segunda-feira, 30 de abril de 2007

madrugada

apago a madrugada

afinal desse por onde desse o dia tinha de nascer.
como quem diz, riscar-se no céu.

apago as madrugadas frias

agora que vêm, dizem, os tempos das terras do sol
e nas bocas, pássaros e flores.

apago as minhas madrugadas
espremendo-as como se fossem bagas selvagens.

apago-te
amante madrugada.
de uma tarde.

domingo, 29 de abril de 2007

a atracção pelo abismo

(cartoon proveniente de um pps)

a sombra... e o sol... e talvez um último instante.
e as palavras pelo chão...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

viagem

poderia ser um filme, ou uma viagem de comboio. nunca de automóvel. sim, também poderia ser de carro, ora conduzindo ora deixando-me conduzir. poderia ser um filme. dramático, cómico, intimista, ou por vezes, contemplativo à boa maneira portuguesa. uma amálgama de cenas quase neo-realistas ou então tiradas de um nouveau réalisme, com doses q.b. de humor negro ou de puro kitsch, pontuadas por reais ou maquilhadas nódoas negras, risos descontrolados, e momentos parados em que parece que a fita encrava, e contudo, nos deixa absortos numa qualquer imagem deslumbrante. onde o deslumbre vem da escuta, da observação de todos os pormenores, de todos os sons, de todas as sombras, de todos os movimentos que se prenunciam, de todas as matizes de luz. e de súbito, a carruagem avança, ou mete-se a primeira e tudo foge. tudo passa e esquecemo-nos das paragens e dos cais onde estivemos, onde amámos, onde crescemos. e só lá mais à frente, por vezes, uma outra sombra, uma outra luz, uma outra rua nos lembra algo dos lugares onde já parámos. lembra sem lembrar pois a viagem não pára. e por vezes nessa viagem, olhamos pela janela e projectado no vidro, como num ecrã, vimos de olhos bem fechados, os mil beijos como num qualquer cinema paraíso, os mil passos dançando à chuva, os mil ventos que tudo levaram. poderia ser um filme, uma viagem. a nossa, gente feliz com lágrimas.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

E depois de... 33 anos?

À pergunta, que já se tornou um cliché, onde estava no 25 de Abril, já escrevi aqui, por altura do 30º aniversário da revolução.
Esta pergunta pode ser considerada quase bacoca pelos mais novos, por aqueles que não apenas não viveram intensamente a revolução, mas por aqueles que não sentiram o peso do antes que existia. Não é a pergunta que é importante. É o sentimento que está implícito naqueles que viveram aquele(s) dia(s). É nostálgico, não há como negá-lo, porque para alguém consciente deste mundo sabe que aquela ingenuidade, aquela utopia dificilmente se repetirá. Foi por breves instantes a terra da fraternidade, onde se sentia... em cada esquina um amigo... em cada rosto igualdade. uma terra onde o abraço era espontâneo e a esperança via-se no brilho do olhar.
Surge-me neste mesmo momento uma analogia entre esta época e as nossas individuais épocas de paixão, quando tudo se crê possível e revelamos o melhor de nós próprios.
Talvez seja esse desejo de nos ultrapassarmos, pelo que há de maior em nós, o que nos continua a mover. Mas talvez isto esteja cada vez menos visível, tantas e tantas vezes, a um nível individual ou global.
Nesse difícil acreditar, recorro, e adapto, a uma frase ouvida a um pintor amigo de 83 anos: enquanto houver dois corações, haverá... 25 de abril.

o sangue que corre em nós ainda é vermelho como os cravos.


E pelas esquinas, revisito outras Memórias desses dias:

Foto tirada daqui
... terra da fraternidade...


pois!!!!

terça-feira, 24 de abril de 2007

revejo imagens antigas. está lá tudo, estampado. estava lá tudo e...
estava lá tudo o que era e o que podia ser.
estava...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

quantas margens tem um rio?

faltam-me as palavras. ou talvez apenas as guarde num pudor ou incapacidade de tornar mais explicíto e claro, o que se amontoa num qualquer canto. a extração de palavras. quando às vezes se formam tão naturalmente como se respira. o obstáculo do meio comunicacional. nem sempre elas querem ser escritas, nem sempre querem ser ditas.
faltam-me as palavras, e após uma breve angústia, liberto-as: elas que assumam a sua própria vocação, pelo silêncio.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Os poderzinhos

