segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

tóssan

Encontro numa das minhas viagens deambulatórias pela blogosfera, um nome. Um nome quase esquecido publicamente… injustamente, como tantos outros. Mas não é sobre os seus méritos que quero escrever, outros o(s) conheceram melhor. A sua memória em mim será sempre a de uma garota. Quando saí da maternidade, parece que vim para casa de meus pais, nos braços da sua mulher, discreta, silenciosa, companheira daquele homem efusivo, espontâneo, grande, largo, com um riso do tamanho do humor que tinha. Lembro-me criança e adolescente, ao recebermos a visita daquele casal, a casa enchia-se de alegria – e eu sentia, quando for grande quero ter uma ligação como a que eles tinham, só os dois, unidos, companheiros, inseparáveis, de admiração mútua, tão complementares -, as histórias que achava mirabolantes, encantatórias, feitas de pequenos pormenores, as incessantes anedotas nunca grosseiras – apesar das meninas, por vezes, serem retiradas da sala temporariamente por ‘prevenção’, mas ouvindo muitas delas a partir do corredor -, muitas das suas narrativas cruas – como só o subtil e perspicaz humor consegue -, captando o sentido de ridículo da nossa existência, ironizando sobre as grandes miudezas deste mundo. A facilidade da palavra, mas nunca palavras fáceis ou cómodas, e a destreza do gesto desenhado, face visível de uma extraordinária capacidade de observação, de subtileza, de expressão pensada. Na parede de meu quarto guardo um desenho seu, apenas cinco traços, escrevendo ‘Adolescência’.

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