terça-feira, 27 de abril de 2004

Entre o silêncio e palavras que não consigo ou melhor talvez não queira escrever, opto por palavras de outrém. dizendo assim algo do que sinto, sem dizerem tudo o que sinto. mas as palavras são por vezes apenas quase formas delineadas em que o espaço vazio, o espaço negativo nas formas negativas das letras, contém muito mais do que as linhas de que são formadas. Ler no aparente vazio… escrever para ainda comunicar, sem responder ou perguntar… escrever para não sentir demasiado… usar as teclas como desfocalização da atenção, da exigência que é sentir o que se sente, sem o querer expressar para ainda o embargar.


Sei que estou só e gelo entre as folhagens
Nenhuma gruta me pode proteger
Como um laço deslaça-se o meu ser
E nos meus olhos morrem as paisagens.

Desligo da minha alma a melodia
Que inventei no ar. Tombo das imagens
Como um pássaro morto das folhagens
Tombando se desfaz na terra fria.

Sophia de Mello Breyner Anderson

Nenhum comentário: