Choraram, abraçados. O regresso a casa, ao quarto, àquelas paredes tão antigas como eles. Juntos, ali, ao fim de 39 dias. Tinha pensado que não voltaria outra vez ali, que ele ficaria sozinho. Primeiro, esteve a dor, o sofrimento, a doença, só depois a consciência da gravidade da situação. Ele, desde o primeiro momento que soube, numa percepção agravada pelo conhecimento, em que o saber agrava a dor, pela impotência, pela irracional culpa de não ter diagnosticado mais cedo, pela angústia dos prognósticos prováveis e hipotéticos.
Quem fica cá fora, sente-se mais só. Só com uma dor que não se monitoriza, que não é sujeita a terapêuticas.
Agora, talvez mais umas semanas, meses… anos? Unidos. Talvez seja amor. Talvez amizade profunda. A certeza de fazerem parte um do outro. São um pouco da carne e da alma do outro. Ao fim de tantas décadas… desde o casamento, realizado numa distância forçada para poderem estarem juntos uma hora por dia. Naquela altura, era ele que estava dentro, dentro de uma cadeia de Caxias, ela cá fora, em constantes viagens de Coimbra a Lisboa num comboio ronceiro.
Muitos e muitos anos apenas os dois, caminhando a custo mas levados pela cumplicidade. Quando os amigos começaram a ser avós, foram inesperadamente, pais. Pais-avós. Por isso talvez se agarraram à vida, na angústia de não verem crescer as filhas crianças. Ainda lutam, desesperadamente, contra a morte, não acolhendo o efémero. Vão pedindo mais um ano… no fundo querem mais… um retorno a algo que se distancia cada vez mais.
Esta noite, estão reunidos, outra vez. Mais uma vez. Dormindo juntos, no quarto de sempre. Não importa se longe, se próximos de uma qualquer eternidade.
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