domingo, 24 de setembro de 2006

Quase a chegar a casa – a outra casa – um arco-íris sobre uma nuvem; a humidade da nuvem ao reflectir a luz, decompondo-a, e surge o semicírculo das 7 ou mil cores.
Pelo caminho, carrego um pouco no acelerador, na esperança de chegar a tempo do pôr do sol. Descarregar a “tralha”, vestir o bikini – quem sabe se à beira-mar estará um daqueles mornos fins de tarde. Assim o faço, em ânsia de chegar a tempo…
Volto ao carro, mais um quilómetro e estaciono junto às dunas. Saio com a toalha debaixo do braço, quase que corro até praia. Até ver o mar. Descalça, sentindo o fresco da areia, quase estaco: o mar, o meu mar, a minha praia, o meu horizonte, o meu azul, ali. Eu ali. Um nó na garganta. Quase ausência de respiração. Enchendo os olhos, inundando-me. Nem eu sabia as saudades que sufocava. O quanto precisava daquele meu espaço. Ainda por cima, só meu, vazio de gente, como dantes. A Minha Praia. E eu. A praia das brincadeiras da minha infância; dos devaneios adolescentes; das ausências prolongadas da vida adulta, mas sempre reencontrada – eu e ela.

Quase à beira-água, uma concha, das que pertencem ao meu universo, das mais pretendidas; uma concha, grande, um pouco carcomida, um pouco desgastada, mas linda, harmoniosa, como eu, como a praia. A minha praia.
18-09-06, 21h52m


Tenho escrito, muito. Com palavras escritas, outras ficam por escrever num papel – de algum modo gravadas em mim. Não serão para este Silêncio. Há coisas muito nossas que não devem ver a luz do deserto. A ‘alma’ só é revelada com alguma estruturação. Aquilo que faz parte do sentir – da dor profunda – fica nas criptas de um silêncio absoluto. A contradição, o querer - não querer, o amor e a raiva, a decepção, o sofrimento são só meus. Porque só eu os sinto. Não os posso dar a ninguém, nem ninguém mos vai aplacar. Terei de ser só eu, como fui sempre. Como cada um de nós. Nem com quem partilha(´)mos sente, compreende…
Travessia dura… esta. E só agora, comecei. Não sei como terei forças. Mais uma vez… A vida renova-se, eu sei. E nunca é da mesma maneira. Não há retornos. Talvez aqui e ali similitudes, mas nada volta. As areias movem-se, e o deserto transmuta-se, nunca mais será o mesmo. Particularmente depois de uma tempestade.
Enterrada, não sei se estas minhas gotas de águas me alimentam, se me sufocam.
21-09-06, 12h19m


Penso em escrever uma grande análise, denominada simplesmente ‘exercício de estilo’. Pois então, já que não teria outra função. Gastar palavras. Deitá-las ao lixo, como outras tantas coisas que nos são essenciais. Não seria perda de tempo, se o tempo assim o quisesse. Escrevo mentalmente, demonstro, como um problema matemático. Uso tangentes, derivadas, constantes – apesar de não as usar há uns anos -. Tudo bate certo. É demonstrável. Mas quem disse que o que é demonstrável matematicamente pode ser crível, para quem não quer acreditar?! Afinal é tudo uma questão de crença, mesmo que seja comprovadamente irracional.
22-09-06, 22h08m

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