sexta-feira, 18 de novembro de 2005

O céu (não) é o limite...

Podia ter sido o teu desígnio... a ele estavas disposto, qual cavaleiro andante. O destino não somos nós que o fazemos. Também somos, mas apenas podemos mexer algumas peças deste xadrez. Se há coincidências, este último dia, foi-o malogradamente, tão diferentemente, para outros companheiros. Foram tantos anos; mas tantos ou mais, te (nos) aguardam. Começar de novo. Quantos mais podem dizer o mesmo? Sem limites, a não ser tu mesmo. Sem contingências, a não ser as que construas.

Estarei aqui. A teu lado

Contigo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Soneto despropositado....

"Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio"

Para quê as palavras? Diz lá, não são ridículas? Não são só palavras? Para que ando a gastar a minha vida com palavras destas... ridículas e absurdas? Não!! Não e Não! A minha vida não é isto! É viver isto! Escrever que se trocam beijos e gemidos não é trocar beijos e gemidos!

Vou tentar escrever o artigo!!... ainda hoje!

Tretas

Só falta vir para aqui desabafar e isto ter uma macacoa e não publicar. Talvez fosse melhor. Também não quero dizer nada de especial. São aqueles dias que se quer fazer tanto e coisas produtivas e acaba por não se fazer nada. Não é por não se ter recebido aquele beijo de manhã... é mal-estar... é o confronto do racional com o emocional. É não se ser aquilo que se gostava de ser, por vezes. É inquietude. É carência. É... sei lá... tretas!

Vou mas é tentar continuar o artigo, que é o que devo fazer... (quantas vezes tenho de repetir isto para me auto-convencer?)

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Instruções... ou... "lá bem no fundo está a morte"...

PREÂMBULO ÀS INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO

Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente o relógio, muitos parabéns, que te

dure muitos e bons, é uma óptima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passeará contigo. Oferecem-te -- ignoram-no, é terrível ignorá-lo -- um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo, que tens de prender ao teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na rádio, o serviço telefónico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia ao chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior às outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio.


INSTRUÇÕES PARA DAR CORDA AO RELÓGIO


Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada."
Julio Cortázar
(por sugestão de uma leitora do post anterior)