sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio, Poemas de Deus e do Diabo


Sinto por onde vou. Não sei se é por ali, se por acolá... sei que é aqui. Aqui comigo.
Assolou-me este sentimento, ou consciencializei-o, quando vinha, talvez ontem ou anteontem, a caminho de casa, auto-rádio ligado, condução tranquila, seguindo estrada. O de uma segurança. Não só a segurança de um conduzir seguro, ou talvez isso seja um reflexo de todo um estar... mas vinha, com todas as certezas de ser eu, cada vez mais eu. Eu no mundo. Eu com o mundo. De ter o meu lugar, assumido por mim, e sobretudo, para mim, no mundo. A firmeza de ser, como pessoa, como mulher... face a múltiplas pessoas com que me vou cruzando. Ser feminina... em tudo o que isso pode significar... da doçura e da compreensão, mas também do estabelecer de limites, mais ou menos flexiveis. Do estar em inúmeras situações, de um modo confortável, porque há um sentir de integridade. Da assunção da solidão, nada mais que uma escolha de um viver solitário, porque basta! basta de concessões e confusões e ... ilusões.

Vou ter de ir ver a máquina da roupa que liguei ao chegar. Aproveitar enquanto não chove...

Enquanto não chove... Apenas nas coisas quotidianas, de trabalho, há um pouco mais de planeamento. Tudo o resto, quando acordo, abro os estores e olho para o céu. Quando caminho, não sei irei por ali, se por acolá... Sei apenas que, agora, é por aqui
em palavras,
em gestos,
em sorrisos,
em silêncios,
em olhares e escutas,
comigo, em mim.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

quando?
.
quando foi?
.
o sopro
que matou aquela chama?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ecos e ruídos

isto de escrever para/com os outros é por vezes complicado...
isto de viver com os outros é, ainda, mais complicado...

isto de sermos e estarem ali outros sendo, ou pretendendo ser, é um desafio. desafio a nós mesmos para não irmos na onda ruidosa que os outros criam para que correspondamos aos seus seres, ou às suas pretensões que são não-ser. cada vez mais ouço os ecos das frases de meu pai. eu que quis tanto - como sei que um dia ele também o sonhou - acreditar. não quis... simplesmente, acreditámos!
é preciso continuar a saber o que é importante. o que importa na vida do nosso ser. no continuar a estar, sem deixar de ser, mais ainda, somente sendo. fazendo e sendo. acção e essência.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam", foi o que afirmou o Cardeal Patriarca.

Eu iria um pouco mais longe:
Cautela com os amores. Pensem dez vezes em casar [ponto final], pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem vocês mesmos sabem onde é que acabam.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

o que (não) sou

A minha primeira reação foi uma quase gargalhada. O rir do absurdo. Como quando alguém que mal ou nada conhecemos nos diz um daqueles lugares comuns que não têm de facto a ver connosco. Mas tudo pode ter a ver connosco, afinal fazemos parte de um universo. - e as palavras correm lestas, como fruto de treinos que não tenho interrompido - dizia, um universo que tem a ver connosco, uma civilização, uma cultura em que crescemos. A culpa e o perdão... mesmo sem ser sequer baptizada... apenas numa frase quase desprovida de sentido quando empregada corriqueiramente...
Mas deixando esses significados um pouco de lado, pelo menos aqueles que têm um peso maioritariamente religioso... afinal, era tão só o efémero desejo de alguém que nos lê, e com quem, sem sabermos, comunicamos.
Contudo, a gargalhada ficou num 'quase'... porque num breve instante, viu-se em espelho: talvez devesse 'perdoar-me' o tempo e o espaço que dei demasiado a outros, pondo-me de lado, ao lado, num recolher em que tantas vezes não assumo explicitamente a minha expressão. Talvez devesse 'perdoar-me' o não querer uma visibilidade de um certo 'eu'. Talvez devesse 'perdoar-me', o sentir-me invadida por olhares alheios que consigo identificar. Talvez devesse apenas abrir-me e lançar-me e escorrer-me sobre o universo... sem mais, sem outros, sem... prés- e prós- e contras-...
Talvez devesse esquecer certa existência exterior quando o que importa é... sentir este rio numa urgência de lançar as suas águas no Mar.

epá, não têm mais que fazer que ler estas palavras absurdas?! Há muito mais vida lá fora... isto só sou eu!
De resto... pensem-nas e leiam-nas apenas como palavras que podiam ter sido escritos por vós... ou não... porque afinal, o vosso 'eu' nem existe fora deste lugar.

obrigada pela provocação, e pelo meu sorriso... até ao final.