Quando se ouve apenas (um)a voz, em ausência de corpo, com que(m) estamos? O que é a voz? Não há vozes iguais. Por vezes parecem-se, mas ao fim de uns momentos, torna-se claro que aquela voz é única. Só pode pertencer àquela pessoa. Mesmo que não a conheçamos, mesmo que a conheçamos. E há vozes dentro daquela voz. Com o seu tom, a sua modelação, a sua entoação, a sua pronúncia, o seu ritmo. A diversificação na unidade, numa constância reconhecida. A voz que, sendo a mesma, se transforma na situação. Como o corpo. Como o espírito. A voz identifica, como uma impressão digital, revela e revela-se em substância, em essência, comove, suscita, perturba, tranquiliza, toca, trespassa. A voz é medível enquanto som, enquanto tonalidade(s) diversa(s), mas nunca é verdadeira e autenticamente captável, reproduzível.
A voz é, talvez e simultaneamente, o nosso lado mais imaterial e mais somático; um insubstancial, um incorpóreo que se materializa através de nós, em nós; o corpóreo que emana, transmutando-se em espírito, no inapreensível; ondas de alma corporal que se evolam.
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