Tarde de chuva. Começo a escrever. “todos os sonhos são perigosos”. Algo que li algures. Não interessa, não importa hoje. Rejeito não sonhos, mas considerações sobre eles. Levanto-me. Quero algo que ainda não sei bem o quê. Ponho no leitor um CD. Faço pequenos gestos de arrumações, limpezas, calmamente, saboreio-os, na escuta desatenta mas penetrante da música, e o som invade silenciosamente este espaço de que eu cuido. Concertos para violino. Estou. Faço. Aprecio. No silêncio da música. Ouvindo os meus ecos. Sentindo lá fora uma tarde de um entardecer prematuro, de penumbras e sombras. Rejeito, hoje não consigo lidar com sentimentos adivinhados, obscurecidos como a tarde de chuva. Procuro… Sento-me com os meus livros. Outros concertos, seis. Já não os ouvia há tanto, tanto tempo. Não por não os amar, pelo contrário. Por vezes temos de nos afastar das coisas que amamos quando isso comporta sofrimento, ou está associado a demasiada dor. Foi assim com estes concertos. Lembro os tempos no sótão de casa de meus pais, num leitor de LP´s roufenho… Estes Cd´s foram dos primeiros que comprei, também há muito tempo. A sua escuta penetra demasiado em mim, no meu estar solitário. Leva-me a um tempo só meu, o tempo desta música sou eu. vivo neste som algo que desencadeia um parte que não é vivível, partilhável com os outros. todo o meu interior se move. as palavras são inúteis. há este fluir. este brotar. este sentir.
E nos gestos, nas letras impressas, no fluido silencioso deste abraço harmonioso encontro… a paz, o respirar calmo, a destrinça dos sentimentos emaranhados, a mudez da simplicidade que permite todas as coisas complexas, a delicadeza de emoções claras, o cumular de todos os sons, música branca.
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