segunda-feira, 27 de novembro de 2006

noite alva

foi numa noite. numa noite como esta
que se anuncia. de chuva e tempestade.
em casa nesta noite, mergulhou nas águas
quentes, banhou-se, perfumou-se. depois,
vestiu uma camisa leve, acendeu uma vela
e jantou. na tranquilidade do esquecimento
de si. na suavidade de um namoro, consigo. à luz
de uma pequena chama. chegou a hora
de se deitar. sob os ruídos da água
que escorre pela janela, adormece. quente dorme.
nada a acordaria daquele sono fundo. nada
a não ser aquele fragor surdo e longínquo que
se aproximava. como em sonho. um sonho.
não estava acordada. não estava a dormir.
vagamente ouvia, sem identificar. sente.
sente algo que dela se acercava. sente
os braços de um som, daquele som,
sem rosto, sem forma, enorme, imenso, amplo.
sente-os, envolvendo-a, num afago vasto,
largo. o abraço. enleado. cativos. encantados.
já não era ela, já não era o sopro. apenas. o enleio.
nos lençóis mornos as pernas nuas. quentes.
e do corpo, adormecido, entorpecido pela demora,
amanhece a chama. irrompe o tacto e o calor.
e o som abraço, desfigurado, nasce amante.
e no corpo nasce a pele.
e na pele, as mãos.
e o beijo, mais que beijos, carícias.
e o ardor. como se estivessem sob os raios de um imenso sol.
e o clamor. como se inventassem sob as vagas de um silêncio.
iluminados adormecem, clarões, trovões e corpos,
estancados. abraçados.
naquela morte.

o dia desperta alvo.

Nenhum comentário: