terça-feira, 25 de dezembro de 2007
4
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
pequenos detalhes
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
eco do silêncio
dentro do silêncio
como uma câmpanula
como um ovo
(já escutaram os ecos do silêncio?)
como um refúgio
como braços abertos
fechados em torno de mim
o silêncio
dentro de mim
este silêncio não é ausência
do que vem do exterior
pois se ouço
as ondas baterem levemente no cais
o ancinho varrendo folhas amarelas de outono
o comboio rolando nos carris
o pousar de gaivota na amurada
o esvoaçar das penas de um gaio azul
as vozes de homens que passam
o breve assobio de ave despercebida
este não é o silêncio da terra
que se move e agita
abafada pelo ronco de um automóvel
este é o silêncio do mundo
do mundo onde já só falo
com o eco deste silêncio
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Lugares
É dos lugares que tenho mais saudades, dos lugares que percorri, que me percorreram. Lugares onde cresci, que me viram tornar-me mulher - chorar, rir e dançar -. Contam-se pelos dedos de uma mão esses lugares vividos - de vida -. Nem sempre quero lá estar, nem para sempre me ausentar. Lugares onde o estar se tornou ser. Este é um deles. Tão lugar como uma praia. ou uma ilha. nossa.
voltarei.
sábado, 15 de setembro de 2007
ver o mar
apenas o que nos mostram
muitas vezes ficamos aquém.. ou vamos além do olhar
brilhante
como o sol
incidindo nas aguas
ou o luar
brilhante
como o mar
a cor do mar
das cores do mar
o mar não tem apenas uma cor
é multiplo
e uno
azul verde cinzento
assim são as cores...
brilhante para quem vê
inquieto na sua substância, no que provoca
nasci na proa de uma embarcação
em que mar?em que águas? onde o mar é bravo e frio e onde há dunas e camarinhas
com uma vela latina
o barco mais bonito do mundo
(sabe o que são camarinhas?)
pérolas brancas das dunas
sou do mar e da praia e da terra e preciso de ar
e com os olhos que parecem o farol
na minha terra dantes, os bois lavravam o mar.
agora são os tractores
e um dia nem tractores haverá e não será nesse dia que devolveremos o mar ao mar
que seremos nós? que será de nós?
sem o mar
nada sei do futuro
não existe futuro
só as nossas expectativas presentes
irreais
o futuro é uma projecção limitada do nosso presente
escreve...
como quem passa tempo a ver o mar
quando olha o mar.... o que vê? uma onda e outra. como será a próxima? nunca saberá, até ao momento em que a vê. e o passado sempre pelos olhos do presente e em cada presente muda o passado
morreu na praia..........queremos lembrar aquela onda que já vimos...não lembramos, apenas temos a memória modificada por aquelas que agora passam
as ondas nunca morrem...
transformam-se em ondas presentes... e nas que talvez virão... maiores? menores? ou apenas penetram mar dentro e diluem-se
havemos de ir ao mar
havemos de ir ao mar das águas
(temos de morrer de alguma forma... não haveria melhor que no mar)
e quando se sai das aguas, molhada, o sorriso aparece e as pestanas coladas o riso às aguas
- não há duas gotas iguais -
a rir às águas, ao mar e ao homem que nasceu nas rias
de olhar da cor do mar
e rir.... rir até o sol se pôr? rir até nos atirarmos para cima das areias de cansaço de rir...?
e ver a areia brilhar
fustigados
cansados
e macia e fina
e sensual a areia.
e o sol quente
e o cheiro a maresia - a algas
o sol aquecendo a areia
cheiro a verde e mar
cheiro a flores do mar
e um monte de camarinhas nas mãos
de pérolas de dunas
veja o mar por mim....
domingo, 9 de setembro de 2007
terça-feira, 28 de agosto de 2007
terça-feira, 21 de agosto de 2007
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
outra palavra qualquer
sinto o silêncio necessário e contudo uma e outra vez o nego. a uma terceira talvez.
corre-se sem saber porquê. corre-se cansada. cansaço de quem procura a alma. não é alma mas pouco importa, é apenas outra palavra qualquer.
