segunda-feira, 16 de outubro de 2006

às 4 da tarde...

Não tinha voltado àquele lugar desde aquele dia. memória sobre memórias. hoje e ontem e anteontem. sentada no sítio oposto. como se me visse do lado de lá, sentada. bastaria atravessar a ponte. como se me quisesse ver uma vez mais que não fosse essa vez.
A importância dos lugares. mais do que os rostos. esses, muitas vezes esqueço-os ou não os identifico instantaneamente. dos lugares raramente me perco. mesmo que sejam lugares de uma única vez. saber voltar a esse sítio é como soubesse regressar a algo que sou.
Foi ontem. hoje. lugares diferentes. o mesmo. o da memória. simultaneamente longínqua e próxima - intrínseca. da memória incompleta. acrescentada. o desejo na memória. o que não foi, mas que lá estava. as rectas de um caminho nem sempre passam por lá outra vez - nunca passam. percorrem outros mesmos lugares.
Este está diferente. igual diferente. como nós. como a maçã que acabei de trincar sentada no gramado. está temporariamente fechado, parcialmente fechado. há acontecimentos de que não fazemos parte. não são nossos. os nossos.
Olho para o outro lado. a margem onde já estive. ainda não me vi. Vi sim. desejo de realidade criada. olho bem, para lá. está lá tudo, quase tudo. falta... além, só falta o hoje. o agora, aqui.
Sei que daqui a pouco me vou perder nos rostos e nas figuras sem rosto, inclinadas, tombadas, nas árvores despidas, em paisagens desoladas com casas. vou ser a minha própria personagem. ser a mão que a criou. e apenas um olhar a vislumbrará.
Por ora escuto o som do vento, o restolhar das folhas das árvores, o retombar das pedras de outros tempos, o silêncio da cidade.
E olho. olho para o lado de lá. bastava atravessar a ponte...

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