Íamos na 24 de Julho, um pouco depois das quatro horas da tarde. Conversávamos sobre modos de funcionamento, de exercício de poder ou decisão responsáveis - porque nem sempre, ou antes quase nunca, é a mesma coisa -, das implicações das acções decisórias de ânimo leve. A sua intenção que muitas vezes não tem em consideração as reais condições ou o benefício de todos ou de uma maioria de interessados, mas que porque há o poder, este é exercido. Quem tem o poder, decide, e o resto, 'obedece'. Mesmo que esse poder não seja senão um 'poderzinho'. Que nada mais faz de útil senão exercê-lo, porque o detém. Assim íamos e surgem sirenes da polícia lá ao fundo, mandando afastar o trânsito, fazendo-o parar à sua passagem. Era uma série de viaturas, civis e do corpo diplomático, agentes à paisana com auriculares sentados no lugar do morto, com ar super-vigilante, como se a qualquer momento alguém lhes barrasse a sua preciosa e rápida passagem por aquela via. Um carro que ia atrás do nosso apita, concerteza revoltado com o aparato, com a 'obrigação' de paragem: quem são estes para importunar e desviar toda esta gente que vai no seu caminho?! Sorrimos com cumplicidade "pois... gente importante", "VIPs". A visibilidade súbita das palavras que tinham sido proferidas. Cada um exerce esse poderzinho à sua escala, à sua possibilidade: na política, na empresa, no departamento, no seu cargozinho de sub-sub-sub-chefe, e em última instância... na própria casa. E nessa altura, caiu um breve silêncio. Pesado e breve silêncio.

terça-feira, 17 de abril de 2007

uma abelha nos cabelos

sentiu-se a florescer. não tinha sido apenas o azul quente e o vento morno que a tinham convocado todo o dia. de quando em vez conseguia escapar-se para o terraço, fechava os olhos e recebia a luminosidade intensa na pele. inspirava fundo, quase se engasgando com o chilrear dos pássaros que sobrevoavam os telhados vizinhos.
não tinha sido apenas no breve passeio ao pé do rio, quando ao calor do sol, as suas mãos se diluíram abertas, ao ler, ao ouvir o som da amizade chamá-la de minha querida, pela segunda vez num só dia.
sentiu-se a florescer. e disso só teve consciência quase ao fim do dia. estava à espera do comboio de regresso. vinha ainda com o sol e o vento e o calor. um leve estremecer à sua volta. um zumbido. os cabelos que revoavam por algo se lhes prendido. leva a mão à cabeça, sente um ser estranho, um bicho, umas asas. tenta sacudir ingloriamente. mais outra vez. com a mão tenta tirar o animal preso como uma mosca na teia. a aranha sorri. sacode outra vez. uma abelha liberta-se atordoada e esvoaça para longe. é a primavera e chega o comboio.
- desculpe. tem um insecto no cabelo. grande.
sentada, vira-se para trás. olha a rapariga que fala. expectante sorri.
- tenho?
- sim, espere... é uma abelha...
mais uma vez leva a mão à cabeça e sente um ser estranho.
- pode tirá-lo?
tinham conseguido despertar a atenção de meia carruagem. a mulher que estava sentada ao lado, muda de lugar afastando-se. a rapariga envida esforços para extrair o animal dando instruções à 'flor':
- afaste os cabelos, está mesmo aí.
uma segunda abelha liberta-se atordoada e cai no assento do lado. um homem que se tinha levantado e aproximado, bate-lhe com a mão, fazendo-a tombar no chão. só as suas asas mexem ligeiramente.
ouve-se ainda um sussurro vindo do interior das pétalas:
- coitada.
florescia. era prova provada. e não tinha sido apenas... e era tanto.

domingo, 15 de abril de 2007

Let it grow...

Na natureza (humana ou outra) há duas (ou), três hipóteses: o crescimento, o decrescimento ou a degeneração. Em cada um destes sentidos, múltiplos caminhos. A vida sempre como potencialidade... obra aberta.

um dedinho mesmo no meio do coração:

"vou fazer uma coisa
para tu sonhares"

M., 3 anos e 7 meses

sexta-feira, 13 de abril de 2007

E assim logo de manhãzinha senti-me a brincar às casinhas...
Que forte imagem da infância! Um faz de conta que era tão (a) sério.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Confissões adolescentes (ou nem tanto...)