domingo, 29 de julho de 2007
sexta-feira, 6 de julho de 2007
domingo, 1 de julho de 2007
é assim quando finalmente se alcança a pergunta Fundamental da Vida, do Universo e Tudo Mais ("answer to life, the universe and everything")
sábado, 30 de junho de 2007
sexta-feira, 29 de junho de 2007
dear heart
trespassada por uma energia invisível, deitada e semi-nua, bastaram poucos minutos para se obter um registo mensurável do que me faz mover. no fim, olharam, avaliaram e disseram 'está tudo bem'.
nada que já não soubesse: o meu coração é um resistente.
my dear heart, tomorrow it's another day...
segunda-feira, 25 de junho de 2007
mudança de género
pela primeira vez sai o meu nome no jornal (se não contar com os artigos que publiquei). falava de um acontecimento em que estive envolvida. e citaram-me. citaram-me? não. porque, de um momento para o outro, mudei de sexo. no Luísa, caiu o 'a'. e na 'função' profissional adoptaram o género masculino. vá lá, copiaram bem os apelidos da documentação distribuída.
ah! e no fim da citação de parte de um texto meu, também se esqueceram de fechar as aspas.
terá sido machismo, interroguei-me. e ainda fiquei mais inclinada para uma resposta positiva quando me falaram um pouco mais da pessoa que escreveu tal notícia...
enfim... detalhes... o que importa é o evento ser divulgado.
adenda: só umas horas depois é que me lembro que afinal não é esta a 'primeira vez'. é a terceira, se considerar uma das outras duas, em revista online.
domingo, 24 de junho de 2007
sábado, 23 de junho de 2007
detalhes
quinta-feira, 21 de junho de 2007
terça-feira, 19 de junho de 2007
do amor § 3
simples afago. num tocar sensível. breve.
quinta-feira, 14 de junho de 2007
mundo : pedra
algo mais sólido e duro
mais obstinado
que os pedras de uma pirâmide.
aponto para o céu
e todos lá em baixo gritam:
sob chuvas de pedras
: os sonhos não são de pedra
aponto para o céu:
em sonho de pedra
sempre antes de um amanhecer...
um dia disseste-me que ao ver este filme lembraste-nos.
talvez nem nunca soubeste que tinha estado em Viena
e não vi por lá uma valsa chamada rio
porque os pés ou o coração tinham-se perdido
ou enganado nos passos
um dia disseste-me e
eu acreditei
acredito sempre sem
perguntar até que a morte
sufoque
em todos os dias, de todas as possibilidades, escolhemos sempre as impossíveis.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
metro: baixa-chiado
domingo, 10 de junho de 2007
imagem retirada de 'resistir' ; palavras de F. Pessoa
sábado, 9 de junho de 2007
o que nos agarra
perco as horas perdendo-me por entre renovada curiosidade. e neste perder saboreio este não querer saber, não ter ninguém que me acompanhe ou a quem eu tenha de acompanhar com aconteceu outras vezes, por haver ritmos, interesses tão diferentes. por terem medo que eu me perdesse... que bom é perder-me! e parar e andar e folhear e respirar quando nos urge. sem perguntas, sem respostas. mesmo que sem partilha. afinal ali a comunhão é mesmo com os livros, numa relação íntima, tão corpórea.
terça-feira, 5 de junho de 2007
folhas de maio
t. estava ali à minha frente. de pé. quase surgida do nada. olhei-a sem perceber de imediato se estava triste ou serena. aliás nem mais tarde, recordando este episódio, saberia dizer da expressão do seu rosto. apenas entrevi a da sua alma. vertical, olhava-me nos olhos, os braços delineavam o seu tronco, e as suas mãos, uma prolongava-a em silêncio, a outra calava-a nos dedos fechados. dedos apertados à volta de um maço de papel. um maço nem grosso nem fino. um maço, não, dois, agora perfeitamente distinguíveis pela diferença de cor dos laços que os dividiam.
