Reguei com lágrimas os vestígios e as sementes que deixo pelo caminho. Humedeci-as também com sorrisos e carícias, afectos. Hoje rego-as com estas gotas de cloreto de sódio. Não sei o que os faz desaparecer mais depressa, o que as faz morrer um pouco mais, o pranto ou a alegria, mas é isto que tenho neste instante para dar.
Deserto, sim. Por vezes sentimos mais veementemente que todo o nosso percurso será feito naquela solidão – amada, inevitável, insuportável – pêndulo de três pontos hesitante, instável. E no deserto, depois da passagem, durante a viagem, restam as flores de pedra, rosas do deserto, belas, reais, metáforas vivas da imaginação. De cristal eterno. Sólidas e duras. Sem pétalas doces onde tocar. Só ver e cheirar. Alguns levam consigo a sua imagem, transformando-a em flor de verdade, que sendo fantasia, ilusão, vai murchando e florindo segundo o frio desolador ou o calor abrasador nas areias. Outros transportam o seu perfume – sim, elas cheiram mesmo -, perfume etéreo, volátil que se vai desvanecendo ainda mais rapidamente do que a imagem ilusionista.
E parece que o deserto nunca mais acaba… o deserto não acaba. Aqui e ali, uns oásis – os amigos que estão sempre lá, as letras, a música, as cores e os traços -, ecos do nosso grito, quando chamamos por eles do vazio. Por vezes, algumas miragens ou alguns pingos de chuva, ternas ilusões… o resto, areia, como nós, grãos de areia, áridos e secos e silenciosos, mesmo quando não o queremos ser…
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