sábado, 30 de setembro de 2006

Cellos de Bach em tons outonais. Sons que afagam esboços matizados de um fim de tarde.
Como a tranquilidade das àguas de um rio. A noite vai lentamente caindo, numa outra face da luz.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Sem o saber, escrevi há uns dias um post que intitulei Nomes coincidentes ou coincidência de nomes?. Coincidência ou não, no dia seguinte tomo conhecimento de um Simpósio Internacional "Nomes e Pessoas: Género, classe e etnicidade na complexidade identitária", organizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Numa breve introdução do programa, lança-se o 'desafio do debate': "Estudar nomes de pessoas é estudar a pessoa."
Sem nome, quem seríamos? As coisas sem nome existiriam? Existem?
Relembremos que para o judaísmo, nada existe que não tenha um nome, e se não o tiver não existe.

Também no pensamento grego, já se adivinhava a importância da nomeação. Como em "Crátilo: diálogo sobre a justeza dos nomes" de Platão, em que Sócrates a propósito da origem da linguagem, da etimologia e da sua relação com a natureza (physis), associa o ‘acto de chamar’ (to kaloun), o denominar ou nomear, às coisas belas (kala) e ao pensamento: “o kalon, o «belo», é a denominação da sabedoria (phronesis) produtora daquelas coisas a que, comprazendo-nos, chamamos kala, «belas».”. (416 a – d).

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Hiato

A pose esfíngica, impassível, estilhaça-se ao ser animadamente indagada. As férias foram boas?! Não há como omitir àqueles que nos são sensíveis. Nem mesmo numa interrupção momentânea de um telefonema. Move-se lentamente a cabeça, sussurra-se não, ouve-se telefona-me se precisares de mim. Cá fora, a alma esconde-se no rosto.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Ontem, há uma da manhã ainda me enviaste um mail. Tinhas acabado de trabalhar, e ainda tiveste tempo... tempo, não; carinho, amizade.
Como naquele dia seguinte em que cheguei a tua casa, olhámo-nos, e abraçadas chorei. Depois... fomos à praia. Cúmplices num passado tão longínquo, cada vez mais próximas. Até ao pôr do sol. Este.

A foto não é boa. De um telemóvel. Mas a imagem, em mim, contigo, ficou no meu lugar mais precioso.
A nossa ânsia de 'capturar' as gaivotas que se apropriavam das areias deixadas pelas gentes... como se dependesse disso a nossa felicidade... de gaivotas voantes. Não dependeu, tornou-se. Iluminou-se.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Nomes coincidentes ou coincidência de nomes?

Há dois dias, por mero acaso - nem sei o que estava a pensar, mas de certeza nada relacionado com isto - surgir-me a questão da coincidência dos nomes.
O mesmo nome de pessoas que em dada altura da vida se repete. Não se conhece nenhum X relevante na nossa vida, e de repente, contacta-se com 2 ou 3 ou 4 pessoas de nome X. Ou então, descobre-se que o nome YZ que era o de um primeiro namorado (aquele a quem se deu um primeiro beijo, que se andou um dia de mãos dadas), não é nada mais do que o conjunto dos nomes das duas pessoas que tiveram mais importância na nossa vida; respectivamente o Y e o (W)Z. Curioso, não?

A nomeação de alguém, a atribuição de um nome, o "baptismo" de alguém, com 'nick' ou com nome que passa a ser próprio, é uma questão que marca a vida desse outrém.
Há nomes muito carregados de 'estereótipos', de peso social - há tempos alguém me dizia: "Por exemplo, Kátia Vanessa... vê-se logo a origem da pessoa". Não sei se é assim tão linear, mas há nomes que realmente têm uma carga maior do que os outros. Para não falar da questão estético-fonética.
Luisa, porquê?
Gosto do nome Luisa, sempre gostei. Talvez seja o meu nome, talvez não o seja apenas. Talvez tenha sido uma coincidência eu ter ficado com este "nome". Talvez não tenha sido "tida nem achada". Talvez seja assim, talvez seja um eu que queira que vejam. Talvez esteja a encobrir-me, descobrindo-me.
Não interessa, neste deserto serei Luisa.