por entre dedos e um certo amarelado do papel, duas fitas, quatro pontas, duas cores de dois tons, quatro cantos de folhas dobradas. cantos de outras tantas vozes. cor rosa tom esbatido e um verde matiz turquesa. em esbranquiçados pelas mãos que tanto sonharam.
o braço da mão vazia move-se até se juntarem as duas mãos em torno daquele volume. e os dedos separem aquela unidade numa divisão natural, talvez por uma certa perturbação, talvez por intenção. estende as mãos em desejo de esvaziamento e ouço:
quero que fiques com elas: quero ficar longe delas.
tento tomar com as duas mãos os dois maços que se separaram. agarro um facilmente. o outro, o outro fica entre as nossas mãos. não forço, apenas a olho. poderia perguntar, perguntar qualquer coisa que fizesse sentido mas a leve resistência que senti, não o permitia.
em silêncio, olho-as. olho-a. olho para as que tenho na minha mão, por já não doerem tanto
não sei o que fazer com elas: guarda-as.
guardo-as?!
guarda-as! queima-as! publica-as como se fossem tuas! ou duma tia-avó solteirona do século passado. e lentamente: ou de há dois séculos, seria ridículo, nem era crível escrever-se ainda assim. assim…
as nossas mãos continuam presas ao outro maço, sem saberem o que fazer. também elas sem o saber.
não quero ficar longe delas: não posso continuar perto: eu e elas: sós.
olhando um vazio, esboça uma espécie de sorriso. e puxa as folhas para si, encostando-as ao seu corpo, como se a hesitação fizesse com que se abrisse e as tragasse. quase sofregamente.
liberta, agarro nas outras cartas esmaecidas atadas, guardando-as no meu colo.
cativa, agarra no outro maço de cartas esmaecidas atadas, guardando-as no seu peito.
cúmplices em dois sorrisos breves, íntimos, em duas bocas fechadas, compenetradas, desmentindo a quietação:
e agora: o que é que eu faço?!
Maio 2007
domingo, 3 de junho de 2007
- há quem as procure -
(talvez as tenha procurado sempre)
e de que valem? se não é nas frases com sentido que se encontra algo que faça sentido
se calhar nem é simplesmente em qualquer frase
o sentido vem antes da estruturação em frase, só depois se tenta visibilizar, comunicar em composição
e depois há frases que destruturam o sentido de outros sentidos
e se agarrar numa palavra? numa só palavra, numa palavra por dia
- terá cada dia uma palavra que o signifique? -
- que dê o sentido que tantas vezes fica perdido no meio de multitudes? -
que palavra é o dia de hoje?
terá sílabas? acentos? ou apenas a modulação de uma voz desconhecida?
- poderia suspender todos pontos de interrogação
(pela sua não existência senão num qualquer sentido que se artificializa) -
( será a palavra de hoje sentido )
esta palavra não é senão um descritor. não se constitui um significado. não neste momento.
como um pretexto. um pre-texto.
num texto como cemitério de sentidos.
ou uma palavra como semente de uma nascente escritura.
terça-feira, 29 de maio de 2007
segunda-feira, 28 de maio de 2007
numa esquina
depois de andarmos um pouco, de conversarmos sobre ti, sobre mim, sobre rumos vísiveis prendidos por laços invisíveis, é a hora das nossas ruas se separarem. abrandas o passo, quase páras, até dizeres 'vou por ali' e eu ver nos teus olhos um quase desmentir. e digo 'vai' e sorrio. e calamos 'a gente vai-se encontrando por aí'.
nos meus olhos ficas tu, e nós adolescentes.
domingo, 27 de maio de 2007
Chiaroscuro
as sombras conferem visibilidade. sem elas não há volume, tudo seria plano, como se só houvesse luz.
uma clara, breve e cingida luz alumia mais intensamente do que uma homogenea e monotonamente forte.
nesse momento vislumbram-se os contornos, a espessura, a textura e a matéria que a compõe.
sábado, 26 de maio de 2007
na carne...
Bernard Andrieu
teste?
Suas preferências reais: Está insatisfeito. A necessidade de fugir ao envolvimento constante com suas circunstâncias presentes torna imperioso que encontre alguma solução. A situação presente contém elementos críticos ou perigosos, para os quais é imperioso encontrar solução. Isto pode levar a decisões súbitas ou mesmo imprudentes. É rebelde e rejeita qualquer conselho.
