quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Plotino

Na minha incursão diária através dos livros, descobri estes trechos de um filósofo da antiguidade helénica. Plotino (III século d.c.), nasceu no Egipto, viveu em Alexandria, e rumou a Roma. Só aos 50 anos começou a escrever, mas deixou-nos 54 tratados reunidos em (6 livros, as) 'Enéadas' (julgo que não há tradução portuguesa). É considerado o primeiro e, principal, neoplatónico, e embora a sua teoria seja também essencialmente idealista, difere do mestre em muitas questões, nomeadamente no reconhecimento da importância da aisthesis, dos sentidos (e do corpo) como veículo para atingir a Alma e a Beleza Ideal. Como Platão em O Banquete, relaciona amor, emoções sensíveis, beleza e ser.

Eis as emoções (pathe) que devem gerar-se quando nos aproximamos de uma coisa bela (kalon): um sentido de espanto (thambos), de doce terror (ekplexis hedeia), de aflição (pothos), de desejo (eros), de pavor misturado de prazer (ptoesis meth’hedones). Mas é possível sentir estas emoções – e de facto as almas sentem-no – também perante belezas invisíveis. Todas as almas as sentem, mas sobretudo as almas que das belezas invisíveis estão enamoradas. A mesma coisa acontece em relação aos corpos belos: todos os vêem mas nem todos ficam impressionados da mesma maneira. Daqueles que por eles são trespassados, diz-se que estão enamorados”
(…) “porque os olhos nunca poderiam ver o sol se não se tivessem tornado semelhantes ao sol, nem a alma poderia ver o belo (to kalon) se não se tivesse tornado bela (kale)”
(…) “Entra em ti mesmo e olha: e se não te vês ainda belo, faz como o escultor, quando trabalha numa estátua que deverá ser bela: aqui ele elimina alguma coisa, ali raspa, acolá alisa e torna a limar enquanto não aparecer o belo rosto da estátua” (…) “Seguro de ti, ainda que permaneças cá em baixo, já ascendeste e, sem precisar de qualquer guia, concentra o olhar em ti: eis o único olho que contempla a grande beleza (to mega kallos)”.

(Plotino, 'Sobre o belo', 1.6.4 - 1.6.9)

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