Favoritos

Arrumando coisas de casa e desta casa portátil, encontro sítios vazios. Outros ainda com vida, ou antes, memória. Por um lado, ainda bem que a minha memória já não é o que era - não é só a memória! Reordeno os links, os vários, alfabeticamente, os terminados, os deste blog. E nos terminados, quantos por que já passei/visitei e adicionei. Três anos de blogagem. Os de início acabaram quase todos. Escreveram livros e partiram. Mudaram de casa. Mudaram de escrita. Ou foram os meus olhos que mudaram. Talvez seja mais isso. Os meus olhos. Contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que continuo a visitar assiduamente. E desses pouquíssimos linkados aqui (haverá algum?)... a minha travessia é silenciosa. Por enquanto. Nunca foi muito ruídosa, mas neste momento de vida, não quero ecos, apenas vozes.
Vou re/descobrindo outros sítios, num equilíbrio entre o sensível e o inteligível.
Uma rede próxima numa rede de tanto deserto.

domingo, 24 de setembro de 2006

Quase a chegar a casa – a outra casa – um arco-íris sobre uma nuvem; a humidade da nuvem ao reflectir a luz, decompondo-a, e surge o semicírculo das 7 ou mil cores.
Pelo caminho, carrego um pouco no acelerador, na esperança de chegar a tempo do pôr do sol. Descarregar a “tralha”, vestir o bikini – quem sabe se à beira-mar estará um daqueles mornos fins de tarde. Assim o faço, em ânsia de chegar a tempo…
Volto ao carro, mais um quilómetro e estaciono junto às dunas. Saio com a toalha debaixo do braço, quase que corro até praia. Até ver o mar. Descalça, sentindo o fresco da areia, quase estaco: o mar, o meu mar, a minha praia, o meu horizonte, o meu azul, ali. Eu ali. Um nó na garganta. Quase ausência de respiração. Enchendo os olhos, inundando-me. Nem eu sabia as saudades que sufocava. O quanto precisava daquele meu espaço. Ainda por cima, só meu, vazio de gente, como dantes. A Minha Praia. E eu. A praia das brincadeiras da minha infância; dos devaneios adolescentes; das ausências prolongadas da vida adulta, mas sempre reencontrada – eu e ela.

Quase à beira-água, uma concha, das que pertencem ao meu universo, das mais pretendidas; uma concha, grande, um pouco carcomida, um pouco desgastada, mas linda, harmoniosa, como eu, como a praia. A minha praia.
18-09-06, 21h52m


Tenho escrito, muito. Com palavras escritas, outras ficam por escrever num papel – de algum modo gravadas em mim. Não serão para este Silêncio. Há coisas muito nossas que não devem ver a luz do deserto. A ‘alma’ só é revelada com alguma estruturação. Aquilo que faz parte do sentir – da dor profunda – fica nas criptas de um silêncio absoluto. A contradição, o querer - não querer, o amor e a raiva, a decepção, o sofrimento são só meus. Porque só eu os sinto. Não os posso dar a ninguém, nem ninguém mos vai aplacar. Terei de ser só eu, como fui sempre. Como cada um de nós. Nem com quem partilha(´)mos sente, compreende…
Travessia dura… esta. E só agora, comecei. Não sei como terei forças. Mais uma vez… A vida renova-se, eu sei. E nunca é da mesma maneira. Não há retornos. Talvez aqui e ali similitudes, mas nada volta. As areias movem-se, e o deserto transmuta-se, nunca mais será o mesmo. Particularmente depois de uma tempestade.
Enterrada, não sei se estas minhas gotas de águas me alimentam, se me sufocam.
21-09-06, 12h19m


Penso em escrever uma grande análise, denominada simplesmente ‘exercício de estilo’. Pois então, já que não teria outra função. Gastar palavras. Deitá-las ao lixo, como outras tantas coisas que nos são essenciais. Não seria perda de tempo, se o tempo assim o quisesse. Escrevo mentalmente, demonstro, como um problema matemático. Uso tangentes, derivadas, constantes – apesar de não as usar há uns anos -. Tudo bate certo. É demonstrável. Mas quem disse que o que é demonstrável matematicamente pode ser crível, para quem não quer acreditar?! Afinal é tudo uma questão de crença, mesmo que seja comprovadamente irracional.
22-09-06, 22h08m

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Arrumo alguma da minha "tralha", e por alguns dias, rumo ao centro do deserto.
Lá, onde o ar é mais puro. Longe de tudo.
Talvez no "quase" nada, me reencontre, me reinvente.

domingo, 17 de setembro de 2006

Do amor à liberdade, a distância de um grão de areia.
Entre a posse e o amor, um grão de areia na engrenagem.
O belo pode ser o excesso.

A diferença. O natural - não "podado" pelo Homem.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Nunca como agora. Sou a personificação da incredulidade.
Releio, revejo. Palavras, imagens. Das minhas, nem as quero escutar.
Como se lê - esperança? promessa? dádiva?
Como nos libertamos da pele? da luz? das águas?

