segunda-feira, 7 de maio de 2007

à luz de vela

Uma falha de energia eléctrica e fica-se desligado do mundo. lá fora, o lusco-fusco. estava deitada no sofá, recuperando do dia de trabalho. a música que ouvia tinha chegado ao fim há poucos instantes. o silêncio. e eu pensava se devia escrever. ou antes, escrevia mentalmente coisas desordenadas. nisso, a televisão ligada sem som - vício de gente que mora sózinha - apaga-se. o portátil em cima da mesa dá o sinal de passagem para a bateria. olho: ficou sem wireless. e penso, daqui a uns intantes fico sem computador - maldita bateria viciada!
Deixo-me ficar, tranquila, vendo o anoitecer pelos cortinados abertos. as luzes dos automóveis por entre a folhagem das árvores. e respiro... a luz indigo do céu. a gata sobe para o colo e deita-se. continuo quase imóvel. construindo pensamentos que não sei se partilharei. imóvel, sinto um barulho no estômago: e logo hoje que a comida era para ser aquecida no micro-ondas. vou esperar mais um pouco.
O bairro continua às escuras. escolho por ficar mais um pouco nesta involuntária interrupção. saboreando-a. a barriga volta a dar horas: deixa-me ir experimentar o forno do fogão, é mais lento, mas também, não sei quantas horas ficarei às escuras.
Sigo pela casa, sem me dirigir à cozinha. caminho sem chocar em nada. conheço-a com olhos de gata. vou até à outra varanda, na outra margem, a horizontal correnteza de luzes. regresso à escuridão do corredor. na cozinha, ainda alumiada pela pouca luz da janela, acendo velas, das pequeninas - darão luz suficiente -, e preparo a refeição.
Enquanto espero, agarro no meu inseparável bloco, numa caneta e começo a escrever isto. a certa altura, ouço o sinal sonoro do micro-ondas. na rua, os edifícios vizinhos estão já pontuadas por luzes. a vela que ilumina a escrita continua acessa. não me levanto para ligar o interruptor do candeeiro nem o computador entretanto em suspensão.
Fico mais uns instantes disfrutando um silêncio de uma outra dimensão temporal. um outro espaço criado pelo fogo da vela. olho-a... hipnoticamente... é isso: vou jantar à luz da vela.

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