quinta-feira, 12 de abril de 2007

Confissões adolescentes (ou nem tanto...)

De tempos a tempos, lembro-me desta estória. De tempos a tempos quando esse sorriso surge, mesmo que ninguém o perceba, até porque pode não haver ninguém ali. Para facilitar a visualização, o que me ocorre é recorrer a um estereótipo. Assim, sem nada dizer, mas podendo-se ler tudo. Sorriso à mona-lisa.
No jantar de fim de ano, estavamos na sobremesa e alguns (poucos) com a sua medida já atestada, surgiu uma espécie de 'jogo', na linha da verdade ou consequência, mas sem consequências. Afinal, o ano curricular estava acabado. Mais do que jogo foi sobretudo uma leve 'psicoterapia' ou dinâmica de grupo. Cada um dizia o que tinha achado daquele ano de mestrado e, em particular do professor que incentivava/coordenava aquele jogo. Aliás, julgo que era esse o móbil e ele tinha razões para isso, a nível científico e pedagógico era um bom professor. Mas gosta-se sempre de ouvir. Há momentos da vida que se precisa. Adiante. E quando chegou a minha vez, foi isso precisamente que disse, concretizando um pouco mais. Disse-o porque era e é a minha opinião, e apesar de ter sido relativamente sintética, quis-lhe dar a entender que não era isso o que me tinha levado a não aceitar ser sua orientanda quando sabia que ele fazia questão de ter os melhores do ano. Entre o prestígio de ter aquele orientador, o contacto mais directo com os seus conhecimentos, e a liberdade, a autonomia, o querer seguir/descobrir a minha 'linha', optei por estes últimos.
Mas não é deste intróito que vem o meu sorriso. Ele surgiu quando o coordenador disse: 'A Luisa... a Luisa é muito segura. '
Pois...
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Horas mais tarde... 7 da manhã e assim que se acorda não deveriam ser horas para se ter deduções destas.
Penso... numa qualquer sequência do que escrevi em cima e na noite anterior... talvez afinal tenha isto a ver com a minha adolescência. Das conversas-discussões 'intelectuais' tidas com meu pai. Lembro-me púbere, adolescente, idade de tentativa de afirmação e de mil ideias que se procuram e se querem experimentar, adoptar - em particular num todo-pequeno mundo tão relativista -. Idade em que as certezas são fortes por se saberem inconsistentes, mas que por força do pensar já se sentem imperfeitas. Há que adoptá-las para as poder contestar, para as poder pôr em causa. Nós mesmos. É assim que se cresce. Questionando-nos e encontrando efémeras-eternas respostas, opiniões. O que os outros, supostamente mais 'sábios' que nós, melhor podem fazer é colocar questões partindo do pensamento, da lógica do outro. Mas os 'sábios' só tinham eles mesmos respostas que afirmavam melhores e mais pensadas que as nossas... afinal todos esses anos a pensar tinham peso, tinham de ter muito peso. Para si próprio, não para um(a) adolescente. As coisas não eram só porque alguém dizia que era. Afinal, e se quem sai aos seus não degenera, ou quem pela espada mata por ela morre, essa sabedoria era ela própria relativa. Nessa altura quem morria era eu, pois essas 'conversas' acabavam quase invariavelmente comigo a sair do escritório a chorar. Doída por não ser compreendida, doída por me apelidarem 'de convencida', doída por não ter um pai que entendesse as minhas 'certezas' (já nessa altura entendidas como) tão relativas. Eram confrontos duros, e mais do reveladores de capacidades cognitivas, eram-no sobretudo de fragilidades emocionais, afectivas. Lembro de, cheia de lágrimas, ir para o meu quarto ou sótão pensando algo do género: posso não saber, mas tu também não sabes... [do mundo?! de lidar com adolescentes?! de lidar com opiniões diversas?!]. Sei agora que também a tua garganta devia ficar seca, cheia de nós... que não sabias resolver.
A aquisição do 'respeito' foi um processo árduo... se foi. Sobretudo em mim. Porque para os outros quantas vezes basta o estatuto, o aspecto... aparência?! A quem o tenha, dá-se toda a credibilidade e todos os créditos antecipados. Assim será sempre.
Para mim, não basta parecer. Nunca bastou. Por isto. Por tantas outras longas coisas...
E, no entanto... a (in)segura e (in)certa sabedoria...
envolta em tal sorriso.
(Obrigada, papá)

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