sábado, 10 de abril de 2004

a propósito da arte e "do mundo original"...

"Uma ideia só interfere na vida quando o sangue a reconhece (...)"

(nem a calhar, depois de uma conversa sobre os filmes que marcam as nossas vidas...)


"Que nos baste, para sermos homens, a nós que não somos santos, a certeza de que os «outros» são da vida, (...) e simultaneamente a inexorável certeza de que há um mundo onde só nós poderemos ver, reconhecer - esse onde de nada nos valerá ninguém (a não ser que a nós próprios nos ludibriemos), esse mundo primordial que raia à solidão e à morte."


"enquanto «problema», como não ver que numa dimensão de vivência toda a questão é vã?(...) O firmar ou o desventrar da ilusão não nos rectificará o sentir: uma convicção de «liberdade» ou de «determinismo» não confirma ou invalida a presença - mais profunda que tudo isso - de nós a nós próprios. (...) Do «eu profundo» bergsoniano (...) à radical liberdade de Sartre (...) [a] Merleau-Ponty (...) e Jeanne Delhomme(...) que chama liberdade ao «destino do ser»", há leituras que podem ir de um absoluto determinismo a uma escolha indefectível. “(…) Em qualquer acto humano o mais remoto ou mais condicionado está implícita uma escolha original, e o próprio acto voluntário não testemunha a liberdade que já está implicada na escolha desse acto. (…) se a liberdade é impensável, (…) em situação alguma nos furtamos à certeza de que podemos vivê-la. A consciência não é pura passividade.”


(e só para terminar, porque a tentação de colocar outros excertos é grande…)

“De que me serve, no acto puro de sentir a Arte, tudo quanto sobre ela disse? (…)
A arte é tão simples! Como a alegria, a esperança, a amargura. Como o amor. Eternamente nos explicarão o que é o amor, o que o estrutura, o define, o revela. Mas só o conhece quem o ama.”

Vergílio Ferreira, Do mundo original, Liv. Bertrand, 1979, pp. 21,15, 22, 253-254

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