terça-feira, 28 de setembro de 2004
Teu nome
Quando te penso, em ausência, por vezes não me lembro do teu nome. Lembro apenas. Lembro de Ti. Todo. do calor. do sorriso. do som da voz. do gesto terno. sem nome. porque não há nome tão grande assim. porque não há nome para este sentir. Como não há nome para a cor do oceano. Podemos chamá-lo de azul... mas esse nome diz tão pouco do mar, do infinito mar...
quinta-feira, 23 de setembro de 2004
quarta-feira, 22 de setembro de 2004
Espectros do fim de um dia… passado.
terça-feira, 21 de setembro de 2004
Ada Negri
Multidão
Uma folha tomba do plátano, um frémito sacode o cimo do cipreste, És tu que me chamas.
Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.
Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me atraem,
És tu que me queres.
De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.
Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta-o a vertigem obscura
És tu que me atravessas, tu.
Aquele Que Passa
O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de amor,
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando, em ti já não bela, em ti já não jovem, o aroma precioso do deus:
Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.
in Poesia do Século XX, tradução de Jorge de Sena, Fora do Texto, Coimbra, pgs. 161,162
retirado de http://www.terravista.pt/Guincho/2482/adanegri.html
quinta-feira, 16 de setembro de 2004
águas partidas
Em represas presas águas
julga-se que dali não fogem
nem partem
Falsa idade
gotas meninas de infância
até ao mar, até ao gira-sol
imperceptíveis
por serem águas tão-só
serem mães de arcos de mil íris
ventres de flor de sal
salgas desejos marinhos
terça-feira, 14 de setembro de 2004
sagração
sobre os céus que se tornaram rosas ou lilases, flores que não houveram,
apenas a planta seca à beira do caminho das pedras, de seu nome alcachofra
cardo selvagem sem espinhos ao contrário das perfumadas
sob as lajes do forte, entre as muralhas ouviram-se ecos de outrora
de batalhas e cerimónias e de festejos – faltaria talvez a caleche ou o corcel que nos levassem em glória
porquê se ainda tão pouco fizemos? ainda falta tanto … uma vida, quem sabe…
foi há mais de uma semana no cima do ermo, tendo por testemunha tudo o que já foi
ou será mais eterno do que nós
e querendo-o ser, prometemo-nos.
mais que elos prata feitos de ouro
olhares constantes.