quarta-feira, 7 de março de 2007

há 20 anos

Foi sob estas tábuas que soube da morte de Zeca Afonso. Lembro-me... era noite e ouvia rádio e, com 99,99% de probabilidades, lia. Do andar debaixo, vinha o silêncio dos sonos da família. Como muitas outras noites na minha mansarda privativa... ou simples e mais propriamente, o meu sótão. A casa de exílio, de refúgio, desde precoce adolescência até à saída para a vida 'adulta'.
Deste lugar... dele, falarei mais, um dia.
Agora, vinha a propósito do Zeca. Nessa noite, nesse sótão, ouvi a notícia no silêncio da noite - quando a rádio era tranquila e nos falava -. E, como nunca tinha acontecido por alguém que não conhecia, chorei.
A morte tinha saído à rua... por um poeta-cantor.


Poema

I

Sobre os meus olhos
em ponto negro,
de cal pintados

-há dois corvos sentados


IV

Rio d' águas passadas
Meu rio escondido

V

Águas claras correndo,
Meus sonhos vão indo!
- São seixos rolando! -
- São pedras caindo ! -


VI

Oh! águas que lavam
as pedras do rio,
- Que vento nos leva
no sonho vazio?

In 'Via Latina', Ano XVI, nº 78, 28-2-1958, extra-texto

Hoje entre os "meus" papéis encontro um com poemas de quando era um jovem poeta.
Tinha deixado passar o aniversário da morte sem qualquer referência. Mas há pessoas que não precisam de data certa para serem homenageados. O que nos deram é já uma celebração.

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