Pela noite, vou...

Sem frigorífico...

Pensei em dizer é melhor assim, afinal não era este o homem por quem me apaixonei. Pode parecer redução da dissonância cognitiva ou emocional, mas no fundo não é. Não foi este o homem que amei, não era este o homem que parecia que me amava. Que cuidava de mim com carinho, que deixei entrar na minha casa, na minha vida, no meu coração. Pensava que era alguém confiável, que eu podia confiar e confiar a minha vida e a vida de...
Não era! E agora estou vazia. Mais do que a casa. Aqui e ali com alguma raiva. Raiva sobretudo contra o destino. Contra ele? não. Não merece. Não soube amar. E em relação a isso, só posso ter pena. Como tenho pena de não ter sido amada.
Eu amar, não é assim tão difícil, afinal há gente "amável"; mais uns do que outros, de maneiras muito diferentes. Os homens que amei - que não conseguiria voltar a amar, tinham defeitos, muitos ou poucos, mas foi a sua ... não sei, na verdade não sei o que foi que me fez amá-los, ou apaixonar-me por eles.
Talvez seja isso, a não-razão que me faz amar, ou apaixonar por homens, "errados". As não-razões, sempre diferentes, que a razão não conhece. Talvez me tenham apenas tocado o coração. O toque. O primeiro, custoso, cheio de reservas, mas depois a entrega progressiva. E, no final, o corte. Meu, dele, pouco importa. A sensação de perca de qualquer coisa.
Quando se sente amor, ganha-se, vive-se, ilumina. Depois... a dor. Como neste momento.

Nota: o novo frigorífico vem amanhã. Sim, porque no Deserto um frigorífico é indispensável!!
Há coisas que se conseguem substituir, outras terão de aguardar mais uns dias, outras aindas... outras ficam em nós... ou não.
Retirados os livros, ficou o pó.
E de nós?

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Ora cá estamos mais uma vez!!!

Frente às areias do deserto.
Para trás... lá atrás ficaram trilhos que os ventos e os tempos se encarregarão de diluir.
No deserto, não há caminhos definidos. Depois de tudo, só podia estar num lugar assim. No deserto. Onde tudo é possível. Onde se olha, e aparentemente nada se vê.
Onde a água - salgada - me sustenta. Onde o silêncio é ensurdecedor.

Mas é também, segundo me contaram, o sítio onde se consegue ter uma visão do espaço única. Particularmente à noite.

Esta minha passagem viverá pelos sons do silêncio.




[Estes posts, de Setembro a Fevereiro, estiveram inicialmente alojados no blog No silêncio do Deserto]

terça-feira, 12 de setembro de 2006

(.) Obrigada...

Fecha-se um ciclo quando se morre um pouco... mais um pouco.
Há cerca de vinte anos não tive coragem de percorrer os 120 km que me separavam... para quê? entre o impulso de ir e a falta de coragem de enfrentar o inevitável, deixei-me ficar. Lamento? Não, agora não. lamentei durante muito tempo, tempo demasiado antes de saber que a filha-da-putice era mais generalizada do que eu pensava nos sonhos de final de adolescência. Ontem, pela madrugada, fiz os mesmos 120 Km - as coincidências da vida... - que tive um dia receio de percorrer para receber uma (mesma) resposta esperada.
E morri mais um pouco.
(e pensei: a partir de hoje a filha-da-putice vai ser minha!!! - Mas sei que não vou ser capaz. E, mais uma vez, com lágrimas, sei que sequei mais um pouco).
Já não faz sentido continuar aqui... Este foi o meu Lugar Efémero... criado há 2 anos e quase nove meses... outros lugares serão meus, este já não.Foi o meu respirar, o meu mar, fui Eu...
É hora de partir. A todos os que por aqui habitaram, Obrigada pelo MUITO.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

...

Amanhã entrarei em férias. (Oh merecidas férias!!!)
Hoje vislumbrei parte do meu "futuro". Amanhã... será uma outra parte...?Neste momento estou demasiado cansada para pensar. E para sentir? - não vou, não posso 'estragar' este meu dia, por pensamentos mais negativos. Depois de tantos anos a machucar-me a mim própria, mereço este momento meu... conquista minha.Amanhã... amanhã... logo verei. Mas acredito... acredito mais uma vez, que estarei à altura (de mim mesma).

(...)