De tempos a tempos, lembro-me desta estória. De tempos a tempos quando esse sorriso surge, mesmo que ninguém o perceba, até porque pode não haver ninguém ali. Para facilitar a visualização, o que me ocorre é recorrer a um estereótipo. Assim, sem nada dizer, mas podendo-se ler tudo. Sorriso à mona-lisa.
No jantar de fim de ano, estavamos na sobremesa e alguns (poucos) com a sua medida já atestada, surgiu uma espécie de 'jogo', na linha da verdade ou consequência, mas sem consequências. Afinal, o ano curricular estava acabado. Mais do que jogo foi sobretudo uma leve 'psicoterapia' ou dinâmica de grupo. Cada um dizia o que tinha achado daquele ano de mestrado e, em particular do professor que incentivava/coordenava aquele jogo. Aliás, julgo que era esse o móbil e ele tinha razões para isso, a nível científico e pedagógico era um bom professor. Mas gosta-se sempre de ouvir. Há momentos da vida que se precisa. Adiante. E quando chegou a minha vez, foi isso precisamente que disse, concretizando um pouco mais. Disse-o porque era e é a minha opinião, e apesar de ter sido relativamente sintética, quis-lhe dar a entender que não era isso o que me tinha levado a não aceitar ser sua orientanda quando sabia que ele fazia questão de ter os melhores do ano. Entre o prestígio de ter aquele orientador, o contacto mais directo com os seus conhecimentos, e a liberdade, a autonomia, o querer seguir/descobrir a minha 'linha', optei por estes últimos.
Mas não é deste intróito que vem o meu sorriso. Ele surgiu quando o coordenador disse: 'A Luisa... a Luisa é muito segura. '
Pois...
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Horas mais tarde... 7 da manhã e assim que se acorda não deveriam ser horas para se ter deduções destas.
Penso... numa qualquer sequência do que escrevi em cima e na noite anterior... talvez afinal tenha isto a ver com a minha adolescência. Das conversas-discussões 'intelectuais' tidas com meu pai. Lembro-me púbere, adolescente, idade de tentativa de afirmação e de mil ideias que se procuram e se querem experimentar, adoptar - em particular num todo-pequeno mundo tão relativista -. Idade em que as certezas são fortes por se saberem inconsistentes, mas que por força do pensar já se sentem imperfeitas. Há que adoptá-las para as poder contestar, para as poder pôr em causa. Nós mesmos. É assim que se cresce. Questionando-nos e encontrando efémeras-eternas respostas, opiniões. O que os outros, supostamente mais 'sábios' que nós, melhor podem fazer é colocar questões partindo do pensamento, da lógica do outro. Mas os 'sábios' só tinham eles mesmos respostas que afirmavam melhores e mais pensadas que as nossas... afinal todos esses anos a pensar tinham peso, tinham de ter muito peso. Para si próprio, não para um(a) adolescente. As coisas não eram só porque alguém dizia que era. Afinal, e se quem sai aos seus não degenera, ou quem pela espada mata por ela morre, essa sabedoria era ela própria relativa. Nessa altura quem morria era eu, pois essas 'conversas' acabavam quase invariavelmente comigo a sair do escritório a chorar. Doída por não ser compreendida, doída por me apelidarem 'de convencida', doída por não ter um pai que entendesse as minhas 'certezas' (já nessa altura entendidas como) tão relativas. Eram confrontos duros, e mais do reveladores de capacidades cognitivas, eram-no sobretudo de fragilidades emocionais, afectivas. Lembro de, cheia de lágrimas, ir para o meu quarto ou sótão pensando algo do género: posso não saber, mas tu também não sabes... [do mundo?! de lidar com adolescentes?! de lidar com opiniões diversas?!]. Sei agora que também a tua garganta devia ficar seca, cheia de nós... que não sabias resolver.
A aquisição do 'respeito' foi um processo árduo... se foi. Sobretudo em mim. Porque para os outros quantas vezes basta o estatuto, o aspecto... aparência?! A quem o tenha, dá-se toda a credibilidade e todos os créditos antecipados. Assim será sempre.
Para mim, não basta parecer. Nunca bastou. Por isto. Por tantas outras longas coisas...
E, no entanto... a (in)segura e (in)certa sabedoria...
envolta em tal sorriso.
(Obrigada, papá)

segunda-feira, 9 de abril de 2007

o sentimento de incompletude revela-nos o que, sem o possuírmos, somos.
nessa insatisfação encontra-se paz.

