz-me melhores recordações. Espelha um lado melhor…
private post
nem é de sapatos...
por ironia, de um pequeno electrodoméstico.
e nem uma lágrima...
Está guardado...
arrumado, como tanto insistias. o passado.
Falta um outro pedaço... pelo menos o meu... as fotos em que estou eu.
e não sei de uns papeis que eram só meus, desapareceram.
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
des-montagem
A sala quase vazia, hoje; amanhã, voltará a animar-se de cores, outras. A nostalgia orgulhosa de a ter visto plena, de a ter feito inteira. A melancolia da antevisão da próxima; não terá a mesma emoção e a inocência da virgindade.
silêncio, memória, marítimo, reflexos, pormenor. Sessenta e oito grandes detalhes de algo desmedido. Irrepetível. Sucedeu no ano da graça de dois mil e seis.
últimos instantes
terça-feira, 17 de outubro de 2006
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
às 4 da tarde...
A importância dos lugares. mais do que os rostos. esses, muitas vezes esqueço-os ou não os identifico instantaneamente. dos lugares raramente me perco. mesmo que sejam lugares de uma única vez. saber voltar a esse sítio é como soubesse regressar a algo que sou.
Foi ontem. hoje. lugares diferentes. o mesmo. o da memória. simultaneamente longínqua e próxima - intrínseca. da memória incompleta. acrescentada. o desejo na memória. o que não foi, mas que lá estava. as rectas de um caminho nem sempre passam por lá outra vez - nunca passam. percorrem outros mesmos lugares.
Este está diferente. igual diferente. como nós. como a maçã que acabei de trincar sentada no gramado. está temporariamente fechado, parcialmente fechado. há acontecimentos de que não fazemos parte. não são nossos. os nossos.
Olho para o outro lado. a margem onde já estive. ainda não me vi. Vi sim. desejo de realidade criada. olho bem, para lá. está lá tudo, quase tudo. falta... além, só falta o hoje. o agora, aqui.
Sei que daqui a pouco me vou perder nos rostos e nas figuras sem rosto, inclinadas, tombadas, nas árvores despidas, em paisagens desoladas com casas. vou ser a minha própria personagem. ser a mão que a criou. e apenas um olhar a vislumbrará.
Por ora escuto o som do vento, o restolhar das folhas das árvores, o retombar das pedras de outros tempos, o silêncio da cidade.
E olho. olho para o lado de lá. bastava atravessar a ponte...
domingo, 15 de outubro de 2006
Transportando o som dos violinos, saio para a Rua da Vigorosa, talvez no número 770 encontre entre os rostos, um que seja o deste Bach.
sábado, 14 de outubro de 2006
Amor? aonde?
em que caminhos nos vamos cruzar
senão nas areias quentes deste deserto
na folha reflectindo a flor
nas gotas da madrugada que ornam a janela
na espessura dos veios de uma madeira seca?
iremos olhar-nos
ou pela transparência
seremos espelhos
de sussurrantes vozes?
amor meu, serás dedos agarrando a água
e mãos alígeras como aves
e teus dons os de encantamento
em melodias de vocábulos?
Não te vejo amor de dia escuro
pois por maldição nem te procuro.
aonde estás, meu amor?
sexta-feira, 13 de outubro de 2006
No país dos conhecidos
Isto tem, às vezes, a 'graça' de uma grande 'família'.
Mas, a outra face, pode também ser uma certa 'desgraça'... ser 'visto' por outras razões que não apenas... o que se é.
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
quarta-feira, 11 de outubro de 2006
Ainda se justifica o feminismo?
"As mulheres decidem 70% dos divórcios"
"1 em cada 3 mulheres foi vítima de violência"
"Dunia", de Jocelyne Saab, realizadora libanesa (Beirute, 1948)
Não haverá uma relação entre estes três tópicos?
terça-feira, 10 de outubro de 2006
Cão ou gato?
Eu tive uma pastora-alemã, linda. - gosto sobretudo de cães pastores (guardadores), grandes e peludos, fofos. Leais, ternos, mas não lamechas. Que saibam (como os animais sentem e sabem) rosnar ao "dono"(*) se este é injusto. Ás vezes irrita-me a docilidade, ou antes, uma certa submissão dos cães - irem ao encontro quando o outro não merece.
Tenho agora uma gata. Siamesa. O mais canino dos gatos. Sempre tive gatos quando, há muito, muito tempo, vivia em casa dos meus pais. Gosto muito de gatos. Esta gata é especial (não porque é "minha", mas porque a conheço e a amo), é afectiva, meiga, arisca, amua quando eu não lhe ligo o suficiente, mas não fica ressentida, é autónoma e não me liga nenhuma quando não está para aí virada. E eu respeito esse modo de ser. Mas também ralho quando entendo que devo. Por isso, convivemos bem. E respeitamo-nos. Adoramo-nos quando é tempo de amar, estamos sós quando queremos estar sós. E falamos uma com a outra, muito fala ela!. (agora está aqui, a meu lado, dormindo)
Muita gente diz que gosta dos animais, mas no que respeita a gostarem daquele animal, com aquela "personalidade", isso é uma outra história. Dos gatos é paradigmático, à primeira vista "que fofos, que queridos", mas quando vem o primeiro arranhão, ou quando ele não vem ao bichanar, pensa-se logo "os gatos só fazem aquilo que querem", "os gatos não gostam dos donos", como se fosse um defeito ou como se fosse um sinal inequívoco da falta de afectividade dos gatos. Realçando imediatamente a diferença em relação ao cão - mais um esterótipo. Em vez de se tentar compreender, ao invés de ter a delicadeza e o respeito de tentar entender aquele ser, julga-se que se é dono. Como tal, o bicho deve corresponder / obedecer, em termos comportamentais e de personalidade, aos desejos do seu "dono".
