Um amigo passa-me um convite para o twitter. A nova 'rede' de conteúdos de 140 caracteres. Clico no link e do que me é mostrado, nada de espcial me atraí. Pelo contrário, da breve olhadela deduzo que o interessante, ou o eficaz, seria o uso de telémóvel... ora se eu até nem aprecio mandar sms. Não sou da geração do polegar, não gosto de dependências - excepto a da nicotina -; para mim o telemóvel é um instrumento, logo útil por definição, não que de vez em quando não me alargue nas conversas, especialmente se não é possível estar com a pessoa. Mas não para 'substituir' uma relação mais frequente... apenas para mitigar.
Passados uns dias, e após nova conversa, vejo a apresentação com mais atenção: aí é que há um movimento de quase recusa: mandar um twitter (é assim que se designa?) a amigos, ou ao mundo inteiro, a dizer que estou a tomar café? ou que vou pela rua x? que vou finalmente regar as minhas plantinhas?
Que diferença está entre o que eu escrevo muitas vezes aqui e essas micro-mensagens? É que aqui há a escrita, o gosto pela escrita, pouco importam muitas vezes os factos, importa é o que se sente, o que se pensa sobre eles, a exploração e o desenvolvimento dos mesmos. Importa o trabalho linguístico (mesmo que não propriamente literário), a 'escaranfunchice', o remexer e deixar correr a pena (ou os dedos nas teclas) à medida que as palavras fluem. Agora estar a contar caracterzinhos?? Aqui pode até ter 20 ou 30, mas pode ter 300 ou 3000 ou... não interessa, não há limite, não nos pré-limitamos, não nos formatamos a priori. Sai espontaneamente, ou depois, acrescentamos, limamos, floreamos... cada um a seu jeito.
Se demorei uns bons meses a criar um (/este) blog, desde que um amigo me falou na blogosfera que tinha começado a aparecer nesse longínquo ano de 2003, não foi por não me sentir atraida, pelo contrário. Comecei logo a ler e a ser frequentadora assídua de alguns deles. Era uma forma de comunicação sim, mas uma comunicação que fazia reflectir, que nos alargava horizontes... como uma boa conversa, um bom livro, uma boa palestra.
E depois, o que interessa a alguém o que é que eu faço, como 'eles' argumentam? Se interessa, então venha ter comigo, venha partilhar, não tem tempo? azarito! Quando houver tempo e disponibilidade, logo partilhamos, e não se perderá se for realmente importante. Dizem na introdução video do twitter que "infelizmente a maior parte do nosso dia-a-dia está escondido das pessoas que gostamos"... infelizmente ou felizmente, pergunto eu? quereriamos viver o dia-a-dia com os nossos amigos, por mais amigos que sejamos? Eu quero viver momentos com os meus amigos. Não sou companheira deles nessa acepção. Escolhi-os por serem como são, pela história comum que fomos construindo e, se calhar, até nem seria capaz de viver um quotidiano com eles. (neste momento até questiono com alguém que amasse).
Mas isto no fundo são argumentos falaciosos... porque na verdade, dizer algumas coisecas, em 140 caracteres, sobre o que fazemos, não diz quase nada de nós, é uma simplificação do outro. É tornar o outro um fast-friend. Dá-nos apenas a ilusão de estarmos a partilhar, a compartilhar-nos, mas só a ilusão, a aparência, neste mundo 'real' que já tanto (sub-)vive de superficialidades.
nota: só umas contas por alto: se duas linhas equivalem a esses 140 caracteres quantos twitters seriam necessários? ok, talvez a ideia principal se possa resumir, mas.... e o meu gosto em escrever isto tudo? ;) e a vossa paciência :))
2 comentários:
Twitter...Não conheço,fiquei com curiosidade de experimentar, mais uma forma de impôr consumismo, não?
Mas pode ou não, ser até muito útil para certas situações...Apoio a idosos por exemplo, interessa-me e mto... se for útil nestas situações...vou ver isso....tx.
"Anónimo"...
já 'detectou' a utilidade?
Seria paradoxal um objecto de suposto prazer, ou lazer, voltado para uma geração mais nova, servir para apoio a idosos..
e já experimentou? se quiser partilhar...
Obrigada pelo seu comentário.
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