Sua situação real: Sente que está recebendo menos do que lhe é devido, mas que terá de conformar-se e adaptar-se a sua situação. Sente-se sobrecarregado com mais do que sua justa parcela dos problemas. Contudo, atém-se as suas metas e tenta superar as dificuldades sendo maleável e acomodado.
O que você quer evitar:
Interpretação fisiológica: Tensões resultantes de incapacidade de manter relações de maneira estável em condição desejada.
Interpretação psicológica: Deseja alguém com quem possa compartilhar plenamente de uma atmosfera de clara serenidade, mas a compulsão para demonstrar sua individualidade leva-o a adoptar uma atitude crítica e exigente. Isto provoca desentendimentos que levam a períodos alternados de aproximação e afastamento, de modo que não se permite o desenvolvimento do estado ideal que ele deseja. A despeito do impulso para satisfazer seus desejos naturais, impõe considerável contenção aos seus instintos, na crença de que isto demonstra sua superioridade e o eleva acima do comum. É perspicaz, crítico e exigente, tendo gosto e distinção. Estas qualidades, combinadas com sua tendência para formar seus próprios pontos de vista, permitem-no julgar as coisas por si mesmo e expressar suas opiniões com autoridade. Aprecia o original, o engenhoso e o subtil, esforçando-se por ligar-se com outros de gosto idêntico que possam ajudá-lo em seu pleno desenvolvimento intelectual. Deseja a admiração e a estima dos outros. Em suma: refinamento intelectual ou estético.
Seu problema real: Tem prazer quando está em actividade, e quer ser respeitado e estimado pelas sua realizações pessoais.
segunda-feira, 21 de maio de 2007
ser do sonho
sexta-feira, 18 de maio de 2007
Hope there's someone
Hope there's someone / Who'll set my heart free /Nice to hold when I'm tired
There's a ghost on the horizon /When I go to bed /How can I fall asleep at night / How will I rest my head
Oh I'm scared of the middle place / Between light and nowhere /I don't want to be the one / Left in there, left in there
There's a man on the horizon /Wish that I'd go to bed /If I fall to his feet tonight / Will allow rest my head
So here's hoping I will not drown /Or paralyze in light / And godsend I don't want to go / To the seal's watershed
Hope there's someone /Who'll take care of me /When I die, Will I go
Hope there's someone /Who'll set my heart free /Nice to hold when I'm tired
Antony and the Johnsons, Hope there's someone, in I'm a bird now (2005)
http://www.youtube.com/watch?v=mbA0RmHD7RY
(de auscultadores e de olhos fechados... para quê imagens?)
terça-feira, 15 de maio de 2007
segunda-feira, 14 de maio de 2007
não. digo.
domingo, 13 de maio de 2007
saído da noite...
e uma grande barriga onde nos abrigamos, como quando (talvez) crianças.
sábado, 12 de maio de 2007
onde...
as pedras sob uns pés frios. frios até às pontas dos dedos.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
segunda-feira, 7 de maio de 2007
à luz de vela
quinta-feira, 3 de maio de 2007
thinking blogger award
delicadeza
não é o delico-doce, o frágil-fraqueza, o subterfúgio ou o rodeio. prefiro então a aparente antítese: a robustez, a frontalidade, a franqueza, a amplidão... o cru. prefiro, e embora não seja isto de per si me toca. o que me atinge no fundo é tudo isto com a delicadeza. como se se tocasse, não com um dedinho fingido e pequenininho, mas com uma mão aberta, larga e cheia, mesmo que desajeitada, que penetra subtilmente como um fino fio de algodão-seda.
do Lat. delicatitia
s. f.,
qualidade de delicado, aptidão para discernir as coisas mais subtis, subtileza, sagacidade, cortesia, urbanidade, afabilidade, tenuidade, brandura, suavidade, amabilidade, carinho, fragilidade, leveza...
terça-feira, 1 de maio de 2007
é Maio e chove...
"...
