domingo, 31 de dezembro de 2006
último dia
sábado, 30 de dezembro de 2006
uma mãe ou uma tia
uma irmã mais velha ou mais nova
queria um colo de mulher
onde me contasse uma história
bem velhinha
uma história como a dela
como a minha
queria uma antiga cozinha
de portas largas e num canto
a lareira, cheia de vozes e
cheiros, com lágrimas ou risos
nos silêncios de irmãs
privilégio
José de Santa-Bárbara
óleo s/ cartão
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
bendita des-memória
da última passagem de ano ficou o riso, aquele riso.
e deste natal... o teu olhar pelas palavras, a minha emoção, o nosso abraço. a tua pergunta. é sim, de felicidade. foi, sim, de me/nos tocarmos.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
interrompida pairava escorregadia pelas águas.
gaivotas julguei eu que na noite tinha gritado
ou sonhado, deixem-me ir convosco,
mas elas estavam ali atracadas no silêncio do cais.
as outras, apenas aves, das que vão e
vêm quando é tempo de ir e vir.
e vinham para logo irem, muitas, quais fiapos jorrando
cada vez mais e mais, voando com o olhar
já na foz, tal como aquela correnteza imperceptível
da água. já não era um bando, era um pano
de aves escuras em contraluz, deslizando
entre dois panos cerúleos,
juntando-se lá longe como uma só
asa dançando evocante.
e em revolto véu romperam o horizonte.
no cais em silêncio, eu e as gaivotas.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
Natal à beira-rio
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira
Lugar(es) Efémero(s)
Primeiro no blogspot, depois no weblog.
Em Setembro foi a despedida e, passado dois dias, abri este outro lugar.
Porque escrever é-me necessário. Seja em que lugar for, aqui, ali, num qualquer pedaço de papel.
Hoje é dia de Natal... um dia para 'nascer'.
Três anos ...
Efémero?
O que há de mais importante - perene - senão o que toca e permanece no coração?
Mais de três meses de ausência, aqui, desvelo - alguns já o saberão - o meu outro lugar.
Por razões diferentes - e como o tempo as faz acontecer - quis ir para um lugar onde se escutasse
(N)O Silêncio do Deserto.
Obrigada aos que ainda continuaram a passar por aqui.
[post escrito em lugarefemero.weblog.com.pt]
domingo, 24 de dezembro de 2006
presentes...
e há dádivas que nos deixam sem palavras. porque vão directas… tocam num qualquer âmago nosso.
os meus velhos pais natais dizem-me arranja tu a prenda, nós já não podemos caminhar. a deles que se compra, esperará talvez, não sei se terei tempo, também já esperou quase um mês. o gesto deles já é nosso, como sempre, para sempre. esse é uma oferenda. o outro é ‘só’ uma ‘coisa’ – cara, mas não deixa de o ser. prefiro as coisas que não são coisas. símbolos das outras. e ainda falta uma que vou dar. que também me vou dar... iremos receber.
como em criança, não o sendo, já – ainda - sinto um pouco a ânsia da véspera. do adormecer inquieto. dos pés frios. mais logo é natal...
sábado, 23 de dezembro de 2006
boas -s: cumprimentos, felicitações por ocasião do Natal e Páscoa; presente que se dá no fim do ano;
infâncias...
Monto a árvore, os enfeites – todos de outros anos, alguns de muitos, muitos anos – dispostos numa desordem segundo a inspiração e o olhar que se vai construindo – nunca sai muito diferente do habitual, fica – é - sempre diferente em cada ano -. testo as luzes, à noite quando escurecer, acendê-las-ei. no fim, a estrela – tenho à escolha duas estrelas, uma de compra, outra que eu mesma fiz há anos atrás. olho, não há que duvidar, é esta que coloco no pináculo. dou três passos atrás, observo a árvore, e sorrio.
e venho aqui contar, e agora ala… ainda há bastantes coisas para fazer até amanhã.
que espantoso, tinha acabado de escrever, toca o telemóvel. é uma amiga de infância. há mais de 20 anos que não nos falávamos, que não nos víamos. a última vez já tinha sido um encontro de adolescência. fiquei feliz. combinámos encontrar-nos. um destes dias
máscaras de natal
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
domingo, 17 de dezembro de 2006
vidas de tantos convencimentos, de certezas, de ilusões, de enganos. e como se acredita neles! mesmo convencidos do seu contrário, acredita-se. amarras, sempre amarras que tolhem. mesmo as que se cortam. as que se pensa que já se extirparam. mesmo as que se soltam.
o difícil não é o novo.
