Pergunto-me: voltarei a ser capaz de intimidade? de entrar em intimidade? voltar?
volto a caminhar com as minhas palavras. ouvindo-as suavemente ao ritmo dos meus passos, como se cada passo fosse um pensamento.
surge-me aquela questão como uma necessidade, um desejo. condicional? um desejo que logo penso como rodeado de tantas condições, e contudo, sentido como um ânseio incondicional.
No fundo um desejo de voltar a amar. esse que pode estar nas minhas mãos. nas mãos quando os olhos encontram. quando o corpo deseja. o pensamento deseja o desejo. e o desejo é, simplesmente.
(interrompo. os passos páram. o pensamento pára. com um instrumento que só produz em movimento.)
o que fica? parado? um sentir de abandono? a quê? porquê? respostas já gastas, como se fossem verdadeiras. serão?
acredito. acredito em quê? senão num passo a seguir ao outro, num sorriso que tem de ser. porque viver é conseguir sorrir apesar de...
pesa-me por vezes sim, a vida não ser, por mais que um efémero, um dos sonhos que vivi, cá dentro. ainda sei sonhar? sonhar mais que um breve sorriso me permite? a tristeza dos sonhos que permanecem sonhos agarra-se a mim. nesses momentos, agarro com o coração a lágrima que envolve o próprio coração. embalo-a. com braços invisíveis, embalo-me, consolo e sorrio-lhe. embalo a tristeza dizendo-lhe baixinho: um dia, um dia... dizendo-lhe baixinho: talvez nunca, talvez nunca... dizendo-lhe baixinho: sente este abraço, sorri, sorri por este abraço. meu/teu. nosso. de pessoa só. única.
silêncio. onde se escuta. donde brotam devagar as palavras que me correspondem. sem ecos. mas também sem muros. ouvi-la-às um dia? deixa-me dizer-te uma única vez: gostava, gostava muito que alguma vez as ouvisses, que as amasses quase tanto como eu. que me amasses um dia. quero encontrar-te. quero, mesmo cheia de interrogações, dúvidas, incertezas e recuos. quero. talvez isso tudo caía de súbito ou lentamente por terra. quero. quero? quero-.....