à semelhança do teorema da incompletude de Godel "o sistema N não permite demonstrar a sua própria consistência". (advertência: esta é uma nota absolutamente pretenciosa e/ou lúdica, conforme juízo do leitor)

domingo, 8 de abril de 2007

o regresso das aves

é hora de almoço de um domingo de páscoa. talvez devesse almoçar em família. poderia se o quisesse, é este meu ocasional feitio de bicho do mato que o impede. na inevitabilidade prefiro assumi-lo nas suas últimas instâncias. até ao limite. esticando a corda até a solidão se converter em prazer. na minha sã loucura ponho o despertador a um domingo. no entanto, desligo-o muito antes dele tocar. é manhã e a manhã é minha. há gestos que nos 'devemos'. quando olhei ao espelho ainda questionei. mas senti que era-me necessário. como se não fosse já a minha vontade a condicionar. porque há momentos existencialmente nossos. vivenciados de um modo absoluto na indiferença de outros.
parecia que ia chuviscar. por momentos agarrei-me a esse possível facto. não há certezas de nada, mas as previsões, as intenções, as pressunções são apenas isso mesmo. a 'realidade' é sempre diferente.

no regresso, a pele quente, o olhar cheio de azul e verde e asas. das águas reter apenas a sua perturbação pelo voo rasante dos pássaros. a tranquilidade. incrivelmente plena. o tempo de escutar. de contemplar. os tons de todas as árvores, de todos os reflexos. as melodias de cantos e sons. o tempo dos outros nos seus gestos lentos dominicais. um jovem captando com a sua reflex os efémeros momentos a que nós dois assistíamos, um velho alimentando esfomeadas aves. a pomba que se aproximou confiante, e ali ficámos as duas imóveis olhando-nos. o par vestido de túnicas vermelhas que passa: cruzo o olhar com o da mulher (estrangeira?), sorrimo-nos, ela diz algo que me parece 'boa-tarde' e eu respondo algo parecido com 'boa-tarde'. ali permaneço sentada de pernas cruzadas em cima de um banco comprido 'falando' com as pombas, uma de tons brancos, outras raiadas de azul, uma outra cinzenta de penas fofas que se acolhe junto a mim - ou eu a ela -, uns pássaros negros de bico laranja (tordos? - é a minha ignorância, mas hoje não são necessárias palavras ou nomes para sentir... nunca são -), patos, pardais, rolas.
neste tempo nunca houve solidão ou o senti-la como tal. havia tanto. é o que fica. se as coisas assim o são, porque o havemos de contrariar, iludir? saboreio, alimento-me desta condição verde e de todas as cores, ela transforma-se em arco-íris. regresso a um lugar primordial e respiro.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

plágios... e traduções

Pela terceira vez em três anos encontro plágios de posts que escrevi. Transcrições de posts inteiros, meus, sem menção da proveniência. Na primeira há cerca de dois anos, deixei um comentário. A moça disse ter sido um lapso e colocou a 'autoria' devida. A segunda, há poucos meses, como não havia caixa de comentários, escrevi para o e-mail do dono do blog. Passados uns dias o blog estava limpo dos meus posts 'roubados' e de outros, que também supus serem de outras autorias - cada um tem o seu modo tão próprio de escrever que as diferenças, por vezes mínimas, se notam logo. O terceiro plágio encontrei-o hoje, num blog que me parece brasileiro, e não era um, nem dois, nem..., era uma série de posts meus, ali escarrapachados como se fossem dela. Alguns integrais, outros incorporados, e um ainda em que se deu ao trabalho de mudar a data que eu tinha (2003) para 2006. Deixei um comentário um pouco impulsivo... fico a ver se há ou não 'respostas'... nada posso fazer, mas também não é assim tão relevante. Cada um fica com o que faz ou não faz... Cada um tenta ser feliz da maneira que pode ou consegue...
E perante isto, não sei se sorria, se me encha finalmente de orgulho pela minha escrita ser digna de ser 'roubada'... se...

