segunda-feira, 9 de fevereiro de 2004

efémero?

É um não silêncio. Como não quebrar o silêncio se há palavras que ecoam em mim e que já são demasiadas? Cada estar é um desejo de ser, cada efémero é um desejo de eternidade, um desejo em que não creio… porque não é possível… como o poderia ser? Não gosto de ilusões óbvias, sempre as combati, contudo perco-me nelas como dentro um livro; e na insegurança, fujo para a frente, tentando encontrar uma possível objectividade, dados que confirmem ou infirmem o geral numa busca do particular. Contudo sei que às vezes um pormenor atraiçoa, desmente aquilo que é indesmentível … porque toca agora, neste preciso momento, a spanish guitar?... delírio? anseio? Num cansaço de esperar mas mantendo, porque não posso deixar, é intrínseco, este verde absurdo, de fundo, da esperança. Outra ilusão? Então tudo é ilusão, sempre ouvi que tudo é ilusão. Ilusão - distracção. Nunca acreditei de um modo simples no que me diziam, ainda mais quando era diferente do que via fazer, mas acreditando e tentando ver porque o diziam. Construí-me num mundo em que não ouvi/cri, mas vi, tentei ver sempre mais, porque só assim podia construir aquilo em que acreditaria, para pensar e sentir ao meu modo. E sempre quanto mais me tentavam impor os seus modos de ver, mais eu elaborava os meus, não contra, muitas vezes englobando-os, mas diferentes. Não há cópias, não há mimesis. Tem de ser cada um a fazer aquilo que pensa que deve fazer, a pensar…a sentir… livremente… e se os outros não concordarem, acharem ridículo, pensarem outras coisas, derem outras intenções/presunções, são livres… como todos nós condicionalmente livres.
Sinto por vezes que vivi demais sem ter vivido, amei demais sem ter amado muito, esperei demais sem ter esperado muito… ou esperei tudo?.. senti e pensei demais e ainda agora… mas que mais resta? Somos o que sentimos e o que pensamos. E não é esta ânsia de sentir e pensar que nos torna gente, seres únicos, numa exclusividade que afinal não existe nem nunca existiu? Não é revolta ou amargura, é tentar aceitar aquilo que é irracionalmente ou emocionalmente inaceitável. É sorriso triste que num paradoxo ainda espera, ainda quer arriscar… porque o demais foi pouco… é pouco… e ainda pode ser tanto. Quero que seja. Às vezes acho que ajo pouco, que a minha quietude exterior é impedida pela outra inquietação que me avassala. Como se se compensassem, mas não. Ou noutras, não sei como agir, ou tenho receios, ou … simplesmente, não queria que tivesse sido assim, e mudar…? Mudar por mudar, não. Mudar o invólucro e deixar o resto vazio, não. Já quase me senti morta e rejeitei-me nesse molde, consegui renascer voltando a amar-me, Olhar de Novo, sei que é difícil todos os dias… no entanto… arrisco… procuro… escuto… amo indefinidamente, “O amor é uma ingénua tentativa de nascer outra vez”, como diz Luís Sepúlveda. Sei nem sempre o mundo nos deixa sequer amá-lo, mesmo que saibamos como, o que nem sempre acontece.
Sinto que ‘tutti li miei pensier parlan d’Amore’ (Dante) e será sempre, mesmo que, ou por saber que só assim consigo (sobre)viver “Amor que a nenhum amado amar perdoa” (idem).

Nenhum comentário: