quinta-feira, 28 de outubro de 2004

É fácil

dizer mal dos outros... ou pensar.
É fácil criticar negativamente, destrutivamente.
É fácil julgar a partir de meia dúzia de dados, de palavras, de 'imagens'.
É fácil o preconceito. Mesmo antes de pensar, sentir, já se sabe 'tudo'.
É fácil a dúvida. A dúvida que magoa. por ilegítima. por infundada.
É fácil considerar o outro como aparência.
É fácil ver os outros como nos vemos a nós próprios.

Difícil... é, por vezes, tão difícil estar com os outros de uma forma pura, dando-nos, abertamente. Recebendo-os como eles são. Tentando sentir o seu sentir mais profundo. Olhando-os como pares, como seres plenos de uma vida inteira, interior e exterior, sempre rica, sempre complexa, sempre sofrida, cada um à sua maneira. E, contudo, poderia ser tão fácil, tão simples... somos só... seres humanos...

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

fragilidades de vida


é na fragilidade que se encontra o encanto, mas também a dôr do efémero,
suporte de delicadeza, macia e forte
inconstante equilíbrio, uma gota que cai, ou secará? daqui a um instante já nada será assim. mesmo que aparentemente tudo permaneça. resta o deslumbramento em cada momento...

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Espera

Os minutos passam. Por vezes pára o ponteiro num determinado ponto do mostrador. Avança como avançam as horas, lentamente. Aqui e ali, uma mão, uma conversa fazem esquecer o relógio. Um sorriso, um abraço - sim, o teu - conseguem evolar-nos, dali. E desaparece a tensão, a preocupação diminui, por instantes. No teu enleio carinhoso, encontro um pouco a tranquilidade. Num olhar cúmplice. Companheiro. O corredor, os corredores, nem são tão impessoais assim. Nota-se gente. Gente que não é indiferente. Por breve olhar de compaixão. Por uma palavra, que até nem precisava de ser dita, mas ao ser pronunciada, torna diferente o invólucro, transforma em humano o que era só pele. Rodeada de dor silenciosa, de sofrimento evidente, apenas acalentado por esses gestos, por palavras pequenas, esquecemo-nos de nós. O que importa é o outro. Que está em risco. Cuja vida oscila num estreita linha. Para cá. Para lá. Nem se sabe de onde. Ou para onde. A mãe de alguém que espera. Ou o pai, irmão, irmã, mulher, homem, filho. Filho é condição universal de todos nós. Saímos sempre de alguém. De alguém por quem esperamos agora. Que sobreviva, para que, de certa forma, sobrevivamos também. Para que não morramos um pouco. Para que o nosso passado, a nossa infância não fique mais longe. Para que não fiquemos órfãos das nossas vivências. Os passos acompanham o ponteiro dos segundos. Param quando paramos. Avançam connosco. Apenas porque se sente amor.

domingo, 17 de outubro de 2004

Gosto de Ti.

Amar 'deveria' vir do sentimento de gostar.
Mas pode-se amar sem gostar.
Pode-se gostar sem amar.
Pode-se Gostar mais do que apenas gostar.
e divagando... há também...
o "gosto de ti" e o teu "gosto"... o gosto a Ti.

quarta-feira, 13 de outubro de 2004

nas mãos


repouso
se nada adviesse
seríamos nós
nas mãos
enlaçadas,
a tua
tão quente enleio
em toque embalo
forte traço a jasmim
inscreve-se na pele
atreve-se nos poros
evoca-se em corpo
pleno
quieto
sem rosto ou matéria
fechados os olhos esquecemos.
somente nas mãos.


escultura de August Rodin, La Cathedrale

sábado, 9 de outubro de 2004

Les amoreaux


Les Amoreaux de la Bastille, 1957
Willy Ronis


Uma bruma de Turner em Paris captada por um fotógrafo. O segredo, não importa qual, existe sempre entre amantes. a cumplicidade em tons de silêncio. ou de pequenas falas. segredos que se guardam em duas bocas. fechadas. entreabertas. uma para a outra. uma na outra, em beijos. no desejo fruído, ou às vezes, por cumprir. As ruas são apenas o cenário que os resguarda. Elas próprias plenas de amantes ocultos, ou pelo contrário, refúgios de mágoas e de ódios pequenos. Aparências cobertas por telhados e cúpulas. Da visibilidade à neblina. A proximidade. O quase invisível. Longínquos. A distância é a medida do observador. Não do observado. Onde estamos nós?

sexta-feira, 8 de outubro de 2004

Agradecimento ao Weblog.pt

Pela distinção, inesperada, que mereceu o post "Todos os possíveis da imaginação" editado neste Lugar.
E mesmo na incerteza de ser "o post do momento", compreensível face a tantas ocorrências e polémicas actuais - extra ou intra-blogosfera - deste início de Outubro, os responsáveis da Weblog - Luís Ene e Paulo Querido - resolveram destacá-lo...
Quem sabe se, porque por vezes, quando estamos face à sordidez, a incongruências, a tentativas de manipulação e de abuso, nada melhor do que nos refugiarmos em algo que nos proporcione alguma liberdade... criativa... Terá sido?

segunda-feira, 4 de outubro de 2004

contraponto


terra tenra, veludo. madura verde.
respiras. transpiras. cresces.
não te dói o peso das casas, das fábricas, do alcatrão?
não sufocas com o tanto que te tapa?


(a propósito de um olhar sobre montes repletos de casas, de civilização 'humana'.)

sábado, 2 de outubro de 2004

todos os possíveis da imaginação



Criando traços, formas efémeras
(clicando com o rato ou simplesmente divagando...)

"Imaginar é o princípio da criação. Nós imaginamos o que desejamos, queremos o que imaginamos e, finalmente, criamos aquilo que queremos"
Bernard Shaw