quinta-feira, 26 de abril de 2007

viagem

poderia ser um filme, ou uma viagem de comboio. nunca de automóvel. sim, também poderia ser de carro, ora conduzindo ora deixando-me conduzir. poderia ser um filme. dramático, cómico, intimista, ou por vezes, contemplativo à boa maneira portuguesa. uma amálgama de cenas quase neo-realistas ou então tiradas de um nouveau réalisme, com doses q.b. de humor negro ou de puro kitsch, pontuadas por reais ou maquilhadas nódoas negras, risos descontrolados, e momentos parados em que parece que a fita encrava, e contudo, nos deixa absortos numa qualquer imagem deslumbrante. onde o deslumbre vem da escuta, da observação de todos os pormenores, de todos os sons, de todas as sombras, de todos os movimentos que se prenunciam, de todas as matizes de luz. e de súbito, a carruagem avança, ou mete-se a primeira e tudo foge. tudo passa e esquecemo-nos das paragens e dos cais onde estivemos, onde amámos, onde crescemos. e só lá mais à frente, por vezes, uma outra sombra, uma outra luz, uma outra rua nos lembra algo dos lugares onde já parámos. lembra sem lembrar pois a viagem não pára. e por vezes nessa viagem, olhamos pela janela e projectado no vidro, como num ecrã, vimos de olhos bem fechados, os mil beijos como num qualquer cinema paraíso, os mil passos dançando à chuva, os mil ventos que tudo levaram. poderia ser um filme, uma viagem. a nossa, gente feliz com lágrimas.

3 comentários:

Anônimo disse...

"... E ainda hei-de rir-me.
Ainda hei-de pensar que tudo isto não passou afinal de um riso que chora ou de um pranto que ri - e de literatura!"
Um beijo

Luísa disse...

obrigada, a.
... ou afinal, é somente mais um final... de uma estória.

Anônimo disse...

e agora?