cruzamo-nos depois de tanto tempo. em pouco dias, os caminhos interseptam-se, desta vez apenas nós dois. poderia dizer finalmente nós dois, e de certa forma, é-o. talvez seja esta pela primeira vez desde que te conheci que consegues olhar o mundo de um modo não-desistente. há afinal um lugar no mundo para ti. perguntas: terei chegado a tempo? respondo à tua não-pergunta: estaremos nós neste tempo? seremos nós deste mundo? prosseguimos porque as frases não foram ditas bem assim. que importa se era assim que as poderíamos ter dito?! lembro, comparo - é inevitável não ver as diferenças, nem que seja a do teu olhar sobre mim, como se pela primeira vez me tivesses visto - é inevitável não ver o que me levou a apaixonar-me por ti, pela primeira vez em grande paixão adolescente: o sorriso, o jeito algo desengonçado, a suavidade, uma certa timidez - ainda hoje não sabes onde pôr as mãos - e a melancolia gravada no olhar. hoje acentuada por olheiras que não fazem esquecer as marcas dos anos nem de escolhas da vida. olho para ti e lembro-me aos quinze anos. e dos escritos ainda guardados, cheios de um coração que lançava ao vento, aos pedaços, tantos quantos aqueles que tu o fizeste. não, tantos quantos aqueles que eu fiz por ti, e por ele e por ele e por... um coração aos pedaços não é um coração partido, nem dividido, é um coração que se estende que se alarga que se oferece como cerejas.
depois de andarmos um pouco, de conversarmos sobre ti, sobre mim, sobre rumos vísiveis prendidos por laços invisíveis, é a hora das nossas ruas se separarem. abrandas o passo, quase páras, até dizeres 'vou por ali' e eu ver nos teus olhos um quase desmentir. e digo 'vai' e sorrio. e calamos 'a gente vai-se encontrando por aí'.
nos meus olhos ficas tu, e nós adolescentes.
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