Mas falando de assuntos mais positivos. Um dia encontrei na blogosfera um 'poema' meu (acho que era este) traduzido em alemão, e com a devida referência do original. Era um blog suiço. Confesso que 'inchei'. Tentei hoje encontrá-lo, em vão. Tenho pena de não o ter guardado. Talvez um dia o encontre de novo neste pequeno-grande mundo da blogosfera.

Notas posteriores:
1) A blogosfera tem também destas coincidências, encontro hoje um post de assunto idêntico no Insónia.
2) Passados 3 dias, não há vestígios dos posts do tal blog que tinham sido publicados a 4 de abril e antes disso. Puff.... sumiram...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

as telhas e o respeito

por vezes as pessoas são de uma extrema violência. sem se aperceberem, sem quererem, entram de rompante, sem olhar, sem escutar, sem atender ao outro. em especial as pessoas próximas, familiares, que julgam que os outros são eles, 'deles'. e se uma pessoa se mostra incomodado, ainda ficam ofendidos, agridem porque mais uma vez nós somos 'deles'. o nosso espaço íntimo tem de estar sempre à disposição. o nosso silêncio, o nosso estado de espírito. e quando não está sentem isso como ofensa, como recusa de afecto. e se pode ser vulgar a invasão por estranhos, por aqueles que supostamente nos compreenderiam melhor, com os que nos amam, no fundo gostaríamos que fosse diferente. são também pessoas, é o pensamento que nos leva a relevar. mas há momentos em que estamos demasiado sensíveis, em que precisamos ou estamos demasiado embrenhados nesse nosso espaço interior, e isso afecta-nos. é necessário 'treino' para já não doer. e às vezes somos principiantes da dor. outras, mestres.

hoje à tarde enquanto faziamos horas fomos para uma esplanada à beira-tejo. falámos de telhas. claro que cada um é como cada qual. o direito às telhas é inegável (esta frase assim dita parece muito reivindicativa). mas que direito temos em atirar para cima dos outros as nossas telhas? (especialmente aquelas pesadas e intrusivas). a uns dá-lhes para implicar, descarregar em cima do outro o seu mau humor, outros deixam-se ficar no seu canto. que respeito têm aqueles primeiros pelo outro? porque é disso que se trata! falta de consideração. no fundo, uma enorme falta de respeito (e de amor) e excesso de egocentrismo. assim como o é, aqueles que não estando com a telha, picam quem está com ela e está no seu canto (no seu espaço íntimo) em silêncio, porque querem à força que a pessoa interaja, fale, explicite motivos, razões ou outra coisa qualquer.
quantas vezes as relações mais próximas não são jogos de manipulação, de tentativa de conversão do outro àquilo que julgam ou querem que seja?
quão difícil é a liberdade, o respeito pela individualidade de outrém, a aceitação do outro.
oh! mundo complicado, hem...

quarta-feira, 4 de abril de 2007

do afecto

Quando se parte, pode ser durante muito ou pouco tempo, quando o silêncio afasta, as palavras só regressam a quem escreveu páginas comuns. das outras, as folhas morrem brancas e vãs.

automatismos sonoros

fecho os olhos. são as gotas de mar que tocam a ionosfera. as notas de um piano, límpidas por entre ondas das águas. apartada da natureza, é a arte que ilumina, incendeia como um rastilho rasteiro. abre-se o espaço. vago. do cerne, uma voz subindo lenta. manso tornado meigo. circular coluna de fumo que se inspira -expira. in-completude nocturna: watching the sun.

terça-feira, 3 de abril de 2007

saltimbancos

agarrar em palavras
atirá-las ao ar
num rodopio malabarista
deixá-las subir e vir
cadentes
até cairem
pelas palmas abertas
escorregadias

agarrar em silêncios
embebê-los nas bocas
ardentes cerradas
ingeri-los e num jorro
expulsá-los em fulgor
de fogo

agarrar em gestos
pendurá-los reversos
em cordas e travessas
e retortos
traçarem trapézios



Capriccio Musicale (Circus), 1913
D. V. Baranoff-Rossine

da preciosa gruta negra, uma luz azul. o exterior verde acolhe a pedra - esta, musgo.
a concha de gelo derrete-se num banho quente. sob a espuma fundem-se águas. calcárias.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

na perfeição da lua os reflexos humorais da imperfeição .