é o outro.
sábado, 16 de dezembro de 2006
graças...
Agradecer pelo que não temos…
Sem contar, vou desfiando… menos uma, duas… oitenta e oito bagas de amoras… como contas de um rosário que desconheço. novenas em nome de um outro nome.
Agradecer pelo que temos…
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
contrariando a geometria euclidiana
é o prodígio da geometria hiperbólica, já que não existe 'hipo-bólica'.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
do espírito natalício #4
Contudo, sei que o Natal está em mim. O meu Natal de criança. Fazíamos com a mãe, a árvore de Natal, com um pinheiro que íamos buscar à rua da frente, depois a areia e as bolas e as fitas... uma vez, fiz uma estrela para o topo da árvore. No fim, uns fios prateados para cobrir a areia, um papel de natal para esconder o balde. E o presépio, que foi crescendo, crescendo com múltiplas figurinhas. Eram todas importantes até o cordeirinho e a casa da montanha. O musgo que íamos apanhar, num domingo de manhã, ao olival. Agora, o presépio está em casa de minha irmã para os meus sobrinhos.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
domingo, 10 de dezembro de 2006
Dou as mãos à palmatória, e rimos os dois...
A Casa da Lenha
Daquele a que Eugénio de Andrade chamou 'anjo de pedra'. Um olhar de memória(s).
Memória pessoal, interiorizada; mas também memória colectiva de um país - porque a situação do país, desde a implantação da república até pós 25 de Abril, vai trespassando a sua/nossa vida. Daí que esta peça poderá ter uma componente pedagógica importante para as gerações que não vivenciaram nem conhecem as décadas 'cativas' do século XX. (se puderem levem os vossos filhos convosco a vê-la ).
E, claro, sempre a música, elemento fundamental nesta dramaturgia, desvendando a diversidade das obras do compositor, numa escolha criteriosa e límpida que fazem do texto, som e imagem um todo coeso e surpreendente.
Um apurado texto de António Torrado.
Uma óptima encenação de João Mota.
Uma sólida interpretação de Carlos Paulo.
Um excelente trabalho de toda a equipa.
Uma peça de qualidade, a ver sem dúvida.
Ainda uma das canções cantadas...
Oh pastor que choras
o teu rebanho onde está?
Deita as mágoas fora,
carneiros é o que mais há
uns de finos modos
outros vis por desprazer...
Mas carneiros todos
com carne de obedecer.
Quem te pôs na orelha
essas cerejas, pastor?
São de cor vermelha,
vai pintá-las de outra cor.
Vai pintar os frutos,
as amoras, os rosais...
Vai pintar de luto,
as papoilas dos trigais.
José Gomes Ferreira/F. Lopes Graça
sábado, 9 de dezembro de 2006
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
do espírito natalício #2
Se nunca fez muito sentido, cada vez faz menos. Parte delas vão ser mesmo obrigações sociais. Outras… as familiares, são simultaneamente mais complicadas e mais simples. Se dissesse que não dava nada a ninguém, explicando porquê, não me levavam a mal, eu sei; mas no fundo ficavam sentidos… e já tenho uma certa ‘reputação’ de ‘marginal’… e além disso, não gosto de receber sem dar, mas gosto de dar algo escolhido, algo que seja mesmo para o outro. Ou que eu tenha feito. Vai ser complicado este ano. Não estou mesmo para aqui virada – para o Natal? -. Consumismo infernal! Uma mascarada… deixa-me lá ir comprar uma…