sábado, 31 de março de 2007
atravessa-se ruas e praças e pessoas.
atravessa-se lugares onde se faz e pensa.
se ri e chora
cruza-se amores e outros afectos
e raivas que se diluem
por o infinito espaço ser demasiado pequeno
troca-se o impulso pelo deslumbre
de todas as imagens
de humanas paisagens
não se corre atrás nem à frente. talvez se corra apenas, ou caminhe, ou sua qualquer ilusão.
quanto mais perto maior
a viagem
de que tamanho é o mar?
e a sua idade?
De olhos abertos na lucidez de que nada se vê
No desejo de nada ver
senão entes entretidos a construir quaisquer castelos de espuma
nas areias duma maré vaza
quinta-feira, 29 de março de 2007
a leste
mudando a hora, o rio revela-se mais matinal, espreguiçando-se por entre margens e mouchões, navegando na névoa de negros navios
(fotografias tiradas às 6h38m)
quarta-feira, 28 de março de 2007
terça-feira, 27 de março de 2007
regresso a
foi por acaso ou em vão que há quase um século um homem e uma mulher se amaram? vamos deixar esse amor esvair-se no tempo como se não tivesse existido? juntemos as crianças. elas sabem brincar.
sábado, 24 de março de 2007
escrita
por escolha, constrangimento e quase obrigação, a escrita vai ter de sair essencialmente das ideias.
sexta-feira, 23 de março de 2007
dar
não se pode dar só porque se julga que é bom para o outro, que ele vai gostar?
porque que é que as 'dávidas' sem autoria podem ser tão mal recebidas?
às vezes ter de manifestar a 'autoria' retira a quem dá a liberdade e a espontaneidade do dar. nem sempre é importante quem dá. só o dar e o receber.
sem segundas intenções. sem desconfiança.
só o acto. e o receptor. sem emissor.
terça-feira, 20 de março de 2007
(do prefácio à tradução francesa de Ich und Du [Je et Tu], Martin Buber)
segunda-feira, 19 de março de 2007
Quarto com vista para...
já está vindo a Primavera
domingo, 18 de março de 2007
ao longe, o Tejo...
Há certos dias em que é urgente ir ter com o rio.
sábado, 17 de março de 2007
my radio stars
É mesmo um bloqueio, até porque quando ouço o nome, digo ou penso: ah, pois é!
Deve ser trauma de infância; meu pai propunha frequentemente: "dou um doce a quem souber de quem é". E no meu conhecimento musical infantil lá ia acertando: Bach, Haendel, Mozart, Schubert... mas nunca recebi o tal prometido doce.
Hoje acho que acerto menos do que com aquela precoce idade. E como o gosto se alargou, ainda me sinto mais ignorante. Além de ter um grande problema se penso comprar um CD.
A rádio tem-me salvado nesse aspecto: é só ligar o botão. Mas dado o panorama cada vez mais massificado-histérico, tenho-me voltado para as rádios alternativas.
à noite, depois de chegar a casa, ligo-me ao silêncio e aos sons, sem querer saber de nomes:
- à segunda-feira: vidro azul
- à quarta-feira: íntima fracção
(este fixei: Scott Walker em Just one smile)
- à sexta-feira: como no cinema
e claro, sempre que posso (senão há sempre o podcast), as boas conversas
ao sábado: quinta essência
[e se o entrevistado não for de 'minha preferência', há sempre outros motivos para ouvir(-te)]
durante a semana, ao fim da tarde: pessoal e intransmissível
E a última descoberta: miss-tapes
do amor § 2
Fechar os olhos. Sentir o sol na face, o calor no corpo ainda pouco destapado, e talvez haja uma leve brisa tocando-nos a pele. Um sorrir instintivo. Como se sorrissemos ao amor.
E espreguiçar como que abrindo os nossos braços a um abraço. Quente.
sexta-feira, 16 de março de 2007
nocturno
já há dias tinha pensado, ou melhor, sentido. hoje mais uma vez, provavelmente como consequência do almoço, condicionado no tempo entre picagens de ponto.
que saudades de noites infinitas, daquelas que sob uma brisa amena, horizontes descobertos, sem ponteiros de relógios, se vai desfiando conversa. primeiro, trivialidades, depois, pouco a pouco, cada um vai desvendando, penetrando em si, descobrindo-se e partilhando, devagar, entre falas essenciais, escutas atentas e silêncios que absorvem e entendem empaticamente o universo do outro.
noites de intimidade.
noites porque só no silêncio da noite é que as palavras assumem uma importância, um sentido, uma forma/conteúdo que é incompatível com a agitação do dia. são os sons nocturnos, a luz fusca que visibilizam o que não é imediato. como uma viagem ao interior de cada um, de cada outro.
saudades de viajar assim.
ao almoço § 2
saboreia-se a amizade. devora-se a distância.
quem dera fazê-lo todas as semanas, talvez assim a conversa ficasse mesmo em dia.
quinta-feira, 15 de março de 2007
ao almoço
terça-feira, 13 de março de 2007
voltar?!
sem hesitações, sem perguntas.
foi bonito, dizem. sorrir contente. tranquilamente.
sem expectativas.
foi ao octogésimo quinto passo, depois mais quatro, falta um
de outros.
passo, degrau ou simples respiração.
