vira-se a página. não uma página qualquer. a última. a última página que também é a contra-capa. vira-se a contra-capa. a que está mais perto da capa. a face e o verso. fecha-se o livro. dantes lembro, nos livros de que gostava, sentia sempre uma resistência quando começava a chegar ao fim. começava a ler mais devagar, saboreando as frases, pausando na memória de narrativas anteriores, interligando-as, criando mais e diversos sentidos. este foi um dos livros da minha vida. um dos livros que lemos e reescrevemos constantemente. um daqueles livros que nos apaixona porque feito de paixão. e de tanta paixão não vimos o final aproximar-se - ou vimo-lo com os olhos mas não com as mãos, não com a aorta que nos fez, faz virar páginas atrás de páginas. e o final aproximou-se: decadente e patético, mesmo se, por entre os gestos íntegros, se insistia em continuar a desenhar palavras e frases com sentido. a história pertence ao autor; a narrativa pertence a quem a lê e a reconta.
vira-se a página, vira-se a folha, vira-se a contra-capa, fecha-se o livro. logo ao lado, uma outra página. uma outra folha, um outro livro com capa sem título. uma folha junto a outra, um livro ao lado de outro livro. e mesmo ao lado, há ainda outra prateleira. outra estante. porque há sempre mundo. outra página. comecemos: de cima para baixo, da esquerda para a direita: um mundo de página.
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