sexta-feira, 7 de maio de 2004

corpo sem sombras



Como se o mundo começasse pela última ou acabasse pela primeira vez, à sombra da oliveira. sob a oliveira, aconteceu o primeiro beijo único, ainda mal nos tínhamos olhado e já nos beijávamos pela última primordial vez. vínhamos com o brilho no olhar, vi-o depois, ou antes, não sei. vínhamos de pulsar contido, de tanto que doía a conter. de voz embargada, tal eram as mil vozes que queríamos ser. no silêncio dessas vozes mil, mal nos olhámos no tempo. o tempo tinha terminado lá atrás, por detrás da oliveira com sombra. sob a sua sombra éramos apenas um olhar eterno de tão fugaz. um beijo efémero de tão longo, de tão desejo. um beijo de tanto. um beijo de tudo. um beijo de nós. um beijo sob a sombra da oliveira. abraçando-nos a nós. e a sombra que era a oliveira a abraçar-nos. nós abraçados pela oliveira sombra. nos teus braços senti o teu tronco como a sombra sentiu o tronco da oliveira. o teu corpo existindo no meu. o meu corpo sendo no teu. sombras de corpo no outro corpo. o corpo da sombra abraçando o corpo da oliveira. corpos de corpos sem sombra. o teu corpo no meu. o meu dentro do teu corpo. um só corpo sem sombras.

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