Quem pode impedir a primavera
Se estamos em Maio e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos nossos gestos!
Quem?...
Se os sonhos maus do inverno dão lugar à primavera!"
Ruy Cinati, Nós não somos deste mundo
Cadernos de poesia, Lisboa, 1941, p. 33
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é maio e chove... evocando certas noites frias de inverno.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
madrugada
afinal desse por onde desse o dia tinha de nascer.
como quem diz, riscar-se no céu.
apago as madrugadas frias
agora que vêm, dizem, os tempos das terras do sol
e nas bocas, pássaros e flores.
apago as minhas madrugadas
espremendo-as como se fossem bagas selvagens.
apago-te
amante madrugada.
de uma tarde.
domingo, 29 de abril de 2007
quinta-feira, 26 de abril de 2007
viagem
quarta-feira, 25 de abril de 2007
E depois de... 33 anos?
Esta pergunta pode ser considerada quase bacoca pelos mais novos, por aqueles que não apenas não viveram intensamente a revolução, mas por aqueles que não sentiram o peso do antes que existia. Não é a pergunta que é importante. É o sentimento que está implícito naqueles que viveram aquele(s) dia(s). É nostálgico, não há como negá-lo, porque para alguém consciente deste mundo sabe que aquela ingenuidade, aquela utopia dificilmente se repetirá. Foi por breves instantes a terra da fraternidade, onde se sentia... em cada esquina um amigo... em cada rosto igualdade. uma terra onde o abraço era espontâneo e a esperança via-se no brilho do olhar.
Surge-me neste mesmo momento uma analogia entre esta época e as nossas individuais épocas de paixão, quando tudo se crê possível e revelamos o melhor de nós próprios.
Talvez seja esse desejo de nos ultrapassarmos, pelo que há de maior em nós, o que nos continua a mover. Mas talvez isto esteja cada vez menos visível, tantas e tantas vezes, a um nível individual ou global.
Nesse difícil acreditar, recorro, e adapto, a uma frase ouvida a um pintor amigo de 83 anos: enquanto houver dois corações, haverá... 25 de abril.
o sangue que corre em nós ainda é vermelho como os cravos.
E pelas esquinas, revisito outras Memórias desses dias:
terça-feira, 24 de abril de 2007
segunda-feira, 23 de abril de 2007
faltam-me as palavras, e após uma breve angústia, liberto-as: elas que assumam a sua própria vocação, pelo silêncio.
sexta-feira, 20 de abril de 2007
Os poderzinhos
terça-feira, 17 de abril de 2007
uma abelha nos cabelos
não tinha sido apenas no breve passeio ao pé do rio, quando ao calor do sol, as suas mãos se diluíram abertas, ao ler, ao ouvir o som da amizade chamá-la de minha querida, pela segunda vez num só dia.
sentiu-se a florescer. e disso só teve consciência quase ao fim do dia. estava à espera do comboio de regresso. vinha ainda com o sol e o vento e o calor. um leve estremecer à sua volta. um zumbido. os cabelos que revoavam por algo se lhes prendido. leva a mão à cabeça, sente um ser estranho, um bicho, umas asas. tenta sacudir ingloriamente. mais outra vez. com a mão tenta tirar o animal preso como uma mosca na teia. a aranha sorri. sacode outra vez. uma abelha liberta-se atordoada e esvoaça para longe. é a primavera e chega o comboio.
- desculpe. tem um insecto no cabelo. grande.
sentada, vira-se para trás. olha a rapariga que fala. expectante sorri.
- tenho?
- sim, espere... é uma abelha...
mais uma vez leva a mão à cabeça e sente um ser estranho.
- pode tirá-lo?
tinham conseguido despertar a atenção de meia carruagem. a mulher que estava sentada ao lado, muda de lugar afastando-se. a rapariga envida esforços para extrair o animal dando instruções à 'flor':
uma segunda abelha liberta-se atordoada e cai no assento do lado. um homem que se tinha levantado e aproximado, bate-lhe com a mão, fazendo-a tombar no chão. só as suas asas mexem ligeiramente.
ouve-se ainda um sussurro vindo do interior das pétalas:
- coitada.
florescia. era prova provada. e não tinha sido apenas... e era tanto.
domingo, 15 de abril de 2007
Let it grow...
sexta-feira, 13 de abril de 2007
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Confissões adolescentes (ou nem tanto...)
