Estava sentada naquela mesa daquele café. Tinha chegado há pouco tempo. O empregado nem ainda tinha vindo ter com ela perguntar o que desejava. O local, conhecido mas pouco habitual. Tinha-se sentado ao pé da janela, onde havia maior claridade, onde poderia ver, o exterior, o interior. O estabelecimento estava quase vazio, mas assim mesmo demoravam a atendê-la. Não importa, tinha tempo. Apetecia-lhe mesmo um café, tinha acabado de almoçar, mas podia esperar até que os empregados acabassem de conversar. Tinha combinado um encontro, ali. Não sei se era bem uma combinação. Era, claro que era. Tinham dito, depois de almoço? sim, lá estarei. Não tinham combinado horas certas, mas sabiam que esperavam um pelo outro, ali, mais ou menos àquelas horas. Um café, por favor. e um copo de água. No início a espera nunca é espera. É o chegar. É o estar. O olhar as coisas, os objectos, o ambiente, as pessoas. É uma assimilação, é uma adaptação ao meio, mesmo num contexto rotineiro. Pelo menos, para ela. É um ver de novo, com os olhos daquele momento. Obrigada. Rasga o pacote de açúcar, deita um pouco, mexe com a colher. Continua a rodá-la naquele líquido castanho, naquela chávena branca, até se aperceber desse movimento. Pára. Bebe-o em goles curtos, prolongando, como sempre faz. Como um ritual. Não é por estar à espera, é o habitual, é um tempo saboreado. Não, não é por estar à espera. Sim, agora começa a ficar à espera. Não muito, ainda. Normalmente é ela quem costuma chegar primeiro, ela que costuma esperar, não é apenas por educação, é por respeito, por gostar de quem a espera, não os fazendo esperar. Prefere ser ela a esperar. Estar ali com um sorriso quando chegam. Mesmo atrasados. Mesmo quando muito atrasados. É um atender ao ritmo dos outros, não, não se zanga, afinal cada um tem o seu ritmo, o seu tempo, o seu modo de gostar e de demonstrar que se gosta. Para muitos nem tem a ver com o gostar dos outros, é independente, simplesmente são assim, desprendidos? ocupados? centrados em si próprios? maus gestores do seu tempo? que importa? que importa quando a nossa vida não depende disso, quando apenas se quer estar, se quer partilhar alguns momentos com essas pessoas? o que importava era que, apesar disso, queriam estar juntos, conversar, rir, olharem-se. O café começava a encher-se, as pessoas vinham tomar a bica, fazer a digestão, como por vezes se costuma dizer. Ela olhava-as, escutava as conversas, observava os gestos, ouvia simplesmente os tons de voz. Por vezes deixava de estar à espera. Estava, somente. O local voltava a ficar quase vazio, e ela olhava a rua, os transeuntes, a calçada, as sombras no empedrado, as formas das árvores, surgindo-lhe pensamentos dispersos, flashs prolongados como o seu olhar sobre as coisas que ora se movia ora se aquietava num qualquer lugar. De repente, voltava a estar à espera. Estava a começar a ficar impaciente. Não irritada. Inquieta. Desassossegada. Talvez não fosse um encontro como qualquer outro. Se bem que não sabia ao certo o que iria dizer, o que iria acontecer. Nada previa. Só queria olhar. E talvez aí sim soubesse. o que dizer. o que sentir. Começava a ter tempo. tempo de ler outra vez coisas que já tinham acontecido. ler com os sentimentos da espera. Olha para o telemóvel. Com som, sem mensagens. Pousa-o. Olha para fora, para a rua. Mexe-se na cadeira. Faz sentido continuar a esperar? A decisão estava quase tomada. Era só escutar, escutar-se, um pouco mais. Aquela espera…
(continua…)
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