Hoje foi o "meu" dia. Embora não tenha antecipado muito os frutos do trabalho que tive, eles superaram todas as minhas expectativas, todas as minhas previsões, se as tivesse feito. É bom este sentimento de ter realizado um trabalho BEM feito. Com razão e emoção; com alma e coração. E foi reconhecido; mais, valorizado. Como não tive ninguém no fim a dizer Tenho orgulho em Ti, disse-o para mim mesma, no carro, quando vinha para casa; pés moídos, muito moídos, dores nas costas, mas pouco importava. Sim, senti Orgulho de mim, por ter posto de pé, aquele empreendimento. Pensei-o, concebi-o, e pus a mão na "massa" e "pé no escadote"; embora não estivesse completamente sózinha, sei que era o motor anímico daquele projecto. Só por si isto já era bom. Mas ter recebido tantos parabéns - que sei sinceros, porque me ponho numa postura que as pessoas não precisam de me dizer o que não sentem - e de me terem manifestado o reconhecimento do "trabalhão" de qualidade, e as perspectivas profissionais futuras começarem a delinearem-se de um modo muito mais claro... faz encarar-me a mim mesma de outra forma. Que eu era capaz, já o pressentia, mas neste caso concreto, tive a confirmação. E ainda por cima ter a sorte de ser reconhecido... por pessoas 'importantes'... Eu que ironica e intencionalmente me coloco numa posição de retaguarda, atitude que poderia ser vista por alguns como 'parva'... mas de que servem ocas projecções e vãs glórias?! Eu chegarei ao que quero... fazer um sério e bom trabalho, por que sei que gosto e sou capaz. Porque me dá alegria. Porque gosto de ver coisas feitas e pensadas com cabeça. Porque importa darmos algo de nós aos outros.Porque é (parte d)a minha vida!

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

terça-feira, 5 de setembro de 2006

(…) Estória de assar.apantar .2

Da primeira vez… bem, a primeira foi para esquecer. À segunda afirmou: Já que da outra vez tive casamento sem lua-de-mel, agora vou querer lua-de-mel sem me casar. Quanto se separou, suspirou e pensou: nem papel nem mel, só viver de mãos dadas...

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

(…) Estória de assar.apantar .1

Num dia quente, muito quente, saiu de casa para não mais voltar. Na véspera, tinha-lhe dado um beijo, igual ao habitual. Desejado umas boas-noites, afim com o seu fim. Nada parecia indicar tal sorte. Toda a gente se interrogou perante o bilhete que deixou. “Vou para pensar”. Enquanto isso, ninguém sabia o que cogitar. Certo é que não se sabe o quanto pensou, ou nem o que meditou com os seus, ou outros, botões. Ao fim de muito tempo, conjecturou-se, mas também não se sabe bem por que carga de água, que de tanto magicar, se devia ter esquecido da sua (na-)morada.

domingo, 3 de setembro de 2006

Abel Salazar no CCB


A Exposição temporária Abel Salazar, O Desenhador Compulsivo, que está patente no CCB, organizada pela Casa-Museu Abel Salazar e pela Fundação Mário Soares, é arrojada.

Arrojada para um 'grande' público habituado a ver arte contemporânea de 'encher o olho'. Mesmo aos mais interessados nestas coisas das artes plásticas e das questões expositivas poder-se-á ouvir - como ouvi dizer - "é muito repetitiva". Para quem não sabe o que é o desenho, talvez o seja. E julgo que poderá ter sido essa a intencionalidade dos organizadores. Ela só o é aparentemente: pelo tamanho e formato das molduras. A forma que enforma o desenho em si.

Porque os desenhos, embora com temática centrada na figura humana, especialmente na mulher, é rica e variada no traço. É isso que no desenho conta. O desenho é uma procura - não interessa o bonitinho e o acabadinho - são estudos. O desenho é a via mais directa entre o pensamento (plástico) e a sua visibilidade.

Quem não sabe olhar - ver - não achará interessante esta exposição.

Só uma nota final: aquele verde?! foi para dar um ar de maior contemporaneidade? Não era necessário...

sábado, 2 de setembro de 2006

...

Noite fechada. Rego as plantas - sedentas -. Provera que fosse tão simples!

Assomo à varanda. Daquelas duas grandes árvores ouve-se o desassossegado chilreio dos pardais. No horizonte, a outra margem. Entre nós, o rio, escuro.

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

...

Não sei porquê, gosto de filmes franceses ( ... e de italianos). talvez pela língua. talvez por uma qualquer marca infantil (do tempo em que a presença da filmografia europeia era mais forte na televisão e no cinema comercial), ou por um sonho adolescente, romântico.

Um dia irei a Paris. E a Veneza. De beijo dado com o meu amor.

Será Setembro...