é no feminino que se desnudam dos véus. uma qualquer essência.
não é promessa ou desejo
voltar a fechar os olhos. nada mais. nada e inspirar profundamente.
terra...pouca.
domingo, 11 de março de 2007
utopia?
Mário Dionísio, Autobiografia, Lisboa: O Jornal,1987
chora como um menino : não que lhe tivessem tirado um brinquedo, ou sequer ralhado
chora como menino : viu pela primeira vez:
não é torrente; só. única.
desprendendo-se fugidia sem querer nem saber
em espanto . impacto em
ondas com-centro por uma pedra caída no lago : com-fundo
sábado, 10 de março de 2007
da vida e da obra § 1
(Que eu saiba nenhum orgão de comunicação social nacional deu conta disso; apenas na sua terra: aqui.)
Ficam os seus livros de Poesia:
"Hoje na Madrugada", "Do Konjeve a Nzinga-a-Cuum", "Dizer País" (com David Mestre), a antologia "25 Poemas de Fernando Alvarenga", "Meus Cantos de Ainda", "A Mãe por um Menino", "O Íris da Cinza", "Na Gávea de um Lírio", "Treze Poemas para a Mãe".
E a sua obra ensaística:
"A Arte Visual Futurista em Fernando Pessoa” (Editorial Notícias, Lisboa, 1984)
"A Arte nas Estéticas de «Orpheu»" (Editorial Notícias, Lisboa, 1994)
"José Régio Perante o Neo-Realismo" (incluído parcialmente na obra colectiva “Ensaios Críticos sobre José Régio” – Edições Asa, Porto, 1994)
Foi colaborador em publicações como:
Colóquio-Artes, Mealibra, O Escritor, Boletim do Centro de Estudos Regianos, A Voz de Ermesinde, O Correio do Douro, Jornal das Aves, Jornal de Notícias, Jornal de Letras e Artes, A Província de Angola, Prisma, Diário de Luanda, Convivium, Planalto, Convergência, Ecos do Norte, Diário Popular e República.
sexta-feira, 9 de março de 2007
do amor § 1
outras... recolhe-se em bicho de búzio.
quinta-feira, 8 de março de 2007
lugares do poder
quarta-feira, 7 de março de 2007
há 20 anos
Deste lugar... dele, falarei mais, um dia.
Agora, vinha a propósito do Zeca. Nessa noite, nesse sótão, ouvi a notícia no silêncio da noite - quando a rádio era tranquila e nos falava -. E, como nunca tinha acontecido por alguém que não conhecia, chorei.
A morte tinha saído à rua... por um poeta-cantor.
Poema
I
Sobre os meus olhos
em ponto negro,
de cal pintados
-há dois corvos sentados
IV
Rio d' águas passadas
Meu rio escondido
V
Águas claras correndo,
Meus sonhos vão indo!
- São seixos rolando! -
- São pedras caindo ! -
VI
Oh! águas que lavam
as pedras do rio,
- Que vento nos leva
no sonho vazio?
In 'Via Latina', Ano XVI, nº 78, 28-2-1958, extra-texto
Hoje entre os "meus" papéis encontro um com poemas de quando era um jovem poeta.
Tinha deixado passar o aniversário da morte sem qualquer referência. Mas há pessoas que não precisam de data certa para serem homenageados. O que nos deram é já uma celebração.
terça-feira, 6 de março de 2007
domingo, 4 de março de 2007
sábado, 3 de março de 2007
Traços
Com o teu silêncio, e aguentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.
A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.
Rabindranath Tagore (1861-1941)
é bela. bela e redonda. círculo de magias milenares. fonte das marés de meu e d' outros mares. o início e o fim de um nome.
lu_
_a
nome guerreiro
depondo sempre as armas aos pés de quem se prepara para lutar. não há força que valha a guerra. resistência não é guerra. a lua não se transforma na terra, nem o sol em lua. mesmo que a penetrem, a esventrem, a cravem de bandeirinhas com listas ou estrelas.
não há revolta nem mágoa. a dor passa sempre.
já vos falei da dor?
a ânsia pela claridade arrebata.
aqui me tens. nada mais posso fazer.
não é cansaço. ser nunca cansa. como a luz.
alegria / melancolia / paixão / utopia
quatro das múltiplas fases de luas
na sua plenitude
a Lua é crescente e decrescente,
toda e nua.
o cigarro que conscientemente mata. devagar demais.