Há gente que não merece os seres que tem a seu lado. Gosta-se da aparência do bicho, ou daquilo que ele significa para si mesmo. Não amando, na realidade, o que eles são... Não amando para além de si próprio.
(*) Esta palavra 'dono' é repugnante!!!!
segunda-feira, 9 de outubro de 2006
demiurgo. Também não o conheci. Nunca
se apresentou nem de fraque ou de
farrapos. Alguém, descendente de Platão
impingiu-nos que poesia era amor
ou vice-versa, pouco importa. Nada
disto é imortal. Talvez porque
já não há - nem nunca houve - começos.
Até mesmo aquele que teve todos os nomes
no mundo, nada criou. Agarrou na terra e no
ar, no fogo e na água, agitou, deitou
uns pózinhos perlimpimpim e eis-nos!
Nós, para além de umas quantas poeiras que
continuam a girar - feitas baratas tontas -
pelo universo a-fora, uns sujeitos com
formato de gente a pensar que
o somos
feitos de amor e poesia.
domingo, 8 de outubro de 2006
sábado, 7 de outubro de 2006
sexta-feira, 6 de outubro de 2006
Dos Lugares onde se sonha...
We'll meet again,
Don't know where,
Don't know when,
But I know
We'll meet again
Some sunny day.
Keep smiling through
Just like you
Always do
Till the blue skies
Drive the dark clouds
Far away.
So will you please
Say hello
To the folks
That I know
Tell them,
I won't be long.
They'll be happy to know
That as you saw me go
I was singing this song.
(espantosamente cantada por Vera Lynn)
Quando um amigo nos diz
"desejo, um dia, saber que és feliz"
Embarga-se-me a voz, ficando o sentir
Neste mundo, há pessoas que
mesmo na sombra, nunca esqueceremos
Sempre. Com um sorriso.
quinta-feira, 5 de outubro de 2006
quarta-feira, 4 de outubro de 2006
?
Na exigência de resposta, ouve-se o silêncio. Ou palavras in.significantes.
No amor, não há perguntas.
Estas são da esfera do desamor. O seu princípio. O seu fim.
No amor. O silêncio do olhar.
Transitória mudez
Nojo Repulsa
Num ímpeto, oferecer o corpo ao mais vil dos homens
para me expurgar de ti.
Sobre os escombros de Hera, erguem-se as asas de Fénix.
terça-feira, 3 de outubro de 2006
Nome esboçado
o nome que pronunciava
- Fugidia voz trazida pela alegria -
Chamava-te meu amor como quem apetece
desejo
Agora sei que não eras tu
Soletro-te… silêncio
segunda-feira, 2 de outubro de 2006
Pode-se exigir que nos amem de um determinado modo?
Queremos que nos amem, sim. Mas não é apenas isso que se deseja; muitas vezes deseja-se não apenas a "quantidade", ou melhor, o estado de amar, mas a sua "qualidade", a forma de amar.
"- Podes dizer que me amas, mas fizeste aquilo que revela que não amas.
- Alguém que ama, não faz isso"
Quantas vezes já vimos, lemos, ouvimos este tipo de afirmação?
Todos nós queremos ser amados. Mas quantos não quererão isso a qualquer preço? isto é, alguns fazem tudo para se sentirem amados (o que é o mesmo que dizer, aprovados, aceites, ou num caso extremo, sentirem que só são Pessoas se forem amados).
Outros têm um especial "jeito" para rejeitar qualquer amor. Qualquer manifestação amorosa é, para eles, e ambiguamente, um modo de testar o amor do outro. A sua rejeição aparente não é mais do que a afirmação de que se o outro apesar disso, de todas as tentativas de afastamento para o desamar, o continuarem a amar, então talvez o amem mesmo. Este é um comportamento, manipulatório relativamente ao outro, que nunca se vai esgotar porque é necessário sempre mais e mais... É o sujeito amado que exige constantes e incansáveis provas de amor.
Se este último padrão é obviamente uma manipulação do sentimento do outro, o primeiro não deixa de o ser também. Porquê? Porque normamente vem associado a afirmações: "Eu até não peço nada", "eu fiz isso por ti, não por mim". Porque nunca o amor do outro pode, por si só, tornar-lo pessoa. Mas também porque está associado a uma exigência inversa: "Eu que te dei tantas provas de amor... (e tu retribuis-me dessa maneira)"
Ou indo mais além, o que quer ser amado vai-se colocando a ele próprio numa posição de subalternidade, de "indignidade", de dependência vital, que o amor do outro pode facilmente tornar-se pena. Pena e não Compaixão (isto é outra coisa). E quando há pena, quando a piedade toma conta da relação amorosa, esta deixa de o ser, para ser um outro tipo de relação.
Nestes dois modos de amar, ou de querer ser amado, há uma constante: a falta de liberdade. A coerção, a opressão do sentir de um relativamente ao outro.
Estes são dois casos típicos, paradigmáticos, mas que são mais comuns (oh, infelizmente são!) do que aparentemente se pensa.
Na realidade, há mais variações destes "jogos de poder", a que desgraçadamente chamamos de relações, do que gostamos de admitir ( e muito menos quando se passa connosco próprios).
O amor é uma necessidade humana, sim, mas talvez mais do que isso. É, talvez, a maior das condições humanas.
Nota a posterior: Curiosamente ao reler, vi que algumas destas considerações podem aplicar-se não sómente àquilo a que se convenciona chamar de relação amorosa entre duas pessoas, mas a muitas relações que as pessoas têm com os outros, e até mesmo com coisas...