No jantar de fim de ano, estavamos na sobremesa e alguns (poucos) com a sua medida já atestada, surgiu uma espécie de 'jogo', na linha da verdade ou consequência, mas sem consequências. Afinal, o ano curricular estava acabado. Mais do que jogo foi sobretudo uma leve 'psicoterapia' ou dinâmica de grupo. Cada um dizia o que tinha achado daquele ano de mestrado e, em particular do professor que incentivava/coordenava aquele jogo. Aliás, julgo que era esse o móbil e ele tinha razões para isso, a nível científico e pedagógico era um bom professor. Mas gosta-se sempre de ouvir. Há momentos da vida que se precisa. Adiante. E quando chegou a minha vez, foi isso precisamente que disse, concretizando um pouco mais. Disse-o porque era e é a minha opinião, e apesar de ter sido relativamente sintética, quis-lhe dar a entender que não era isso o que me tinha levado a não aceitar ser sua orientanda quando sabia que ele fazia questão de ter os melhores do ano. Entre o prestígio de ter aquele orientador, o contacto mais directo com os seus conhecimentos, e a liberdade, a autonomia, o querer seguir/descobrir a minha 'linha', optei por estes últimos.
Mas não é deste intróito que vem o meu sorriso. Ele surgiu quando o coordenador disse: 'A Luisa... a Luisa é muito segura. '
Pois...
segunda-feira, 9 de abril de 2007
nessa insatisfação encontra-se paz.
à semelhança do teorema da incompletude de Godel "o sistema N não permite demonstrar a sua própria consistência". (advertência: esta é uma nota absolutamente pretenciosa e/ou lúdica, conforme juízo do leitor)
domingo, 8 de abril de 2007
o regresso das aves
parecia que ia chuviscar. por momentos agarrei-me a esse possível facto. não há certezas de nada, mas as previsões, as intenções, as pressunções são apenas isso mesmo. a 'realidade' é sempre diferente.
no regresso, a pele quente, o olhar cheio de azul e verde e asas. das águas reter apenas a sua perturbação pelo voo rasante dos pássaros. a tranquilidade. incrivelmente plena. o tempo de escutar. de contemplar. os tons de todas as árvores, de todos os reflexos. as melodias de cantos e sons. o tempo dos outros nos seus gestos lentos dominicais. um jovem captando com a sua reflex os efémeros momentos a que nós dois assistíamos, um velho alimentando esfomeadas aves. a pomba que se aproximou confiante, e ali ficámos as duas imóveis olhando-nos. o par vestido de túnicas vermelhas que passa: cruzo o olhar com o da mulher (estrangeira?), sorrimo-nos, ela diz algo que me parece 'boa-tarde' e eu respondo algo parecido com 'boa-tarde'. ali permaneço sentada de pernas cruzadas em cima de um banco comprido 'falando' com as pombas, uma de tons brancos, outras raiadas de azul, uma outra cinzenta de penas fofas que se acolhe junto a mim - ou eu a ela -, uns pássaros negros de bico laranja (tordos? - é a minha ignorância, mas hoje não são necessárias palavras ou nomes para sentir... nunca são -), patos, pardais, rolas.
neste tempo nunca houve solidão ou o senti-la como tal. havia tanto. é o que fica. se as coisas assim o são, porque o havemos de contrariar, iludir? saboreio, alimento-me desta condição verde e de todas as cores, ela transforma-se em arco-íris. regresso a um lugar primordial e respiro.
sexta-feira, 6 de abril de 2007
plágios... e traduções
E perante isto, não sei se sorria, se me encha finalmente de orgulho pela minha escrita ser digna de ser 'roubada'... se...
Mas falando de assuntos mais positivos. Um dia encontrei na blogosfera um 'poema' meu (acho que era este) traduzido em alemão, e com a devida referência do original. Era um blog suiço. Confesso que 'inchei'. Tentei hoje encontrá-lo, em vão. Tenho pena de não o ter guardado. Talvez um dia o encontre de novo neste pequeno-grande mundo da blogosfera.
