Há dias vagueando por aí, leio algo que me afecta, me atinge. "O amante é um fingidor." Quanta inteireza neste sentir que qualquer pessoa consciente de si já vivenciou.
(começando a escrever sobre a estética do fingimento. fingimento do amor. recebo um mail sobre o Amor, e aí, o meu fingimento, a meu distanciar, racional, quebra-se momentaneamente. o escrever isto é também um fingir. um querer continuar a fingir que não é o que afinal talvez seja, ou não.)
A incorporação de alteridades, o ser dois, ao mesmo e a outro tempo, substancializa-se de forma ímpar nestes ‘entes’, poeta e amante, daí este inevitável paralelismo (ou equiparação); e não sendo acaso que se torna absolutamente visível na poesia de amor.
É no mundo fingido da poesia (ou do amor, que aqui se confundem ou fundem) que este jogo ficcional/criacional mostra a sua indiscutível verdade. O personagem-poeta desdobra-se não somente nos seus heterónimos, mas a pessoa/amante é ela mesma, várias ‘composições’ de si própria. instinto cénico? lúcida descentração de si? ou um esquecimento de si num outro?
A ‘máscara’ do amor é a que está mais próxima (como segunda – ou primeira - pele) do sujeito amante, mas simultaneamente é aquela que ele sente como mais estranha. E se é também pela sua natureza catártica, arrebatadora, é sobretudo pela potencialidade, pela possibilidade realizadora que ela suporta. É não apenas ser outro, mas ser o próprio que é em simultâneo um mesmo, tão ‘maior’ que se torna outro (não deixando de ser)
(começando a escrever sobre a estética do fingimento. fingimento do amor. recebo um mail sobre o Amor, e aí, o meu fingimento, a meu distanciar, racional, quebra-se momentaneamente. o escrever isto é também um fingir. um querer continuar a fingir que não é o que afinal talvez seja, ou não.)
A incorporação de alteridades, o ser dois, ao mesmo e a outro tempo, substancializa-se de forma ímpar nestes ‘entes’, poeta e amante, daí este inevitável paralelismo (ou equiparação); e não sendo acaso que se torna absolutamente visível na poesia de amor.
É no mundo fingido da poesia (ou do amor, que aqui se confundem ou fundem) que este jogo ficcional/criacional mostra a sua indiscutível verdade. O personagem-poeta desdobra-se não somente nos seus heterónimos, mas a pessoa/amante é ela mesma, várias ‘composições’ de si própria. instinto cénico? lúcida descentração de si? ou um esquecimento de si num outro?
A ‘máscara’ do amor é a que está mais próxima (como segunda – ou primeira - pele) do sujeito amante, mas simultaneamente é aquela que ele sente como mais estranha. E se é também pela sua natureza catártica, arrebatadora, é sobretudo pela potencialidade, pela possibilidade realizadora que ela suporta. É não apenas ser outro, mas ser o próprio que é em simultâneo um mesmo, tão ‘maior’ que se torna outro (não deixando de ser)
“…que chega a sentir que é dor/ a dor que deveras sente”* ,
ou seja, sente as duas dores, a que deveras sente e a do fingido sentir, e quem sabe, uma terceira, a de um meta-sentir, a do fingimento de sentir
“porque verdadeiramente/ não sei se estou triste ou não”*.
Perante tanto sentir, poeta/amante também necessita de uma certa ‘despersonalização’, intelectualização ou racionalização; é incomportável, física e emocionalmente, essa permanente e intensa experienciação/criação. Daí a transmutação no ‘próprio’, em consciente, ‘monótono’ e plácido estado (ou projectado estado). Mas esta é também a oportunidade que lhe permite ‘ver-se’ ‘maior’ e logo desejá-lo, assumindo de facto, como seu, o seu próprio ‘fingimento’.
(*) de poesias de Fernando Pessoa.
Perante tanto sentir, poeta/amante também necessita de uma certa ‘despersonalização’, intelectualização ou racionalização; é incomportável, física e emocionalmente, essa permanente e intensa experienciação/criação. Daí a transmutação no ‘próprio’, em consciente, ‘monótono’ e plácido estado (ou projectado estado). Mas esta é também a oportunidade que lhe permite ‘ver-se’ ‘maior’ e logo desejá-lo, assumindo de facto, como seu, o seu próprio ‘fingimento’.
(*) de poesias de Fernando Pessoa.
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