segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Pode uma pessoa querer ser amada de determinada maneira?
Pode-se exigir que nos amem de um determinado modo?

Queremos que nos amem, sim. Mas não é apenas isso que se deseja; muitas vezes deseja-se não apenas a "quantidade", ou melhor, o estado de amar, mas a sua "qualidade", a forma de amar.
"- Podes dizer que me amas, mas fizeste aquilo que revela que não amas.
- Alguém que ama, não faz isso"
Quantas vezes já vimos, lemos, ouvimos este tipo de afirmação?

Todos nós queremos ser amados. Mas quantos não quererão isso a qualquer preço? isto é, alguns fazem tudo para se sentirem amados (o que é o mesmo que dizer, aprovados, aceites, ou num caso extremo, sentirem que só são Pessoas se forem amados).

Outros têm um especial "jeito" para rejeitar qualquer amor. Qualquer manifestação amorosa é, para eles, e ambiguamente, um modo de testar o amor do outro. A sua rejeição aparente não é mais do que a afirmação de que se o outro apesar disso, de todas as tentativas de afastamento para o desamar, o continuarem a amar, então talvez o amem mesmo. Este é um comportamento, manipulatório relativamente ao outro, que nunca se vai esgotar porque é necessário sempre mais e mais... É o sujeito amado que exige constantes e incansáveis provas de amor.

Se este último padrão é obviamente uma manipulação do sentimento do outro, o primeiro não deixa de o ser também. Porquê? Porque normamente vem associado a afirmações: "Eu até não peço nada", "eu fiz isso por ti, não por mim". Porque nunca o amor do outro pode, por si só, tornar-lo pessoa. Mas também porque está associado a uma exigência inversa: "Eu que te dei tantas provas de amor... (e tu retribuis-me dessa maneira)"
Ou indo mais além, o que quer ser amado vai-se colocando a ele próprio numa posição de subalternidade, de "indignidade", de dependência vital, que o amor do outro pode facilmente tornar-se pena. Pena e não Compaixão (isto é outra coisa). E quando há pena, quando a piedade toma conta da relação amorosa, esta deixa de o ser, para ser um outro tipo de relação.

Nestes dois modos de amar, ou de querer ser amado, há uma constante: a falta de liberdade. A coerção, a opressão do sentir de um relativamente ao outro.

Estes são dois casos típicos, paradigmáticos, mas que são mais comuns (oh, infelizmente são!) do que aparentemente se pensa.
Na realidade, há mais variações destes "jogos de poder", a que desgraçadamente chamamos de relações, do que gostamos de admitir ( e muito menos quando se passa connosco próprios).


O amor é uma necessidade humana, sim, mas talvez mais do que isso. É, talvez, a maior das condições humanas.

Nota a posterior: Curiosamente ao reler, vi que algumas destas considerações podem aplicar-se não sómente àquilo a que se convenciona chamar de relação amorosa entre duas pessoas, mas a muitas relações que as pessoas têm com os outros, e até mesmo com coisas...

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