é alegre, faladora, um pouco 'arvoada', mas atenta aos outros, dá-se a quem gosta e parece gostar de todos, mesmo de quem talvez não mereça. É incapaz de dizer não. Conhecia-a há pouco tempo, algumas das minhas colegas de trabalho já a conhecem desde miúda – circunstâncias de terem nascido e viverem naquela cidade pequena, perto de Lisboa. Filomena tirou uns dias de férias nesta época da Páscoa. No seu primeiro dia de férias, foi de propósito ao local de trabalho levar um pacote de ovinhos da Páscoa para cada uma de nós – na altura eu tinha saído para um café. Ninguém mais levou. Ela é a moça que faz as limpezas. Pela porta entreaberta ouço-a falar com as outras funcionárias. Fala, fala, de vez em quando ouve-se o som do seu telemóvel, daqueles com um som polifónico super-irritante, mas até isso, nela, me suscita um sorriso. Fala das roupas, das lojas, de receitas… com um jeito tão engraçado que, por vezes, paro só para a ouvir. Tem um tom de voz animado, por vezes galhofeiro, mas não é vulgar, e quando lhe escapa 'alguma mais atrevida', põe a mão na boca, faz um ar comprometido, olha para mim e diz: "Ó dótora, desculpe" ou então "Ó dótora, não ligue, sabe?! isto sai!" . A Filomena não faz transparecer facilmente a sua tristeza, mesmo quando tem problemas. E está sempre com problemas de dinheiro, mas, ouvi-a contar, comprou uma máquina de café caríssima "Perdi a cabeça! e olha, já não fui de férias", com um ar entre o descontraído e o inevitável. Não é tão nova como parece, tem já dois filhos, um marido de quem diz "Deu-me tudo. Tem-me dado tudo." e pela sua vivacidade, parece que já teve problemas… as eternas intrigas e mexericos… No intervalo de almoço, borda a ponto de cruz um quadro para pôr no quarto do filho, empenhada e orgulhosa do que faz bem. Não diz mal de ninguém, comenta sim, mas como se fossem histórias que conta com afecto. Hoje, a Filomena voltou ao trabalho e ao agradecer-lhe os ovos de chocolate, diz: "Ó dótora, não foi nada, eu tinha ido ao Jumbo, e sabe, vi aqueles pacotinhos e pensei levá-los para estas malucas", engole em seco, sorri, e acrescenta, "a dótora não". Sorrio-lhe. Não posso deixar de sorrir a uma certa ingenuidade, a uma certa pureza, à espontaneidade… é assim a Filomena.
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