Notas posteriores:
1) A blogosfera tem também destas coincidências, encontro hoje um post de assunto idêntico no Insónia.
2) Passados 3 dias, não há vestígios dos posts do tal blog que tinham sido publicados a 4 de abril e antes disso. Puff.... sumiram...
quinta-feira, 5 de abril de 2007
as telhas e o respeito
hoje à tarde enquanto faziamos horas fomos para uma esplanada à beira-tejo. falámos de telhas. claro que cada um é como cada qual. o direito às telhas é inegável (esta frase assim dita parece muito reivindicativa). mas que direito temos em atirar para cima dos outros as nossas telhas? (especialmente aquelas pesadas e intrusivas). a uns dá-lhes para implicar, descarregar em cima do outro o seu mau humor, outros deixam-se ficar no seu canto. que respeito têm aqueles primeiros pelo outro? porque é disso que se trata! falta de consideração. no fundo, uma enorme falta de respeito (e de amor) e excesso de egocentrismo. assim como o é, aqueles que não estando com a telha, picam quem está com ela e está no seu canto (no seu espaço íntimo) em silêncio, porque querem à força que a pessoa interaja, fale, explicite motivos, razões ou outra coisa qualquer.
quantas vezes as relações mais próximas não são jogos de manipulação, de tentativa de conversão do outro àquilo que julgam ou querem que seja?
quão difícil é a liberdade, o respeito pela individualidade de outrém, a aceitação do outro.
oh! mundo complicado, hem...
quarta-feira, 4 de abril de 2007
do afecto
automatismos sonoros
terça-feira, 3 de abril de 2007
saltimbancos
atirá-las ao ar
num rodopio malabarista
deixá-las subir e vir
cadentes
até cairem
pelas palmas abertas
escorregadias
agarrar em silêncios
embebê-los nas bocas
ardentes cerradas
ingeri-los e num jorro
expulsá-los em fulgor
de fogo
agarrar em gestos
pendurá-los reversos
em cordas e travessas
e retortos
traçarem trapézios
Capriccio Musicale (Circus), 1913
D. V. Baranoff-Rossine
sábado, 31 de março de 2007
atravessa-se ruas e praças e pessoas.
atravessa-se lugares onde se faz e pensa.
se ri e chora
cruza-se amores e outros afectos
e raivas que se diluem
por o infinito espaço ser demasiado pequeno
troca-se o impulso pelo deslumbre
de todas as imagens
de humanas paisagens
não se corre atrás nem à frente. talvez se corra apenas, ou caminhe, ou sua qualquer ilusão.
quanto mais perto maior
a viagem
de que tamanho é o mar?
e a sua idade?
De olhos abertos na lucidez de que nada se vê
No desejo de nada ver
senão entes entretidos a construir quaisquer castelos de espuma
nas areias duma maré vaza
quinta-feira, 29 de março de 2007
a leste
mudando a hora, o rio revela-se mais matinal, espreguiçando-se por entre margens e mouchões, navegando na névoa de negros navios
(fotografias tiradas às 6h38m)
quarta-feira, 28 de março de 2007
terça-feira, 27 de março de 2007
regresso a
foi por acaso ou em vão que há quase um século um homem e uma mulher se amaram? vamos deixar esse amor esvair-se no tempo como se não tivesse existido? juntemos as crianças. elas sabem brincar.
sábado, 24 de março de 2007
escrita
por escolha, constrangimento e quase obrigação, a escrita vai ter de sair essencialmente das ideias.
sexta-feira, 23 de março de 2007
dar
não se pode dar só porque se julga que é bom para o outro, que ele vai gostar?
porque que é que as 'dávidas' sem autoria podem ser tão mal recebidas?
