Hoje já não vou a caminho do hospital. Não por agora. Já não vou encontrar o sr. arrumador que, quase todos os dias, me indicava o lugar já vislumbrado; que me tratava por tu e passou a olhar-me de uma forma diferente quando, naturalmente, o tratei na 3ª pessoa. A senhora das senhas do fim de semana que já sabia que eu era a filha da senhora x. os porteiros mais ou menos circunspectos. O ruidoso e movimentado espaço da entrada. As enfermeiras solícitas e disponíveis. A enfermeira M., estagiária, delicada e doce, alegre – gostava de, daqui a uns anos, a reencontrar assim; as enfermeiras I., E., B. e tantas outras, portuguesas e espanholas; todos os serviços têm uma mais ‘sargenta’, aquele também, ‘bipolar’, como diria alguém, no entanto um sorriso, quebrava-a e ela correspondia; as auxiliares, todas simpáticas, cuidadosas, brincando quando as doentes recusavam o seu lanche… “estou a ver que aqui já não faço negócio…”; os médicos, mais distanciados, mas atentos, responsáveis. As companheiras de quarto ou de infortúnio, perdi um pouco a conta, talvez nove ou dez, umas de poucas noites, outras de semanas; amizades efémeras, conversas solidárias. Dores partilhadas.
As minhas escapadelas para o corredor, para escrever ou tentar ler um pouco. Ou para o átrio das escadas, frio, tomando um cafezinho de máquina, fumando ou procurando algum apoio amigo através do telemóvel.
Uma perspectiva diferente de um local encarado até então por um outro ângulo. Como diferente esta vista quase aérea, quase (irre)conhecida que me acompanhou nesta quase quarentena.
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