Íamos na 24 de Julho, um pouco depois das quatro horas da tarde. Conversávamos sobre modos de funcionamento, de exercício de poder ou decisão responsáveis - porque nem sempre, ou antes quase nunca, é a mesma coisa -, das implicações das acções decisórias de ânimo leve. A sua intenção que muitas vezes não tem em consideração as reais condições ou o benefício de todos ou de uma maioria de interessados, mas que porque há o poder, este é exercido. Quem tem o poder, decide, e o resto, 'obedece'. Mesmo que esse poder não seja senão um 'poderzinho'. Que nada mais faz de útil senão exercê-lo, porque o detém. Assim íamos e surgem sirenes da polícia lá ao fundo, mandando afastar o trânsito, fazendo-o parar à sua passagem. Era uma série de viaturas, civis e do corpo diplomático, agentes à paisana com auriculares sentados no lugar do morto, com ar super-vigilante, como se a qualquer momento alguém lhes barrasse a sua preciosa e rápida passagem por aquela via. Um carro que ia atrás do nosso apita, concerteza revoltado com o aparato, com a 'obrigação' de paragem: quem são estes para importunar e desviar toda esta gente que vai no seu caminho?! Sorrimos com cumplicidade "pois... gente importante", "VIPs". A visibilidade súbita das palavras que tinham sido proferidas. Cada um exerce esse poderzinho à sua escala, à sua possibilidade: na política, na empresa, no departamento, no seu cargozinho de sub-sub-sub-chefe, e em última instância... na própria casa. E nessa altura, caiu um breve silêncio. Pesado e breve silêncio.
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