sexta-feira, 30 de novembro de 2007

eco do silêncio

entro
dentro do silêncio

como uma câmpanula
como um ovo

(já escutaram os ecos do silêncio?)

como um refúgio

como braços abertos
fechados em torno de mim

o silêncio
dentro de mim

este silêncio não é ausência
do que vem do exterior

pois se ouço

as ondas baterem levemente no cais
o ancinho varrendo folhas amarelas de outono
o comboio rolando nos carris
o pousar de gaivota na amurada
o esvoaçar das penas de um gaio azul
as vozes de homens que passam
o breve assobio de ave despercebida

este não é o silêncio da terra
que se move e agita
abafada pelo ronco de um automóvel

este é o silêncio do mundo
do mundo onde já só falo
com o eco deste silêncio

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

sobre o caminho das folhas de outono, escuto aqueles passos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

os dias passam e vou-me reencontrando ocasionalmente comigo.
nem no silêncio nem na multidão deixo de caminhar.
umas vezes reconheço-me e sorrio. noutras deparo-me e choro.
outras ainda confundo-me com as gentes que escuto e olho.
sou elas? porque não?

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Lugares

Há poucas coisas de que tenho saudades na minha vida. De pouco adiantaria ter, já que nada se repete, nada volta ao mesmo lugar, às mesmas circunstâncias. Há coisas que guardo no coração, coisas intocáveis, como um sorriso precisoso de um momento único, e nessa raridade está a essência em forma e razão. Há coisas de que tenho saudades mas não queriam que voltassem, paradoxalmente. Não serão então saudades, será outra palavra, outro sentimento qualquer.
É dos lugares que tenho mais saudades, dos lugares que percorri, que me percorreram. Lugares onde cresci, que me viram tornar-me mulher - chorar, rir e dançar -. Contam-se pelos dedos de uma mão esses lugares vividos - de vida -. Nem sempre quero lá estar, nem para sempre me ausentar. Lugares onde o estar se tornou ser. Este é um deles. Tão lugar como uma praia. ou uma ilha. nossa.
voltarei.