terça-feira, 29 de maio de 2012

Porque a vida acontece hoje

Fiz uma loucura. (bem, talvez não seja uma loucura para muitas pessoas, mas para mim foi-o). Se quando não se tem nada a perder, e se tudo em nós diz: Faz!, não há porque não fazer. É aqui que começam os primeiros passos de uma mudança. Fazer em vez de ficar a sonhar com os 'ses', ou, no fundo, agarrada aos medos de nos expormos, de expor os nossos afectos ou aquilo que nos afecta.
Fiz!
Não sei o próximo passo.
Mal fiz, dei uma gargalhada para mim mesma (corei, claro) e senti que era isso, seja o que for a seguir, tinha de o fazer, seguir aquele impulso tão intenso, mas tão consciente, e ao mesmo tempo, ainda tão imprevisto, que me disse para fazer.
Fiz! Agi!
Imagem roubada daqui


and i feel good!...

terça-feira, 15 de maio de 2012

como naqueles dias...

como naqueles dias...
dias que chegam ao fim e se constata estar tudo está feito como 'il faut'. ou se conseguiu dar ordem e arrumação a uma panóplia de coisas para as quais tivemos de arranjar sentido ou categorizar. tarefa difícil para quem acha que tudo pode ter haver com tudo, ou que não há compartimentos na vida, no pensar, e especialmente no sentir.
mas há dias em que é preciso. olhar e sentir que as coisas estão no seu lugar. estão mesmo no seu lugar. porque as coisas têm um lugar, ou não? e nós, temos um lugar? e os outros têm um lugar em nós?
as palavras deixam de ter como significado o sentir, assumem-se no que verdadeiramente são, significantes, e por isso ajudam a destrinçar sentidos.
ou, como naqueles dias, em que as palavras deixam de fazer sentir, porque o sentir encontrou o seu lugar. já não anda disperso, envolto em palavras que o ajudem a encontrar sentidos ainda sem lugar. 
como naqueles dias, ao chegar o entardecer, se percebe claramente que esse dia está arrumado, terminado, e nem mesmo a noite que se adivinha já pertence a esse dia. a luz é outra e os olhos vêem melhor sem o brilho ofuscante.
aqueles dias, como naquele dia, em que o lugar ficou.
e eu, continuei os meus passos...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Na era da descartibilidade

Descartam-se trabalhadores e colaboradores
descarta-se lealdade e amizade
descartam-se filhos nos depósitos de infância
ou na casa do outro progenitor - queremos é gozar a liberdade
descartam-se pais velhos em túmbolas solitárias
descartam-se os animais quando o peluche lhes cai
descarta-se a vida nas corridas diárias em automóveis
descarta-se tempo nos passatempos
descarta-se o olhar no écran
descarta-se o silêncio nos fones
descartam-se palavras que ninguém quer ouvir
descarta-se a alma na pele sofrega de afecto/carência
descarta-se os corpos
descartam-se como lixo
descartam-se amores e namoros

viva o nosso prazerzinho... tudo o resto, paciência!

tango, dança da carne


Como se fuera hoy la primera vez!

domingo, 6 de maio de 2012

amar é sentir alguém nascer dentro de nós.
ou sentirmo-nos renascer em nós mesmos.

sob a lua das noites

No silêncio, já deitada, surgem-me recorrentemente frases que nunca escreverei. Surgem com uma fluidez que perdi algures - lembro-me de no início escrever, escrever, mesmo com as muitas reticências e hesitações que sempre tive.
As palavras e as frases começavam durante o dia a bailar na minha cabeça, as histórias também; e iam-se formando, delineando. Agora só à noite. Deitada. No silêncio. Por entre os lençóis brancos. Aconhegada pelo edredão e um saco térmico, ainda nestas noites frias de primavera adiada. Quantas noites após os rituais preparatórios, abro a cama, ajeito a almofada, coloco o saco térmico quentinho a meio, e deito-me. Às vezes pego no livro, outras aninho-me no meu ninho branco e quase de imediato o torno escuro desligando o interruptor. De qualquer das formas, as palavras surgem, ou misturando-se com a boa escrita do autor, suspendendo a leitura mas levando a palavra lida pelos caminhos por onde deambulo; ou apenas vindas dos meus dias, de outras horas, preenchem a minha solidão com as divagações que me habitam. Então escrevo frases ou mesmo páginas inteiras que se perderão no sono que sobrevirá. Páginas de pensamentos, de uma ou outra memória mais antiga, às vezes um nó na garganta que tento de imediato deslaçar numa profunda expiração, outras um sorriso pela lembrança, ou por se ver algo em que não se tinha reparado ou relacionado, outras enredando-me em labirintos. Vou discorrendo, sem prender, vou aonde o meu pensamento me leva - sim, já nem sei aonde estará um músculo irrigado de sange que nos faz pulsar -, deixo-me ir na certeza do esquecimento nocturno, mesmo se há uma ou outra noite em que o sono demorará mais a chegar. Muitas das minhas noites são assim, neste ritual silêncio cheio de palavras. 
Não são só outros vazios que habitam as minhas noites. Nas minhas noites já não há a terna presença da Bugy - companheira de tantos anos -, ela encostada a mim, aquecendo-me, e eu a ela. No outro dia, ou antes, noite, de repente um insight: constatando que nunca usei até maio o saco térmico, pois não sou assim tão friorenta, apercebi-me, por esta estranheza, da minha inconsciente tentativa de substituição do seu calor, por outro.
É algo que me aconchega, mesmo que ilusoriamente, ter um 'corpo', uma coisa quente junto a mim, por entre os lençóis brancos quando adormeço na escuridão do silêncio.

Há pouco fui abrir as vidraças do meu quarto - hoje para além do saco térmico, do edredão e daquelas conversas de silêncios, quero adormecer aconchegada; aconchegada aos reflexos de uma lua maior que entram pela minha janela.