terça-feira, 6 de abril de 2004

este lago verde
recolhido nas memórias de um lugar
onde as folhas de nespereira eram peixes
e os peixes, vermelhos e prata,
como a solar lua de hoje
límpida e próxima,
onde as pedras eram pontes
unindo pontos de sonhos distantes,
ainda não havia a pedra argamassa cinzenta,
as pedras eram bancos ou casas
onde nos abrigávamos do crescer,
as pedras eram tambores de água cascata
límpida e próxima,
a relva era um veludo manto
onde rolávamos e nos escondíamos,
as pedras-escadas, ruas da nossa cidade
e as outras pedras-cimento, quase círculo,
montanhas que escalávamos, suados,
e os ruídos, pássaros, água, o nosso riso
alegre e contido,
fantasias,
e as pedras metal, figuras
de braços estreitando os céus,
matéria do nosso ver,
este lago verde
onde no outono caem as folhas cansadas de doer,
este lago verde
límpido e próximo,
rio ou mar, ou o tempo
de lá
ou d’além?

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