às vezes ter de manifestar a 'autoria' retira a quem dá a liberdade e a espontaneidade do dar. nem sempre é importante quem dá. só o dar e o receber.
sem segundas intenções. sem desconfiança.
só o acto. e o receptor. sem emissor.
terça-feira, 20 de março de 2007
(do prefácio à tradução francesa de Ich und Du [Je et Tu], Martin Buber)
segunda-feira, 19 de março de 2007
Quarto com vista para...
já está vindo a Primavera
domingo, 18 de março de 2007
ao longe, o Tejo...
Há certos dias em que é urgente ir ter com o rio.
sábado, 17 de março de 2007
my radio stars
É mesmo um bloqueio, até porque quando ouço o nome, digo ou penso: ah, pois é!
Deve ser trauma de infância; meu pai propunha frequentemente: "dou um doce a quem souber de quem é". E no meu conhecimento musical infantil lá ia acertando: Bach, Haendel, Mozart, Schubert... mas nunca recebi o tal prometido doce.
Hoje acho que acerto menos do que com aquela precoce idade. E como o gosto se alargou, ainda me sinto mais ignorante. Além de ter um grande problema se penso comprar um CD.
A rádio tem-me salvado nesse aspecto: é só ligar o botão. Mas dado o panorama cada vez mais massificado-histérico, tenho-me voltado para as rádios alternativas.
à noite, depois de chegar a casa, ligo-me ao silêncio e aos sons, sem querer saber de nomes:
- à segunda-feira: vidro azul
- à quarta-feira: íntima fracção
(este fixei: Scott Walker em Just one smile)
- à sexta-feira: como no cinema
e claro, sempre que posso (senão há sempre o podcast), as boas conversas
ao sábado: quinta essência
[e se o entrevistado não for de 'minha preferência', há sempre outros motivos para ouvir(-te)]
durante a semana, ao fim da tarde: pessoal e intransmissível
E a última descoberta: miss-tapes
do amor § 2
Fechar os olhos. Sentir o sol na face, o calor no corpo ainda pouco destapado, e talvez haja uma leve brisa tocando-nos a pele. Um sorrir instintivo. Como se sorrissemos ao amor.
E espreguiçar como que abrindo os nossos braços a um abraço. Quente.
sexta-feira, 16 de março de 2007
nocturno
já há dias tinha pensado, ou melhor, sentido. hoje mais uma vez, provavelmente como consequência do almoço, condicionado no tempo entre picagens de ponto.
que saudades de noites infinitas, daquelas que sob uma brisa amena, horizontes descobertos, sem ponteiros de relógios, se vai desfiando conversa. primeiro, trivialidades, depois, pouco a pouco, cada um vai desvendando, penetrando em si, descobrindo-se e partilhando, devagar, entre falas essenciais, escutas atentas e silêncios que absorvem e entendem empaticamente o universo do outro.
noites de intimidade.
noites porque só no silêncio da noite é que as palavras assumem uma importância, um sentido, uma forma/conteúdo que é incompatível com a agitação do dia. são os sons nocturnos, a luz fusca que visibilizam o que não é imediato. como uma viagem ao interior de cada um, de cada outro.
saudades de viajar assim.
ao almoço § 2
saboreia-se a amizade. devora-se a distância.
quem dera fazê-lo todas as semanas, talvez assim a conversa ficasse mesmo em dia.
quinta-feira, 15 de março de 2007
ao almoço
terça-feira, 13 de março de 2007
voltar?!
sem hesitações, sem perguntas.
foi bonito, dizem. sorrir contente. tranquilamente.
sem expectativas.
foi ao octogésimo quinto passo, depois mais quatro, falta um
de outros.
passo, degrau ou simples respiração.
é no feminino que se desnudam dos véus. uma qualquer essência.
não é promessa ou desejo
voltar a fechar os olhos. nada mais. nada e inspirar profundamente.
terra...pouca.
domingo, 11 de março de 2007
utopia?
Mário Dionísio, Autobiografia, Lisboa: O Jornal,1987
chora como um menino : não que lhe tivessem tirado um brinquedo, ou sequer ralhado
chora como menino : viu pela primeira vez:
não é torrente; só. única.
desprendendo-se fugidia sem querer nem saber
em espanto . impacto em
ondas com-centro por uma pedra caída no lago : com-fundo