devia talvez sair do carro, ou já ter saído, quando o estacionei, nesta rua de Lisboa. ruas tão desertas, inabitualmente vazias. é sábado de manhã. e o sol enche tudo, dá uma outra luminosidade às fachadas, ao asfalto, aos troncos texturados das árvores, ao empedrado dos passeios, com as suas sombras negras como figuras, deitadas, não estáticas. E este azul… indescritível… e escuto em melodia ‘parece que te ouço rir’… parece que hoje tudo o que tem nome, ri. e talvez só haja aquilo que é nomeável. senão, existirá?
sinto o desejo de prolongar todos os momentos do agora. como se hoje, hoje como jamais, fossem únicos, ímpares, exclusivos, absolutos. o calor, a cor construída, misturada, conjugada, a vivacidade dos tons, juntar, misturar, mexer, remexer, confundir, assombrar, pincelar, traçar com uma desintenção intencional… depois a música, quente, forte, arrebatada, quase violenta, de súbito a suavidade de um violino, e de novo o ímpeto, o ardor, a força colérica de todos os timbres, de todos os corpos sonoros… e outra vez o calor, e este escrever ao sol, como estufa natural translúcida, cadência raiada de cristal
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