quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

sem tempo

Só hoje reparo, já faz quinze dias que ando todas as tardes a caminho de um dos maiores hospitais do país. O tempo não é contado, só se nota por um certo cansaço acumulado. Quase nunca tinha estado em hospitais e, das poucas vezes por causa de outros.
Agora também. Todos os dias estórias de vidas que entram e saem, ou então que permanecem semanas a fio. Ocorrências extraordinárias num ambiente de normalidade.

Como a de Dona A., vizinha de cama, humilde, generosa, mulher do povo, sofrida, com uma infância dura, aprendendo a sofrer em silêncio… ‘para dentro’ como dizia, agradecendo os pequenos gestos que os outros lhe faziam – como se fosse possível deixar de os fazer! – alegre, mesmo brincalhona apesar das dores, afectuosa. Guardo aqui, um pouco desse afecto.

No corredor. De um dos quartos sai um casal abraçado. Ela chora, baixinho, soltando a contenção que teve de ter lá dentro. Ele, estreitando-a contra si, consola-a, poucas palavras, um aperto amoroso. Andam devagar, depois mais depressa, como se quisessem fugir, fazer desaparecer a má notícia. Juntos.

Só um pequeno reconhecimento: tudo impecável, pessoal profissional e humano. Extraordinário.

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